Linhas de Minas: tecendo histórias, trançando memórias
Mulheres que trazem o bordado e o trançado para a decoração
A mineiridade é uma expressão notória, um passaporte para o mundo das artes, cinema, cultura e poesia. É a valorização dos hábitos e costumes de um jeito singular de ser. Em terras mineiras acontece um pouco de tudo: foi cenário da Inconfidência Mineira, dos versos de Marília de Dirceu, das famosas esculturas de Aleijadinho. O céu de brigadeiro evoca para o mundo uma arquitetura histórica, com casarios antigos que contrastam com a arquitetura moderna, a decoração rústica com sofisticação dos novos projetos que trazem modernidade, as igrejas centenárias de Ouro Preto e São João del Rei que ministram a liturgia e a fé. Mas também reverenciam o estilo Barroco Mineiro, que traz a robustez ao design de interiores com a riqueza de detalhes.
O moderno com o antigo, o contraste de belezas e riquezas naturais: ouro, ferro, manganês, hematita. Em meio a tudo isso, na atualidade, surgiu há seis anos, no dia 08 de março, de um simples desejo de reunir as mulheres da vila, em São José dos Lopes, um acolhedor distrito rural de Lima Duarte, com cerca de trezentos e poucos moradores, uma Associação de Mulheres, formadas por donas de casa, que acordam cedo para preparar a marmita para os maridos que trabalham por ali, nascendo assim, as Linhas de Minas. A Associação conta com cerca de trinta mulheres, e o único homem, o seu Arlindo, é o responsável por colher as fibras naturais.
O artesanato com inspiração na natureza traz as peças com bordados à mão livre, porque é uma tradição mineira e muitas ali já bordavam. A valorização do trabalho baseia-se no conceito de tudo que é visto no entorno: a natureza sob um olhar rural. Um incentivo para bordar a fauna e a flora locais, retratando as cenas rurais, como igrejas, casarios, o homem do campo trabalhando nas lavouras. Os trabalhos manuais têm a curadoria de Letícia Nogueira Fonseca, que se dedica ao artesanato e a outros projetos socioculturais para esta comunidade e adjacências, como levar o tear manual para outros distritos e teatro, além da arte e cultura. Os trançados podem ser admirados com os trabalhos das cestarias, esteiras, sousplats e tapetes confeccionados artesanalmente por meio das fibras da taboa e do caule das bananeiras. Um trabalho que se expande por todo o Brasil por revelar talentos escondidos e adormecidos, mulheres que bordam e tecem. As aquisições são feitas principalmente através do Instagram. Na coordenação deste trabalho, na gerência, um nome destaca-se: Alice Valda de Jesus Parada, que é a presidente desta Associação. O trabalho mostra para essas mulheres o quanto são maravilhosas e que tem potencial, principalmente na ajuda financeira das famílias. Os bordados estão presentes em almofadas, jogos americanos, guardanapos, lençóis, toalhas de mesa, em tecido de linho cru e sarja.
O tecido em brim também pode ser observado nestes trabalhos, que também podem ser confeccionados por encomenda, como um flamboyant. As inspirações podem alcançar a moda, com possibilidade de criar vestidos e caftãs, que serão um verdadeiro luxo. Já pensou uma mulher fashion usar um modelo exclusivo e roubar todas as cenas? A homenagem desta coluna é para todas as mulheres de Minas, do Brasil e do mundo, representadas por todas as mulheres desta associação, que criam histórias e memórias por meio das Linhas de Minas. Feliz dia Internacional das Mulheres!
Ficha técnica:
. Artesanato e design: Linhas de Minas ( @linhasdeminas )
. Associação: São José dos Lopes, distrito de Lima Duarte ( Alice Valda de Jesus Parada – presidente da Associação )
. Curadoria das peças: Letícia Nogueira Fonseca
. Fotos: Celine Billard (fotógrafa – @celinebillard)