
O mercado global de criptomoedas está vivendo um momento de contrastes. Enquanto diversos países registram altas saídas de capitais dos fundos de criptoativos, o Brasil segue uma trajetória inversa, apresentando um aumento de investimentos.
Segundo um relatório da gestora CoinShares, divulgado no início deste mês, o país recebeu aportes de aproximadamente US$ 1,4 milhão no período em que boa parte do mercado internacional recuou. Isso mostra o otimismo dos investidores brasileiros, mesmo em meio às turbulências macroeconômicas que afetam grande parte do cenário global.
Parte desse interesse em ativos digitais também está relacionada ao uso prático de criptomoedas em diferentes segmentos. Investidores e entusiastas veem na tecnologia blockchain tanto uma forma de pagamento conveniente quanto uma possibilidade de diversificação de ganhos.
Um exemplo disso é o crescimento da adoção cripto em plataformas de entretenimento e de e-commerce. Os cassinos com saques rápidos aproveitam a segurança reforçada para atrair os jogadores com um serviço ágil. Sites de compras usam as baixas taxas para permitir transações internacionais simples.
Mas isso é apenas o começo, já que o mercado cripto brasileiro tem muito a oferecer e se diferencia do resto do mundo. Muitos fatores explicam a resiliência do mercado nacional e como isso afeta o futuro dos criptoativos por aqui.
A ‘fuga’ de capitais e o Brasil na contramão
O relatório da CoinShares mostra que o movimento de retirada de capitais em fundos de criptomoedas foi particularmente forte nos Estados Unidos, que registraram uma saída superior a US$ 200 milhões. Em outros mercados, como o europeu, a cautela também se evidenciou, influenciada por incertezas econômicas, decisões de política monetária e temores de recessão global.
Além disso, a volatilidade típica do mercado de criptomoedas piorou quando governos de grandes potências anunciaram novas medidas protecionistas. Conforme o relatório, as políticas do governo norte-americano reforçaram o ambiente tenso, que resultou na saída de mais de US$ 240 milhões dos fundos de cripto em diversos países, reforçando uma “onda de fuga” que não se refletiu no Brasil.
O Bitcoin (BTC), principal criptomoeda em valor de mercado, concentrou a maior parte das saídas. A “moeda digital pioneira” viu um volume de retiradas de aproximadamente US$ 207 milhões. Altcoins como Ethereum (ETH), Solana (SOL) e Sui (SUI) também enfrentaram dificuldades, indicando que a cautela não está restrita a um único ativo.
No mesmo período em que os EUA se mostraram mais temerosos, o Brasil foi o segundo país que mais alocou recursos em criptomoedas, com cerca de US$ 1,4 milhão investidos em uma única semana. Esse valor só foi superado pelo Canadá, que liderou com US$ 4,8 milhões em aportes.
Mas a que se deve a confiança brasileira? Existe um aspecto cultural, já que os investidores brasileiros, ao longo das últimas décadas, passaram por diferentes cenários de inflação e pacotes econômicos, desenvolvendo uma disposição maior para buscar oportunidades alternativas de rendimento.
Mas há também o debate regulatório em torno das criptomoedas que tem avançado no país, trazendo uma sensação de maior segurança jurídica para quem deseja negociar ativos digitais. Outro fator importante é o perfil cada vez mais jovem e conectado de grande parte dos investidores.
A familiaridade do público brasileiro com transações digitais, reforçada pela popularização do Pix e de carteiras virtuais, faz com que as criptomoedas não pareçam tão distantes do dia a dia. Por fim, há o interesse de grandes empresas do setor de pagamentos e varejo em abraçar soluções em blockchain, ampliando a legitimidade do mercado.
Dados atualizados sobre o mercado brasileiro
De acordo com o relatório de 2024 da empresa de análise Chainalysis, o Brasil ocupava o sétimo lugar no ranking mundial de adoção de criptomoedas. Nesse ano, apesar das oscilações de preço, o número de novas contas em corretoras de cripto nacionais seguiu crescendo.
Já segundo o Banco Central do Brasil, a compra de criptoativos por pessoas físicas tem sido monitorada a partir de declarações de capitais brasileiros no exterior. Os números apontam que, em janeiro de 2024, o volume declarado de investimentos em cripto superou a marca de US$ 6 bilhões, permanecendo em patamares altos ao longo do primeiro semestre do ano.
Ao mesmo tempo, uma pesquisa conduzida pela consultoria KPMG em parceria com a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) revelou que quase 40% das fintechs que atuam no Brasil já lidam de alguma forma com ativos digitais. Seja por meio de plataformas de pagamento, trocas de stablecoins ou emissão de tokens, as empresas de inovação veem as criptomoedas como ferramenta para expandir serviços e reduzir custos operacionais.
A expansão do mercado cripto no país conta também com a atuação de grandes companhias de tecnologia e do setor financeiro. Bancos tradicionais, após uma fase de ceticismo, passaram a desenvolver soluções de custódia de criptoativos e a oferecer serviços de compra e venda de moedas digitais.
Já as big techs, atentas ao potencial do mercado brasileiro, lançam ferramentas que facilitam a conversão de moedas fiduciárias em cripto. O desenvolvimento de projetos de tokens de ativos reais, como imóveis e commodities, é outro exemplo de como a tecnologia blockchain vem sendo explorada.
Em certos casos, a tokenização de imóveis permite que investidores adquiram frações de grandes empreendimentos, democratizando o acesso ao mercado imobiliário. Esse tipo de iniciativa também tende a atrair mais capital para o ecossistema cripto brasileiro, pois abre portas para parcerias internacionais.