Obra desenvolvida pelo educador brasileiro Paulo Freire, “Pedagogia da Autonomia” foi publicada em 1996 para trazer propostas de práticas pedagógicas voltadas para a construção da autonomia dos educandos. Desde o seu lançamento, “Pedagogia da Autonomia” tem sido uma referência para escolas e organizações, principalmente aquelas dedicadas à mobilização social por meio da educação, como a Casa Arte Vida, entidade carioca fundada pela filantropa Ana Carolina Affonso.
A seguir, estão mais detalhes sobre a pedagogia da autonomia e sobre instituições que a utilizam como modelo de educação social para formar alunos críticos e autônomos.
“Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire
O livro de Paulo Freire, publicado um ano antes do seu falecimento, é dividido em três grandes capítulos: não há docência sem discência, ensinar não é transferir conhecimento, e ensinar é uma especificidade humana.
Em cada um deles, o autor se debruça sobre a importância de tratar o processo de aprendizagem como uma construção e sobre como a educação deve englobar aspectos afetivos, curiosidade, criticidade e liberdade.
Formação de pessoas críticas e autônomas
Além de destacar a formação do educando como um agente ativo do aprendizado, em “Pedagogia da Autonomia” e obras semelhantes, Paulo Freire discute a importância de assegurar a formação e desenvolvimento do professor. Isso equipa o docente com as ferramentas para ensinar e ajudar o educando a desenvolver um senso crítico sobre o mundo.
“A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. […] Ninguém amadurece de repente, aos 25 anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade”, defende o autor.
O que é a Casa Arte Vida de Ana Carolina Affonso
A Casa Arte Vida (CAV) é uma instituição sem fins lucrativos, fundada por Ana Carolina Affonso, que atende jovens e famílias na região de Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, usando a educação para promover um futuro social e economicamente justo e sustentável.
Através dos seus programas de baixo custo e alto impacto, o projeto social de Ana Carolina Affonso mobiliza a comunidade local, promovendo o desenvolvimento social para a formação de indivíduos críticos e comprometidos com a comunidade e sociedade.
A CAV usa o modelo de educação social da pedagogia da autonomia e, ao mesmo tempo, se inspira no projeto da Escola da Ponte, em Portugal, que coloca os alunos como protagonistas no processo de aprendizagem.
Sobre Ana Carolina Affonso
Uma filantropa, artista e advogada brasileira, Ana Carolina Borges Torrealba Affonso trabalha com pintura em azulejos e cerâmica.
Em 2007, a artista criou a Casa Arte Vida para unir a sua paixão pelas artes à vontade de oferecer oportunidades para jovens em situação de vulnerabilidade através da educação. A organização criada por Ana Carolina Affonso, desde então, tem atuado para democratizar as oportunidades educacionais.
Aplicações do modelo de educação social
As instituições de ensino e organizações que visam educar para formar cidadãos críticos e autônomos podem aplicar algumas das propostas da pedagogia da autonomia, tanto no planejamento curricular, quanto na prática da sala de aula.
Dois exemplos de instituições que aplicam a educação para a autonomia são a Escola da Ponte, localizada em Portugal, e a Casa Arte Vida, sediada no Brasil e fundada por Ana Carolina Affonso.
Escola da Ponte
Uma iniciativa educacional inovadora, a Escola Básica da Ponte fica no distrito de Porto, em Portugal. Com o propósito de estimular a inclusão e cooperação entre os alunos, a instituição encoraja a sua participação e intencionalidade em conjunto com os orientadores educativos e com a família, seja no processo de aprendizagem, no planejamento das atividades ou nas avaliações.
Além de refletir as ideias pedagógicas do francês Célestin Freinet, a Escola da Ponte segue o pensamento apresentado por Paulo Freire ao fomentar a liberdade responsável, autonomia e solidariedade, trabalhando as competências e habilidades socioemocionais dos alunos.
Casa Arte Vida
Com atividades multidisciplinares para crianças e adolescentes no contraturno escolar, a Casa Arte Vida de Ana Carolina Affonso é outro exemplo de instituição que usa a pedagogia da autonomia como inspiração.
Para estimular a independência dos jovens atendidos, a CAV implementa programas voltados para diferentes faixas etárias e interesses. Esses programas abrangem tanto o campo das artes, como dança e artes plásticas, quanto a área da tecnologia, incluindo robótica e matemática. Além disso, muitos dos projetos da CAV focam em temáticas como o empreendedorismo, desenvolvimento de múltiplas habilidades e pesquisa e desenvolvimento.
Assim como na Escola da Ponte, as famílias das crianças e jovens atendidos pela CAV participam diretamente do processo de aprendizado através de um programa de promoção familiar. Dessa forma, a instituição sem fins lucrativos promove uma maior integração do aluno à comunidade onde se insere.
Outras metodologias adotadas pela Casa Arte Vida
Os projetos da Casa Arte Vida usam metodologias nas quais os alunos têm um papel ativo no aprendizado, como a metodologia STEAM e a teoria de múltiplas inteligências. Essas metodologias estimulam a curiosidade e a investigação dos alunos, um tópico bastante abordado pelo autor de “Pedagogia da Autonomia”.
“No fundo, o educador que respeita a leitura de mundo do educando reconhece a historicidade do saber, o caráter histórico da curiosidade, por isso mesmo, recusando a arrogância cientificista, assume a humildade crítica, própria da posição verdadeiramente científica”, escreve Paulo Freire.
Metodologia STEAM
Um dos pilares do processo educativo da CAV é a metodologia STEAM (acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática). Participantes dos projetos STEAM da CAV vivenciam o pensamento científico por meio de atividades e brincadeiras guiadas por um professor.
O docente, muito como o que é aplicado na Escola da Ponte, toma um papel de mentor que auxilia os participantes durante o processo até a solução do problema proposto. O aprendizado ainda é compartilhado entre os participantes, que aprendem com os seus erros e desenvolvem habilidades relacionadas à criatividade, imaginação, pensamento crítico e adaptabilidade.
Teoria de múltiplas inteligências
O alinhamento da CAV com a teoria de múltiplas inteligências promove a educação inclusiva na organização, permitindo que jovens com diferentes aptidões desenvolvam habilidades como inovação, pensamento crítico e autonomia.
As atividades e projetos ofertados pela CAV têm caráter interdisciplinar e atendem a diversos tipos de inteligência, não apenas às tradicionalmente desenvolvidas pela escola, como a lógico-matemática e linguística.
Impacto da Casa Arte Vida de Ana Carolina Affonso
A partir dos programas e iniciativas pautadas na pedagogia da autonomia, a CAV trabalha para viabilizar a mudança social e melhorar o futuro de jovens e crianças cariocas.
Desde a sua fundação, em 2007, a organização vem recebendo prêmios e reconhecimento como uma das melhores ONGs do Brasil, pela formação de jovens em situação de vulnerabilidade e pelo seu papel alinhado aos os objetivos do desenvolvimento sustentável para o milênio (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
