Financiamento verde: o desafio de capitalizar a Floresta em Pé

Por Henrique Gonçalves dos Santos; Rhuan Carlos Silva Souza; Andressa de Souza Manso; Everton Emanuel Lima e Silva, André Takano e Weslem Rodrigues Faria

Transformando a floresta em pé (TFFF) é uma abordagem econômica associada ao desenvolvimento sustentável. A ideia básica dessa abordagem é transformar a preservação em ativo financeiro, visando a combater o desmatamento, fomentar o desenvolvimento socioeconômico local e promover a cooperação entre proteção ambiental e crescimento econômico.

O mecanismo mira 74 países em desenvolvimento com florestas tropicais, somando mais de 1 bilhão de hectares. O objetivo é levantar US$ 125 bilhões para formar uma espécie de fundo patrimonial global a ser investido principalmente em títulos de países e empresas. A meta é que o rendimento dessa carteira seja uma compensação para os países que mantiverem o desmatamento abaixo de 0,5%, na lógica de “quem conserva recebe”. As florestas elegíveis receberiam cerca de US$ 4 por hectare preservado (ajustados pela inflação dos EUA), recursos que alimentariam políticas públicas nacionais.

A proposta prevê que 80% desse capital venha do mercado de títulos, com prioridade no recebimento, e 20% de países soberanos e filantropias, que absorvem mais risco. Pelo desenho da TFFF, ao menos 20% dos repasses precisariam chegar diretamente a povos indígenas e comunidades locais, um reconhecimento de que são eles que, na prática, seguram a linha da conservação. Estimativas apontam que algo em torno de 65% de suas terras permaneceriam intactas no mundo.

Contudo, há contradições. A natureza do mecanismo implicaria em engessamento dos rendimentos para quitação do serviço da dívida, limitando os recursos para a atividade ambiental. Além disso, os ambientalistas criticam a lógica de precificação da natureza (remuneração por hectare preservado). Há, ainda, a exposição do recurso à volatilidade das finanças globais, risco que pode comprometer a iniciativa.

A TFFF surge como uma resposta ousada, traduzindo a preservação para a linguagem do mercado, a viabilidade do ativo financeiro. É um mecanismo economicamente sustentável, marcando a passagem da preservação de custo a investimento de longo prazo.

Em suma, a TFFF, com contradições, é um laboratório de finanças climáticas em escala. O capital privado e soberano começa a ver a floresta como ativo estratégico. O sucesso da TFFF dependerá de sua capacidade de ir além da simples precificação, garantindo que a estrutura financeira sirva ao propósito ambiental e social.

Conjuntura e Mercados

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