Fala Quem Sabe: Dia dos Pais
Na antiga Rádio Difusora, 1959, a tarefa de produzir a crônica do meio-dia definia-se por escala. Fiquei com a que coincidia com o Dia dos Pais. Conservo o texto amarelado, e vejo que as palavras daquele domingo se ajustam e se prestam ao que se tem a dizer agora; certamente ausentes muitos dos que estavam ligados ao rádio, e hoje repousam para sempre. Palavras são quase as mesmas, porque os sentimentos filiais mantêm o pudor de não conceder ao tempo capacidade para alterá-los na sua essência. Dizia então, para repetir agora, que até nos seus eventuais erros e tropeços os pais têm de ser respeitados.
Digo que o papel desbotado pode até ganhar nova e melhorada cor pelos filhos e netos, que persistem na mesma vocação profissional. Fazendo isso ou não, são a recompensa pelos suores e desafios impostos pela vida. O que desejarem acrescentar certamente o farão com maior brilho, mas, na essência, diriam que os pais que em 1959 viviam o temor de ver os filhos entregues às drogas, que assumiam a velocidade de uma epidemia, os do mundo conturbado de hoje só querem preservar os filhos da Covid-19, a peste avassaladora que é a preocupação deste domingo. Pais tais quais os de ontem, vidas inteiras em regime de plantão permanente, de olho nos filhos, estando eles nos berços, nas escolas, no trabalho. Não importa a idade que os distancia no tempo.
Mas, ainda que preocupados e inseguros, muito melhor é tê-los em volta para abraçá-los hoje. Estão presentes. O que é muito bom.
Sobre os pais nossos que não mais vivem, adotemos o lamento de Telêmaco, filho de Ulisses, na Odisseia de Homero: “Se aquilo que os mortais mais desejam pudesse ser conseguido num abrir e fechar de olhos, a primeira coisa que eu pediria aos deuses seria a volta de meu pai”.
(Wilson Cid é jornalista, leitor convidado e pai de Gustavo, Gisele e Alexandre)