
O MEI tem sido a porta de entrada para muitas mulheres que desejam empreender de maneira prática e descomplicada. No entanto, com as mudanças que se desenham no cenário tributário brasileiro, manter-se apenas nesse modelo pode, em breve, deixar de ser vantajoso — e até se tornar um entrave ao crescimento. Quem traz esse alerta é a contadora Patrice Silva, que estará no próximo encontro do grupo Só Delas para provocar uma reflexão essencial: você está se preparando para crescer?
Segundo Patrice, o olhar da contadora vai além da regularização básica do MEI. “Claro que é importante manter tudo em dia, pagar a contribuição mensal, emitir nota fiscal. Mas o que eu trago é uma visão mais consultiva. A ideia é orientar essas empreendedoras a se organizarem desde já para um crescimento sustentável. A reforma tributária está chegando, e quem não se preparar pode perder oportunidades importantes”, explica.
Reforma tributária: um divisor de águas
A reforma, que será implementada de forma gradual, trará novas regras para a concessão de créditos tributários. Isso significa que empresas maiores, ao comprar de fornecedores, só poderão aproveitar créditos fiscais se o fornecedor estiver em um regime que permita isso — o que não é o caso do MEI. “Com isso, muitas empresas deixarão de comprar de MEIs, o que impacta diretamente quem hoje tem esse modelo como base do seu negócio”, aponta Patrice.
Além disso, a obrigatoriedade da emissão de nota fiscal pelo MEI, que entrou em validade a partir de 1º de abril, acende mais um alerta. “Vai ser para todos, independente de valor. E com a tecnologia atual, o cruzamento de dados pela Receita Federal ficou muito mais rigoroso. É importante separar conta pessoal de conta da empresa e organizar a movimentação financeira”, orienta.

Outro erro comum cometido por muitos MEIs (Microempreendedores Individuais) é achar que, ao faturar até R$ 81 mil, não precisam fazer a declaração de Imposto de Renda de pessoa física. No entanto, isso não é totalmente verdade. O MEI tem isenção do Imposto de Renda, mas apenas dentro de uma margem de presunção de lucro estabelecida pelo governo, que pode ser de 8% ou 32%, dependendo da atividade da empresa.
Isso significa que, se o faturamento do MEI ultrapassar esse percentual, a parte excedente será tributada. Por exemplo, se o faturamento anual for de R$ 81 mil, a isenção se aplica apenas sobre a margem de presunção, ou seja, 8% ou 32% do valor. O restante, que ultrapassar esse limite de presunção, se torna rendimento tributável e deve ser incluído na declaração de Imposto de Renda da pessoa física.
Vale ressaltar que, se o total de rendimentos tributáveis ultrapassar R$ 33.888,00, a pessoa precisará declarar o Imposto de Renda e pagar a tributação sobre esse valor adicional. Portanto, o MEI deve ficar atento a esses detalhes, pois um erro na classificação dos rendimentos pode gerar problemas futuros com o fisco.
Aposentadoria: o que o MEI não te conta
Outro ponto pouco debatido é a contribuição previdenciária. Patrice lembra que o MEI garante apenas aposentadoria por idade. “Muita gente acha que está contribuindo ‘normalmente’, mas quem já teve anos de CLT, por exemplo, pode estar perdendo a chance de se aposentar por tempo de contribuição. Neste caso, vale complementar com outra contribuição além da do MEI.”
Crescimento exige planejamento
Para Patrice, considerar a mudança de regime tributário vai além da vontade de crescer; o planejamento é a chave. “É essencial entender o custo real do seu produto e o retorno do investimento. Muitas vezes, a empreendedora acredita que está tendo 100% de lucro, mas não leva em conta despesas como tempo de trabalho, luz, aluguel e impostos”, alerta.
É preciso avaliar: o investimento está trazendo o retorno esperado? Qual é a sua projeção de crescimento? Se aumentar suas vendas, quantas unidades a mais você precisará vender para atingir o ponto de equilíbrio e, a partir daí, gerar lucro?

“Conhecer bem o seu negócio, especialmente a parte financeira, é essencial. O financeiro da sua empresa precisa ser estruturado, organizado e acompanhado de perto. Saber onde você quer chegar e entender o custo do seu negócio são passos fundamentais para o sucesso. Muitas empresas fecham, mesmo com movimento, justamente porque não têm um controle financeiro adequado”, orienta Patrice.
Para ela, todo esse processo deve ser sustentado por um planejamento financeiro sólido. “É crucial ter clareza sobre os números, entender sua margem real de lucro, controlar entradas e saídas, e fazer projeções de crescimento. Somente assim é possível determinar se a mudança de regime tributário será vantajosa ou se pode prejudicar a saúde financeira da empresa.”
E completa: “Se a pessoa quer continuar pequena, tudo bem, o MEI pode ser suficiente. Mas se ela quer participar de licitações, expandir o faturamento, cobrar mais pelo seu trabalho e ser mais competitiva no mercado, precisa se preparar desde já para essa mudança.”
A fala de Patrice traz à tona uma verdade que poucas capacitações abordam: crescer custa — e exige escolhas conscientes. Abrir um MEI pode ser simples, mas conduzir um negócio até sua maturidade exige planejamento, conhecimento e, acima de tudo, visão de futuro.
“Se você diz que não quer pagar mais imposto, também está dizendo que não quer crescer. E tudo bem, desde que isso seja uma escolha, e não uma limitação por falta de informação”, finaliza.
Patrice estará no evento do Grupo de Empreendedorismo Feminino Só Delas, dia 29/04 às 18h30, no ACBEU, para falar sobre esse tema. O evento é gratuito e para participar é só reservar sua vaga aqui.
Conheça mais em: @patricesilvacontadora e @sodelasjf.