Fala Quem Sabe
O cinema e suas mudanças…
O “Dia Nacional do Cinema Brasileiro” foi comemorado no último dia 19.
Certo dia, alguém me perguntou: Será que o cinema acabou? Por um momento, não sabia o que responder. Milésimos de segundos depois, respondi: claro que não! Entretanto, tenho consciência de que aquela resposta não convenceu meu interlocutor, até porque ele próprio tinha toda uma argumentação segundo suas vivências e convicções pessoais, fundamentadas, sobretudo, na perspectiva do ‘streaming’ etc.
Iniciado o controverso, ficamos um bom tempo discutindo o óbvio. Argumentei que nada substitui assistir um filme numa sala de cinema; o quão importante à atividade cinematográfica foi (e continua sendo) para a vida das pessoas; o quanto o cinema brasileiro tem crescido – tanto em número de produções como em venda de ingressos – e como que a economia local é valorizada na medida em que possui uma política clara e objetiva de revitalização e manutenção das salas de cinema tanto nos centros urbanos como nos bairros.
Enfim, tudo o que nossa cidade não fez e não demonstrou em relação aos seus cinemas e, consequentemente, à sua própria identidade: a “Manchester de Minas”. Infelizmente, Juiz de Fora perdeu o bonde da história, uma vez que não preservou seu legado de ter sido a pioneira na exibição cinematográfica em Minas; não valorizou seu maior ícone de produção (João Gonçalves Carriço); não conseguiu preservar em atividade suas maiores referências de cinemas de rua: o Cine Excelsior e o Palace.
Enfim, não consigo vislumbrar nenhuma comemoração para o dia festivo. Embora restrito aos shoppings e às telinhas dos ‘mobiles’ e TVs, o cinema de Juiz de Fora não acabou. Ele vive em cada um de nós, expandindo-se para outras cidades mundo afora. Meu interlocutor não acordou para isso, pois só enxerga sua própria Netflix.
(Franco Groia é cineasta, professor e leitor convidado)