Fala Quem Sabe

Por Cesar Romero

Frederico Miana FALA QUEM SABE VALE ESSA 061119 enviada pelo Cesar Romero IMG 7124Eleições 2020: será que o brasileiro acordou?

Internacionalmente a última década vem sendo marcada por uma escalada da polarização no mundo ocidental entre defensores de posicionamentos políticos comumente denominados como de esquerda ou de direita. Esta taxionomia há tempos se mostra insuficiente para classificar a diversidade de pensamentos incluídos em cada categoria, como muito bem apresentado pelo filósofo Norberto Bobbio em 1994 em sua obra “Direita e Esquerda”, daí o surgimento de novas formas de classificação do posicionamento político, o Nolan Chart de David Nolan (1969) e a Horseshoe Theory de Jean-Pierre Faye (2002).

No Brasil o panorama político não é diferente. Desde a redemocratização no final dos anos 80, com as primeiras eleições diretas para Presidente em 1989, vivemos quase 30 anos sob a ótica da visão social-democrata de Estado, com a “esquerda” se alternando no poder com os governos FHC, Lula e Dilma, todos caracterizados pelo aumento do tamanho do Estado às custas da redução da liberdade dos indivíduos. O impeachment de 2016 e a eleição do governo Bolsonaro em 2018 são os efeitos mais claros de tal polarização, invertendo pela primeira vez o pêndulo político da “esquerda” para a “direita” desde a Constituição de 88.

Tais mudanças na visão de mundo, e especialmente na visão sobre qual tipo de Estado a população quer, geraram seus impactos também nas esferas estaduais, com diversos ‘outsiders’ ganhando eleições, com destaque para Minas Gerais, com o governador Romeu Zema sendo eleito por um partido liberal (NOVO) que nunca havia disputado eleições gerais, que não utiliza recursos públicos para se financiar e, principalmente, que defende a prevalência dos indivíduos sobre o Estado, e não o contrário.

Agora sem dúvida será a vez dos municípios sentirem os efeitos desta evolução e do potencial fim da velha forma de se fazer política, e talvez essa seja a mudança mais importante que a política brasileira poderá passar desde a redemocratização, dada a imensa capilaridade das eleições municipais. Todos nós vivemos nos municípios, e é aqui que sentimos o peso do Estado quando trabalhamos mais de 5 meses apenas para pagar nossa pesada carga tributária de mais de 40% PIB, ao passo que também é aqui no município que sentimos a completa ausência do Estado nas poucas áreas em que ele deveria efetivamente atuar: ruas sujas e esburacadas, escolas sem a mínima infraestrutura, hospitais sem medicamentos, criminosos atuando livremente à luz do dia.

A população brasileira, com a grande liberdade e instantaneidade gerada pelas novas formas de comunicação revolucionadas pelas mídias sociais, não aceita mais o mau uso dos recursos públicos (na verdade não existem recursos públicos, mas apenas recursos dos pagadores de impostos!) e muito menos aceita os privilégios de algumas castas de políticos corruptos e de algumas categorias de servidores públicos que ao longo desses 30 anos literalmente se apropriaram do Estado como se esse fosse uma máquina movida a dinheiro do povo com objetivo único de manter a engrenagem de privilégios girando sem se importar para que ela existe e qual resultado final ela deveria gerar.

Palavras como fim de privilégios, eficiência na gestão de recursos, meritocracia, concorrência, fim de regalias, fim de estabilidades, austeridade, privatizações, profissionalismo, foco no resultado e não nos meios, serão sem dúvida as palavras de ordem nas eleições municipais de 2020. A Velha Política, acostumada a usar e abusar do dinheiro dos pagadores de impostos (vide o famigerado fundão eleitoral de R$2 bi) e suas velhas práticas coronelistas de compra de votos (seja a compra direta no dia das eleições, com “capatazes” distribuindo notas de R$50 por voto, em especial nos bairros mais miseráveis, seja a compra indireta via promessa de cargos na máquina pública ou “ajuda” em troca de votos na forma de patrocínios, churrascos, camisas de times de bairro, sacos de cimento, tratamentos médicos, reformas de escadarias, etc…) são práticas quase seculares que o brasileiro a duras penas finalmente viu que apenas perpetuaram os piores tipos de políticos no poder, e que agora serão colocadas em cheque.

Juiz de Fora em especial precisa desta renovação, e renovação não significa apenas colocar novos nomes na Prefeitura, mas sim novas e modernas formas de pensar e gerir a coisa pública. Temos diversos problemas locais sérios a serem enfrentados: estagnação econômica, desemprego alto, zeladoria pública inexistente, serviços públicos ineficientes, previdência municipal com rombo de R$ 75 milhões/ano, infraestrutura de transporte e saneamento defasadas, educação e saúde em crise constante… estes são alguns dos resultados que os poucos grupos que se alternaram no poder na cidade e no país nos deixaram de legado (PMDB e PSDB governaram Juiz de Fora em 27 dos últimos 35 anos; e PSDB, PMDB e PT governaram o Brasil em 32 dos últimos 35 anos).

Será que o brasileiro acordou? As eleições municipais mostrarão se ainda estamos com os olhos no retrovisor (Manchester Mineira?!), agarrados na Velha Política, ou se finalmente deixaremos de ser o eterno país do futuro para com a Nova Política nos tornarmos uma nação mais livre, mais dinâmica e mais próspera (Silicon Valley Mineiro?!)!
As urnas em 2020 irão responder muitas destas perguntas e mostrar qual futuro nos espera…

(Frederico Miana é administrador, advogado e leitor convidado)

 

Cesar Romero

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