Fala Quem Sabe

Por Cesar Romero

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‘Domus Itálica’ : Patrimônio bi-nacional

Tenho observado, ao longo das últimas semanas, a extraordinária mobilização da sociedade e da imprensa juiz-foranas a favor da preservação física e cultural da Casa D’Itália, com sede na Av. Rio Branco, como símbolo da importância que a cultura e o povo italiano têm não só em Minas Gerais, mas em todo o Brasil na formação da nacionalidade brasileira.

Com efeito, o Brasil é um exemplo raro de um país que começou como Estado em 1808 e se transformou em nação a partir do século XIX com uma importante participação de imigrantes estrangeiros. Além da multicelular participação de imigrantes da península ibérica (portugueses, sobretudo) e de mais de cinco milhões de escravos oriundos da África negra, o Brasil recebeu preciosa transfusão de sangue europeu, asiático e do médio oriente. Da Europa Ocidental recebemos imigrantes da Alemanha, da Itália, da Suíça, da Polônia. Da Europa Oriental e do Médio Oriente recebemos armênios, sírios e libaneses.

Mesmo com receio de provocar polêmicas, ouso dizer que a contribuição humana e cultural da Itália se sobressai sobre todas as outras contribuições não ibéricas. Na verdade, a contribuição italiana se sobressai sobre todas as outras etnias na América do Sul. Milhões de “oriundi” italianos habitam, desde o século XIX, o Brasil inteiro, a Argentina e o Uruguai, só para citar os três países sócios do Mercosul. Recordemo-nos de Giuseppe Garibaldi, herói dos dois mundos, caso único de separatista que paradoxalmente ajudou a formar a nacionalidade brasileira em território historicamente hispânico.

O Brasil industrial dá saltos importantes graças aos Matarazzo. Na pintura corre o sangue de Portinari e Anita Malfatti. No final do século XIX Juiz de Fora era a capital econômica e financeira de Minas Gerais. Juiz de Fora recebeu os Brandi, os Fillizola, os Falcci. Francisco Antônio Brandi era meu bisavô. Pioneiro no comércio e nos serviços públicos (eletricidade e transporte urbano) mereceu que uma rua da cidade, em São Mateus, leve o seu nome.

Murilo Mendes, grande literato juiz-forano foi por muitos anos adido cultural da Embaixada do Brasil em Roma Na mesma época, outro brasileiro, Redig de Campos, era nada mais nada menos do que o Conservador do Museu do Vaticano, joia da arte ocidental. Seria impossível, em poucas linhas, sintetizar toda a tessitura de intercâmbio físico, cultural e econômico que entrelaça as nacionalidades brasileira e italiana.

Posso afirmar, sem sombra de dúvida, que a Casa D’Itália em Juiz de Fora é um símbolo brilhante daquela complexa tessitura.

Espero que se confirme a boa notícia publicada nos jornais de que o governo italiano tenha desistido de levar a leilão a Casa D’Itália. O universalismo cultural italiano deve prevalecer sobre o localismo dos custos financeiros que hoje pesam sobre a instituição.

(José Botafogo Gonçalves é embaixador aposentado, ex-ministro da Indústria, Comércio e Turismo, membro oriundo da família Brandi e leitor convidado)

Cesar Romero

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