Páginas de magia e mistério

Por Marisa Loures

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Marisélia Souza, José Rebato Amorim e Luciane Fontes integram o grupo de autores do livro “De relógio a dragão “, cujas páginas são recheadas de prisão e poesia voltadas para a criançada – Foto Divulgação

José Renato Amorim, Luciane Fontes e Marisélia Souza. Um autor e duas autoras que fazem parte da cena literária de Juiz de Fora e que já têm prática na escrita de livros para crianças. Agora, eles se juntaram a outras doze vozes, de várias partes do Brasil, e, juntos, lançaram “De relógio a dragão (Adonis, 44 páginas), cuja organização é de Márcia Tomiyama e Andrea Kluge. Apresentada ao público da cidade na última quinta-feira, em evento na Autoria Casa de Cultura, a obra nasceu a partir de um curso de especialização em literatura infantil e juvenil. Ao todo, são 15 textos, entre prosa e poesia, ilustrados por Marina Dutra.

“Tivemos a oportunidade de refinar técnicas, conhecer novos conceitos e metodologias. O horizonte se abriu muito e a responsabilidade aumentou tremendamente. Afinal, produzir boa literatura para este público é um desafio. E não podemos negar que tivemos aulas com grandes nomes nacionais da literatura infantil, sob a coordenação da Doutora Cintia Barreto, que, gentilmente, fez quarta capa do livro. Professores que, além de uma vida acadêmica respeitada, produzem literatura infantil de alto padrão no Brasil e no exterior”, conta Amorim, destacando o que os escritores, e, agora, amigos, aprenderam com esse projeto construído a várias mãos.

“Aprendemos, sobretudo, o trabalho coletivo de opinar, questionar, compartilhar e aceitar ideias para o produto final, pois não é tarefa simples esse trabalho coletivo, com o agravante de os autores morarem em estados diferentes. Todas as ideias foram vistas e revistas e bem discutidas até alcançar unanimidade para a produção de um livro literário de qualidade.” Vale ressaltar que cada autor produziu de sua casa e que o contato entre eles era apenas virtual. “Alguns assuntos eram tratados via WhatsApp ou plataformas digitais. Em determinado momento, tivemos acesso a todos os textos e foi iniciado um processo de críticas e sugestões entre os autores. Na sequência, foi feito o contato com a editora para nova avaliação dos textos, produção das lindas ilustrações de Marina Dutra, diagramação, etc ”, comenta Luciane.

“De relógio a dragão” está disponível na Autoria (Rua Batista de Oliveira 931 – Granbery), na Galeria Secreta (Rua São Mateus 262 e Rua Braz Bernardino 199, loja 105) e no site da editora Adonis (www.editoraadonis.com.br). E, quem preferir, pode adquiri-lo diretamente com os escritores. Agora, nos planos dos 15 autores, está lançá-lo em outros lugares do país e apresentá-lo em feiras literárias e em escolas. “Aproveitamos este canal para nos colocar à disposição das diretoras e coordenadoras pedagógicas de Juiz de Fora e região com o fim de apresentar esse trabalho”, finaliza Marisélia.

– Marisa Loures – São 15 textos de autores diversos, de cidades diferentes. De certa forma, a origem e a formação de cada um desses escritores exerceram influência no resultado dos textos que foram produzidos? E qual é o elo entre as histórias contadas em prosa e poesia?

Marisélia Souza – O elo principal é a amizade criada entre os autores e a vontade de publicarem o livro juntos. Afinal, foram dois anos de comunhão, entre estudos, trabalhos, apresentações. A intenção do projeto foi manter a diversidade de gêneros, temáticas e estilos. Até a cor de cada texto é distinta para enfatizar essa característica da diversidade e pluralidade. O elo, portanto, é a amizade, bem como o amor e respeito ao público infantil.

– José Renato, no seu conto, Marcelo, um tubarão arrogante, superforte e corajoso, viu-se numa situação em que precisou contar com a ajudar de um simples peixinho. Queria que você comentasse o poder que a literatura infantil tem de trazer grandes aprendizados.

José Renato – As crianças estão sempre abertas para aquilo que é maravilhoso. Elas se identificam com esta literatura, pois tudo para elas pode ser real e encantado ao mesmo tempo. Embora o livro não tenha pretensões “didadizante”, ele abre possibilidade de aprendizado, considerando que a criança vive muitos dramas e dilemas. No caso específico deste conto, a analogia não é complexa. Qual criança não convive com o medo e ameaças em relação ao desconhecido ou ao mais forte? Qual criança não convive com o conflito diante da diferença e do novo? Ao conhecer os personagens dessa e outras histórias, ela acaba trabalhando, ainda que inconsistentemente, seus medos e aprendendo a lidar com eles. Tudo bem na linha do que ensinou Bruno Bettelheim no seu livro “A psicanálise dos contos de fada”. A literatura infantil é uma poderosíssima ferramenta de ensino e transformação.

– Marisélia, quando conversamos a respeito do lançamento de “Dante, o elefante comediante”, você me disse que é da opinião de que o livro tem que cativar e divertir. Eu me diverti muito com “A família dragão” e acredito que as crianças também vão se divertir com ela. Como professora, que estratégia de trabalho, em sala de aula, surge na sua mente quando você olha para esse texto que você escreveu? Pergunto isso porque sei que, para encantar o leitor, como você mesma já me disse que gosta de fazer, o segredo está na maneira como uma história é apresentada.

Marisélia Souza – A primeira estratégia para qualquer livro é realizar a leitura literária. Com ela, a criança tem o primeiro contato com o livro, as ilustrações, as letras, o cheiro … o “brinquedo ” nas mãos, sem qualquer “cobrança pedagógica”. Acredito, que para a criança, a princípio, o livro tem que ser um brinquedo e com ele fazer brincadeiras. Com o livro “De relógio a dragão”, a forma de apresentar a história, lançando mão de objetos alusivos como dragão, relógio, gatinho, dobraduras de peixe ,tubarão, pelúcia do polvo… com certeza, despertará o interesse das crianças. Brincar com a parlenda do toucinho, a receita, e quem sabe ir até para a cozinha fazer panquecas. Também afirmo que a forma de contar a história, ainda que sem objetos, se for bem preparada, com certeza, conquistará a criança e aguçará o desejo de ter o livro, com aquela história nas mãos. Quem não gosta de ler ou ouvir um boa história? E esse livro, além das histórias, traz a diversidade nas poesias.

– Luciane, você estreou na literatura infantil em 2020 com “A lupa mágica”. Depois veio “Biscoitos da amizade”. Você é psicóloga. Acredito que a psicologia influencia a sua literatura. Estou certa? De que forma? E você volta a tocar na relação entre os seres humanos e os animais. O que você quis provocar no leitor com “O destino de Serafina”?

Luciane Fontes – No final de 2022, lancei “Abaixo a monotonice!”, cujo protagonista é um cachorro chamado Nick. Tive contato muito próximo com animais na minha infância e, há sete anos, tenho um cachorro — Nick— com o qual estabeleci uma relação de muito afeto. A partir daí, passei a me sensibilizar mais com o convívio dos humanos com os animais, e essa história de Serafina partiu de uma situação que aconteceu na minha família. Vi-me envolvida nessa situação e achei que podia virar uma história. É a mente do escritor. Tudo vira motivo para escrever. E onde entra a psicologia? Talvez tudo tenha começado bem antes. A criança que fui, sempre afoita pela busca de conhecimento, me levou para a psicologia e para a escrita. A primeira, na busca de compreender os meandros da mente humana, a segunda, buscando produzir algo com tudo o que aprendo não só com os textos, mas com as pessoas, os animais, a vida.

“De relógio a dragão”

Organizadoras: Márcia Tomiyama e Andrea Kluge.

Autores: Alessandra Nogueira de Oliveira, Ana Cecília Porto, Andreia Reis, Fátima Pereira, José Renato Amorim, Luciane Fontes, Márcia Dias, Márcia Tomiyama, Maria Elaine Altoe, Marisélia Souza, Martha Maria Gomes, Mônica Anjos, Simoni Ruggiero , Tânia Márcia Tomaszewski, Vívian Reis

Ilustradora: Marina Dutra

Editora: Adonis, 44 páginas

 

 

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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