Fala Quem Sabe
O teatro que me fez e me salva
Tão difícil é falar em cultura em nosso país hoje. Se outras pessoas pudessem ser tocadas como eu fui pelo teatro, não tenho dúvidas de que nosso cotidiano teria paisagens infinitamente mais belas. Falo isso, porque meu encontro com o teatro foi definitivo. Não só na minha vida profissional, como professora na Faculdade de Comunicação da UFJF, mas no meu desenvolvimento pessoal e, diria até, espiritual. Um encontro de vida para mim, que tive como mentores intelectuais José Luiz e Malu Ribeiro. Fazer parte do Grupo Divulgação foi uma senha que me abriu todas as portas.
No teatro aprendemos sobre poesia, sobre as nuances da palavra, sobre as possibilidades do corpo, sobre dores e sobre risos, sobre vida e morte, sobre perdas e ganhos, sobre todos os tons das emoções, sobre conviver, sobre respeitar o espaço do outro, sobre pedir perdão, sobre gratidão, sobre abraço, sobre dividir o pão, sobre administrar o orgulho e o ego, sobre querer aprender sempre, sobre se doar.
O teatro provoca na gente um sentimento único de presença. No palco, diante do público, alguma coisa se processa enquanto o coração dispara, o estômago estremece, o cérebro entra em pane, mas a gente permanece vibrante, com a aura iluminada e pulsante. E há que se fazer aqui uma reverência ao espectador que testemunha esse momento mágico, porque é o espectador que torna tudo possível e é para ele que trabalhamos, para tocar sua mente e seu coração. E sabermos que, juntos, somos passageiros, mas estamos vivos.
O teatro não anda muito bem das pernas… Se o palco reflete a vida, o que temos visto não nos agrada. Mas, por outro lado, diante da estupidez e da brutalidade dos tempos atuais, em que estamos embriagados pelos prazeres da mídia digital e suas redes antissociais, o teatro, em seu primitivismo, ainda é um espaço de humanidade possível. Como diz Ariane Mnouchkine, a cultura deveria ser uma preocupação da Saúde, da Educação, do Trabalho. Hoje, temos uma Secretaria que timidamente tenta ganhar voz. Quanto mais rebaixada a cultura, mais baixo é o mergulho na nossa miséria. Como os bobos da corte, continuamos denunciando os males do tempo; como Cassandra, continuamos gritando verdades que poucos ouvem, mas que nos fazem cumprir uma missão! O teatro salva. Me salva!
(Márcia Falabella é professora da UFJF, atriz do Grupo Divulgação e leitora convidada)
Eles Acontecem