Relembrando Gisella

Por Cesar Romero

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A notícia triste dos últimos dias foi a morte, no Rio, de Gisella Amaral (78 anos), mulher do empresário Ricardo Amaral e um dos maiores ícones de elegância da sociedade brasileira.

Conheci Gisella e Ricardo por intermédio do saudoso amigo Fernando Zerlottini, em pleno verão de 1983, estreando na famosa “Feijoada do Amaral”, no Hippopotamus. Editor da Coluna Carlos Swaan, em “O Globo”, Zerlottini marcou época como prestigiado jornalista mineiro no Rio e era amigo querido do casal.

A partir daí comecei a admirar aquela mulher ‘chic’, com presença marcante nas festas, que por vários anos ajudou a impulsionar os empreendimentos do marido. Paralelamente, Gisella também evidenciava sua devoção católica, generosidade e o envolvimento com causas sociais, chegando a trabalhar em prol de 39 entidades. Em 2013, por conta de seu apoio à  Jornada Mundial da Juventude, Gisella não pode acompanhar Ricardo Amaral na Feijoada CR, no La Rocca, onde chegou acompanhado dos amigos Cláudio Domênico e Ancelmo Góis.

Em janeiro do ano seguinte tive o prazer de estar com Gisella e Ricardo, durante um agradabilíssimo final de semana, em Búzios (RJ), hospedado na casa de Adriana e Cláudio Domênico, na Praia de Manguinhos. Gisella, mais uma vez, encantou a todos com seus papos e quando viu o por do sol, se concentrou ( entre duas floridas árvores) para um momento de intensa meditação, clicado por este colunista.

Em 2017, Gisella e Ricardo Amaral aceitaram um novo convite para, ao lado de Omar Peres, curtir a feijoada desta coluna. Mas, ela entrou em um novo tratamento contra o câncer, diagnosticado pela primeira vez em 2003, impedindo a presença do casal. Como definiu a amiga Tânia Caldas, “Gisella segurou lindamente a doença, nunca escondeu nada de ninguém, nem ficou se lamentando. Manteve-se sempre para cima”.

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Com a tesoura na mão há quase sete décadas

Costumo dizer que “o cabelo é a moldura do rosto” e, como tal, ele tem por finalidade valorizar a pintura que nele se encontra.

Quando as pessoas ouvem que já sou cabeleireiro há 68 anos, a primeira coisa que passa pela cabeça delas é a surpresa. Afinal de contas, eu cresci e amadureci com uma tesoura na mão. O que elas não sabem é que, na verdade, o tão famoso ofício da maneira que é hoje não existia há algumas décadas: os barbeiros, muito mal valorizados como classe e profissão, eram aqueles que cortavam cabelos de homens. Já as mulheres, que quase sempre estavam com seus filhos, cortavam seus cabelos com outras mulheres, porque as barbearias não eram consideradas ambientes femininos.

Minha história como cabeleireiro começa em 1951, quando vim de Catas Altas para Juiz de Fora, aos meus 18 anos de idade, procurar emprego para ajudar minha família. Comecei no pequeno Salão São Paulo, um dos poucos da cidade na época, e onde aprendi a profissão com o dono do lugar.

Dois anos depois, já um pouco mais maduro e experiente com a tesoura, montei, na Rua Batista de Oliveira, meu primeiro salão, com apenas três funcionários. Apesar de ser pequeno, o amor pelo meu trabalho e minha vontade de crescer me fizeram trabalhar duro para vencer na profissão.

A oportunidade para isso surgiu em 1960, com a desativação da garagem de caminhões do “Armazém Brasil”. Consegui a locação do lugar e o transformei no “Salão Walter”. A instalação era dividida em três ambientes: no primeiro havia a seção masculina; depois, a seção das crianças, onde a novidade eram as cadeiras em forma de carrinhos suspensos, que chamavam muito a atenção da meninada; e, por último, nos fundos do salão, a seção feminina, onde, propositalmente, as poltronas da sala de espera eram posicionadas de costas para o salão masculino, para que os homens não avistassem as clientes que ali estavam.

Me dá saudades lembrar dessa época, em que o salão reunia toda a sociedade juiz-forana. Todo mundo ia ao salão, para cortar cabelo, para levar algum amigo ou parente pela primeira vez, ou só para conversar e passar o tempo. E nesse vai e vem das pessoas, conheci um pouco da vida e história de cada um que por aquela porta entrava, dando conselhos e apoio a quem precisava e aprendendo ao ouvir os mais velhos. Eu via naquelas pessoas, as quais eu encontrava uma ou duas vezes por mês, não o rosto de cliente, mas sim o de um amigo, dos quais eu sabia de cor o nome, sobrenome, tristezas e alegrias.
Em 1981, a loja foi pedida e passei a ocupar a sobreloja da frente. Nessa mudança, uma nova montagem do salão foi feita. Desta vez com mais detalhes, cuidados e, felizmente, sem a preocupação de esconder as mulheres. É nessa mais nova versão que eu permaneço até hoje.

Com isso, se totalizam minhas quase sete décadas dedicadas à valorização da estética através dos cuidados com o cabelo.

Em 2012, foi decretado oficialmente o Dia Nacional do Cabeleireiro: 19 de janeiro. E olhando para trás, posso dizer que não fui apenas eu quem cresci com a profissão: eu também a vi dar seus primeiros passos, crescer e se tornar hoje a profissão que tanto amo e que me fez o homem que sou. Por isso, acredito que, de alguma forma, contribui em todo esse percurso dos cabeleireiros. Então, é com um imenso orgulho que eu parabenizo aqueles que dedicaram e dedicam as suas vidas a levar um pouco de beleza e, principalmente, felicidade, aos rostos das pessoas.

(Walter Assis é cabeleireiro e leitor convidado)

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Papo de Domingo

Abílio Moreira

Jiló com fígado, a dupla perfeita

Abílio Quintino Moreira veio do Piau, onde nasceu em 24 de agosto de 1945. Casado com Ângela Moreira Ribeiro é pai de duas filhas – Luciane e Tânia Mara – e tem dois netos – Raphaela e Pedro. Com aquele jeito simples do mineiro e uma disposição invejável, ele comanda o tradicional Bar do Abílio, na Rua Fonseca Hermes, ponto de encontro de várias gerações. Bicampeão do “Comida de Buteco”, o bar tem como uma de suas referências no cardápio, o jiló com tiras de fígado. Tudo é feito por ele em um fogão de quatro bocas que pilota, há meio século, com extrema competência.

CR- Como tudo começou?
– Fui para o Rio de Janeiro trabalhar em uma farmácia e precisei retornar a pedido dos meus pais. Assim teve inicio a Mercearia Colorado que se transformou no Bar do Abílio, onde estou há 50 anos.

– Símbolo de situação amarga, o jiló com fígado ganhou destaque entre os petiscos e valeu duas premiações no concurso Comida de Buteco…
– Dupla perfeita, foram feitos um para o outro como queijo com goiabada.

– São 50 anos atrás de um balcão e de frente para um fogão. É para poucos? Qual o segredo?
– Dedicação, determinação e muito apoio da minha esposa e realmente se adaptar a cada mudança. Hoje estou realizado porque tenho uma equipe excelente que transforma o bar num encontro de amigo e não apenas clientes.

-Como vê a presença das filhas no trabalho diário do bar?
– Um prazer tê-las ao meu lado, uma me dá apoio na contabilidade e a outra no bar. Tudo em família, tudo em casa.

-Além do jiló com fígado, quais são os outros petiscos mais pedidos
– Puro Sabor (carne seca com mandioca cozida na manteiga de garrafa com queijo Minas Padrão) que foi bi-campeão do Comida de Buteco, chouriço,traíra, tira vira, torresmo enfim um cardápio bem variado onde o freguês fica satisfeito “com tudo feito ao vivo e a cores”.

-Você ainda trabalha com anotações em papel. A tecnologia ainda não chegou ao bar…
– A tecnologia é sempre bem vinda. Hoje trabalho com cartão, coisa que antes não tinha, mas os pedidos e o fechamento de contas são feitos à mão mesmo sempre passando por mim e meu gerente ou minha filha. Uma equipe perfeita.

-Você já atendeu a, pelo menos, duas gerações de clientes. Há diferença dos mais novos para os mais antigos?
– Gerações bem diferentes com desejos e vontades iguais, querem sempre uma cerveja bem gelada e aquele tira gosto gostoso fresquinho na hora. É com muito prazer que hoje atendo o avô,o pai, o filho, o neto, o bisneto, enfim, um prazer imenso. Com estilos totalmente diferentes de uma geração para outra, mas o importante é que estou aí participando de um jeito bem especial na vida de todos.

-Algumas personalidades importantes que já passaram pelo bar…
-Muitos amigos como o ex-prefeito Tarcísio Delgado e seu filho, o deputado Júlio Delgado, professor Mauricio Falci, padre Vicente Zacaron, Márcio (Federal) de Paula, vereador Cido, Isauro Calais, Júlçio Gasparette e amigos da gastronomia como o nosso campeão ‘master chef’ Pablo e João Villas Boas, entre outros.

Ping Pong

Prato preferido: bife role recheado com bacon, batatas douradas cozidas e um arroz branquinho.

Estilo musical: jovem guarda

Cantor: o nosso ‘rei’ Roberto Carlos

Viagem inesquecível: conhecer o mar, em Cabo Frio

Sobremesa: pudim de leite condensado com calda

Grande político: Fernando Henrique Cardoso

Lazer: estar ao lado da minha família que tanto amo

Personalidade: John Lennon e Mandela

O que te dá prazer: o dia a dia com meus amigos e clientes no bar além da minha família claro.

Um momento mágico: os dois títulos do Comida de Buteco em 2011/12

Time: Todos

Família: um presente de Deus

Um sonho: Saúde perfeita sempre

Uma frase: Família, o alicerce de tudo na vida ….

 

 

 

 

Cesar Romero

Cesar Romero

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