Bastou a oficialização de Ricardo Lewandowski à sucessão de Flávio Dino no Ministério da Justiça que já circulam na rede, à velocidade da luz, postagens (e até editoriais) igualando este movimento ao que conduziu Sérgio Moro ao Ministério da Justiça no apagar das luzes daquele 2018. Sérgio Moro, em sua própria rede social, endossa a modinha: “Fica então entendido que aceitar cargo em Ministério não é e nunca deveria ter sido causa de suspeição”.
Acreditar na equiparação entre os dois movimentos só pode resultar de um convicto ato de fé (cega pelas pulsões ideológicas) ou de um estado crítico de desinformação, tudo isso somado a uma perniciosa redução de complexidades, capaz de admitir o voo de uma bicicleta e de um avião pelo fato de ambos serem meios de transporte.
Alguns questionamentos, entretanto, talvez ajudem a perceber que bicicletas não decolam e que nada há de similar entre Moro e Lewandowski.
Ricardo Lewandowski atuou, enquanto juiz, de forma a beneficiar decisivamente o presidente eleito (que o nomeou) em detrimento de seu rival na corrida eleitoral? Divulgou, às vésperas do primeiro turno das eleições de 2022, alguma delação envolvendo o principal adversário do presidente eleito? Lewandowski determinou a prisão da Jair Bolsonaro a partir de um processo maculado pelos vícios de sua própria incompetência e parcialidade (sendo que essa prisão o impediria de disputar as eleições)? Determinou que fossem grampeados ilegalmente os advogados do antagonista político de Lula?
Avancemos: Ricardo Lewandowski foi responsável, na condição de ministro do STF, pela operação que culminou na prisão do mais destacado adversário político do presidente que o nomeou? Como chefe dessa operação (lembre-se que a Vaza Jato nos evidenciou que Sérgio Moro era o ‘chefe’ da Lava Jato), Ricardo Lewandowski ditava proativamente o ritmo das fases das investigações, como uma espécie de maestro da PF e do MPF (alvo evidentemente vedado a um juiz)? Agia deliberadamente para cercear o exercício das defesas dos investigados e acusados? Impôs centenas de prisões preventivas como forma de coagir delatores? Lewandowski determinou a condução coercitiva ilegal de inúmeros investigados, entre eles Jair Bolsonaro, candidato em 2022? Lewandowski se imiscuía nas atividades instrutórias nessa operação, chegando a sugerir testemunhas e estratégias probatórias à acusação – tudo isso em desfavor, inclusive, do opositor político do presidente que o convidou?
Se a resposta a todos esses questionamentos for negativa, isso está a demonstrar o quão falsa é a equiparação entre a chegada de Moro e Lewandowski ao Ministério da Justiça. Bicicleta não voa.
Sérgio Moro se põe em obcecada busca por fatos que, após distorção retórica (visível e risível), poderiam redimir sua indecente suspeição à frente da Lava Jato e sua clara intrusão no processo político de 2018.
O tribunal da história, entretanto, seguirá lhe pesando sobre os ombros.