Fala Quem Sabe: Olha o São João! É mentira!

Por Cesar Romero

Flavio Lins 140619Fala Quem Sabe

Olha o São João! É mentira!

Difícil acreditar que as tradicionais festas juninas, que fazem a alegria de crianças e adultos, não vão acontecer, pelo menos da forma como conhecíamos! Há mais de um ano, a quadrilha deu lugar à quarentena, empalideceu. E neste contexto, as grandes festas juninas, que em algumas regiões costumam se estender até setembro, esbarrando com a chegada da primavera, não aconteceram. Mas como a cultura popular sempre se reinventa, para aqueles que têm acesso ao universo digital, acontecem encontros virtuais com pessoas usando trajes típicos, consumindo pratos tradicionais, dançando quadrilha (a sós ou acompanhados, mesmo que do bichinho de estimação), na tentativa de experienciar o delicioso clima das festas de João, Antônio e Pedro.

Assim, apesar de notícias tristes chegando a todo instante, permanece o desejo de usufruir do espírito das festas de junho, mesmo que de forma tímida e particular. Afinal, quem não tem pelo menos uma doce lembrança desses encontros?! Agarrar-se a elas pode ser um bom programa. Mostras representativas das festas juninas, como as que o Forum da Cultura da UFJF realiza todos os anos, expondo peças do Museu de Cultura Popular, migraram temporariamente para as redes sociais, onde a audiência de um imenso público global prestigia, influencia e configura uma nova experiência. O corpo a corpo não foi e nem será substituído, pois a verve das festas populares se efetiva em presença, no encontro, nos corpos que se tocam, que compartilham um pé de moleque, uma dança, uma torcida pelo sucesso do outro na pescaria de quinquilharias ou no pau de sebo.

Entretanto, não podemos ignorar que outras sensibilidades estão sendo acionadas através das telas que passaram a mediar nossas relações, nossos afetos. Mesmo excludente, o gozo da festa mediado por telas poderá impactar para sempre a configuração das festas de João, Pedro e Antônio, cujas origens em festas pagãs de tempos imemoriais as mantiverem vivas, se adaptando aos tempos e às tecnologias que foram chegando. Mesmo sem fogueira, quentão ou quadrilha, as festas juninas podem aquecer um pouquinho nossas noites frias e de saudade, ainda que com apenas uma doce lembrança no coração (ou na tela do celular).

(Flávio Lins é professor da UFJF e diretor do Forum da Cultura)

Cesar Romero

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