
Fala Quem Sabe
Museus para pessoas
Os desafios para os museus no século XXI não são mais uma questão de futuro. Eles estão postos e esperando soluções que cada vez mais exigem uma visão pautada em significativas mudanças por parte dos gestores e equipes. Uma delas é encantar novos públicos e garantir o interesse dos que foram consolidados ao longo do tempo. Não existe receita fácil, pois cada instituição tem suas próprias características, exigindo soluções personalizadas. Mas, de forma prioritária, devemos perguntar todos os dias:qual contribuição podemos oferecer a comunidade?
Ao longo de minha atuação profissional, seja na imprensa, seja na gestão de museus, dediquei-me a difundir e a valorizar o patrimônio cultural. Precisei rever parte de minhas convicções conservacionistas e perceber o público como prioridade. E, assim, entender de forma mais ampla que os museus são para as pessoas, muito além dos seus edifícios e suas coleções.
É preciso que tanto um quanto o outro estejam voltados para o visitante, especialmente para garantir a acessibilidade integral, frente a barreiras físicas, sensoriais e intelectuais, e o conforto, desde o acolhimento inicial até os discursos e as narrativas.
Outro ponto fundamental é a gestão, independente das fases de abundância ou de crises políticas e financeiras. Por isso, venho priorizando instrumentos de gestão fundamentais aos museus. Durante minha experiência à frente do Museu Mariano Procópio, criamos um fundo de apoio financeiro de caráter público, regulamentado e sancionado, assim como aprovamos regimento interno e plano museológico.
Aprendemos a construir estratégias e parcerias para viabilizar ações que os recursos públicos não provêm, visto a ausência de verbas para investimentos nos orçamentos e o fato de que os valores liberados são quase totalmente consumidos pelo pagamento de pessoal, tanto efetivo quanto terceirizado. Por isso, buscamos recursos em diferentes fontes externas e firmamos convênios por meio de projetos de extensão com outras instituições, como a UFJF, por exemplo, que continuam a garantir a execução de ações educativas e culturais com verbas do Ministério da Educação, capacitando e aproximando pessoas.
E concordo com Gilberto Gil, que diz: “gosto de todo e qualquer museu. E tenho especial apreço por aqueles que têm cheiro de vida e querem, por decisão de quem os alimenta, inundar a vida de mais vida; gosto dos museus que seguem se fazendo e refazendo”.
(Douglas Fasolato é ex-diretor do Museu Mariano Procópio, gestor da Casa da Marquesa de Santos, do comitê da Rede Brasileira de Jardins e Paisagens e leitor convidado)
Eles Acontecem