O Cristo Boulevard nunca mais será o mesmo, com a atmosfera artística que incide sob seus domínios da cidade alta, trazendo a reverberação das ações expressivas da arte e cultura no RH Espaço Arte. O mérito é do empresário e empreendedor, Luiz Espada, no comando do espaço, com o suporte da gestão de um minucioso conselho, formado por expressivos nomes da arte. Em um cenário emblemático da cultura brasileira, os artistas pedem passagem e criam as obras com vivências, reproduzindo seu olhar subjetivo em um contexto social que perpetuará como um legado de suma relevância.
A galeria traz um projeto de iluminação especial em um amplo espaço bem ventilado cercado por jardins. Para o ano de 2025 que já bate à porta, o empresário adianta: “Estamos desenvolvendo novos projetos com novos produtos, criados por Adauto Venturi e Ronald Carvalho, que são do conselho, algo revolucionário para a 1ª exposição do ano, algo diferente que possa atrair o público” – sem falar qual a estratégia, apenas que seremos comunicados na hora certa.
O complexo RH é voltado para a saúde, emoções e valores culturais. Com a chegada da galeria, que é atualmente palco de exposições criativas, reunindo em suas mostras artistas locais e nomes relevantes de todo país, o RH Espaço Arte vem recebendo ilustres presenças, como do pintor Carlos Bracher, recentemente.
Atualmente, a coletiva “JF Arte 2024” reúne 15 artistas com traços singulares e obras distintas, em uma estética individual, apresentando trabalhos com técnicas variadas, como óleo sobre tela, acrílica sobre tela, pintura sobre relevo de madeira e ferro, nanquim sobre papel, frottages e assemblages, fotografias, cerâmicas e objetos em madeira.
Nomes como Adauto Venturi, Adriana Lopes, César Brandão, Eliardo França, Fabrício Carvalho, Fani Bracher, Gerson Guedes, Gilton Monteiro, Guilherme Melich, Henrique Lott, Ramon Brandão, Ricardo Cristofaro, Ronald Polito, Sérgio Neumann e Walter Sebastião consagram a mostra.
Pintura objeto
“Eu apresento dois trabalhos executados na linguagem da pintura objeto”, diz o artista Ricardo Cristófaro, fazendo uma referência aos trabalhos realizados a partir da linguagem da pintura, através de incisões, superposições, colocação e remoção de várias camadas de tinta e executadas em um hibridismo com objeto de madeira e inserções de colagens de placa de ferro oxidadas.
Os trabalhos trafegam nessa linha de indeterminação e uma forma distante de uma linguagem figurativa.
Fotografias: o luxo de luz e sombras
O artista Sérgio Neumann expõe duas obras com foco na fotografia: “Um trabalho que tem uma continuidade de um projeto que eu desenvolvi em 2012, para o Foto 12, que eram festivais de fotografias, que eu seleciono os objetos, folhas e vejo alguma coisa ali, então eu fotografo e refotografo até chegar em um ponto que quero”, explica.
As obras das fotografias parecem saltar sobre os olhos trazendo a perfeição da luz. Mas existe um segredo para a exatidão. “Quando iniciei a série minha preocupação é sempre a sombra, não é a luz, porque a sombra que vai provocar esse volume, essa textura”, revela.
A luz é para trazer a imagem para visão, o que causa a sensação de profundidade e de camadas são as sombras. “Então eu trabalho não fotografando a luz, eu fotografo as sombras”, fala extrovertido.
Arte, o resgate do abandono
“Olha, eu retrato muito, coisas que são características dos locais que foram abandonados, essa coisa do abandono, da coisa que já foi usada, descartada, da instalação industrial em desuso, no subentendido, que era um local de trabalho e que não é mais”, define o artista plástico Ramon Brandão, com traços seguros e firmes. Também autor de dois livros, “O garoto prodígio da geração 80” e “Arquitetura Neocolonial”.
Ele ainda explora em suas obras seguindo a realidade, mas com a criação do subjetivismo. “Locais que podem existir junto de minhas memórias, filmes, onde reproduzo aquela situação de abandono”, argumenta.
As suas obras expostas nesta mostra retratam uma confecção abandonada, usando essa espécie de memória como um arquétipo, mostrando um cenário. O artista também é cenógrafo, mais um talento.
Arte em JF
O cenário artístico de Juiz de Fora, mesmo com tantas obras em ascensão e novos artistas que são referências, ainda é carente de Galerias de Arte. O passado, que ainda ressoa próximo, pode servir de exemplo: houve o prelúdio de um frisson com a Capela Galeria de Arte, nos anos 80, onde hoje é o Edifício Stella Central, com espaço para exposição e pequenos eventos. Também conhecida, a Galeria “Arte Nossa”, movimentava a sociedade local com seus vernissages, na década de 80 e meados dos anos 90. Quem é quem, circulava por lá. O ponto máximo foi sua saída de São Mateus, para um amplo espaço do Shopping Rio Branco, arrojado para época, no comando de Sandra Pereira e a filha Clarisse. O saudoso Wilsinho Jabour, advogado e conhecedor de artes, adicionava seu carisma, com a presença nos eventos da galeria, que marcou uma época.
Para um presente do futuro, promissor, é claro, que venham os novos tempos, com o aquecimento do mercado local e valorização dos artistas, para trazerem à plenitude suas técnicas modernistas e surgimento de novos nomes, agregando valor e ressignificando sempre no preceito da criação. Tentamos definir o que é arte, mas falta a verbalização explícita de algo tão inócuo ao tempo e real. ” O talento de um artista, o qual ele consegue, com sua energia, projetar uma figura que ele pensa, traduzindo em algo que tenha valor, essa é minha definição de arte”, finaliza Luiz Espada, que completa, dizendo que nunca ninguém o perguntou a definição de arte a ele. Voilà!
Confira algumas obras em destaque
Ficha técnica
– Exposição: “JF Arte 2024”
– Fotos: Sérgio Neumann e assessoria de imprensa e marketing
– Período: 16 outubro até 3 dezembro
– Produção: Luiz Henrique Duarte
– Visitação: De segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h; sábados das 9h às 13h
– RH Espaço Arte: Estrada Engenheiro Gentil Forn 1805 – São Pedro