Profissionais multipotenciais: até onde vale a pena ser “especialista em tudo”?

Descubra o que são profissionais multipotenciais, suas vantagens e desafios, e como encontrar o equilíbrio ideal entre amplitude e profundidade na carreira. Veja por que o mercado valoriza perfis versáteis e como se posicionar de forma estratégica.

Por Marcelle Larcher

Já se perguntou se deveria se aprofundar em uma área ou seguir explorando diferentes caminhos? Se a resposta for sim, talvez você esteja entre os muitos profissionais que se identificam com a multipotencialidade.

Nos últimos anos, esse termo ganhou força no universo das carreiras. E não é à toa. Em um mercado cada vez mais dinâmico, incerto e cheio de mudanças, quem consegue se adaptar, aprender rápido e transitar entre temas distintos parece ter uma vantagem competitiva. Por outro lado, surge uma dúvida inevitável: até onde vale a pena ser versátil? Existe risco de ser “especialista em tudo e, no fim, não ser referência em nada”?

Neste texto, vamos refletir sobre o papel dos multipotenciais no mundo do trabalho atual e como encontrar o equilíbrio ideal entre profundidade e amplitude de conhecimento.

O que é ser um profissional multipotencial?

O termo “multipotencialidade” pode soar novo para alguns, mas descreve um perfil muito comum, especialmente entre profissionais curiosos, criativos e inquietos. Ser multipotencial significa ter múltiplos interesses e aptidões, e sentir prazer em aprender sobre diferentes temas ou atuar em áreas variadas.

A expressão foi popularizada pela escritora e coach de carreira Emilie Wapnick, em uma palestra TED que viralizou. Ela trouxe luz a um grupo de pessoas que, por muito tempo, se sentiram pressionadas a “escolher uma coisa só”, como se o sucesso estivesse exclusivamente atrelado a seguir uma única direção.

É importante diferenciar os multipotenciais dos generalistas. Enquanto o generalista pode ter uma atuação ampla, mas sem necessariamente se aprofundar em diferentes áreas, o multipotencial mergulha com intensidade nos temas que escolhe explorar, mesmo que, com o tempo, migre para outros. Também se distingue do especialista, que foca em um campo específico com profundidade contínua.

Por que o mercado está valorizando profissionais multipotenciais?

O mundo do trabalho mudou e segue mudando. Novas tecnologias, transformações sociais e modelos de negócios disruptivos exigem profissionais que saibam navegar na complexidade. Nesse cenário, a capacidade de adaptação virou uma das habilidades mais valiosas. E aí os multipotenciais brilham.

Há algum tempo, empresas vem reconhecendo o valor desses perfis versáteis. Afinal, são eles que conseguem transitar entre áreas, pensar de forma sistêmica e conectar pontos que, à primeira vista, pareceriam desconectados. Em times multidisciplinares, por exemplo, o multipotencial costuma ser a pessoa que traduz ideias entre áreas técnicas e criativas, ou entre dados e estratégia.

Além disso, esses profissionais têm facilidade para aprender coisas novas, algo essencial em um mercado que exige aprendizado contínuo. Também se mostram mais resilientes diante de mudanças, pois já estão acostumados a se reinventar.

A versatilidade, antes vista como instabilidade, agora pode ser enxergada como diferencial competitivo. Claro, ainda existe resistência em setores mais tradicionais, mas o movimento de valorização dos multipotenciais é crescente.

Multipotencialidade na prática: vantagens e armadilhas

Ter uma mente que vibra com ideias novas pode ser incrível. Mas viver essa realidade, na prática, também tem seus percalços. Vamos falar de forma honesta sobre isso.

Principais vantagens:

  • Flexibilidade para atuar em contextos diferentes, o que amplia possibilidades de carreira

  • Criatividade e inovação, impulsionadas pela soma de referências diversas

  • Capacidade de resolver problemas complexos, enxergando conexões que outros talvez não vejam

  • Aprendizado acelerado, por saber como explorar novos campos com autonomia

Principais obstáculos:

  • Dificuldade de foco, com muitas ideias competindo entre si

  • Sensação de não ser bom o suficiente em nada, por não se especializar de forma linear

  • Problemas de posicionamento profissional, já que o mercado ainda cobra clareza sobre “o que você faz”

  • Cansaço mental, causado pela tentativa de dar conta de tudo ao mesmo tempo

O segredo está em reconhecer esses desafios e buscar formas de lidar com eles com estratégia e gentileza consigo mesmo.

Ser multipotencial ou especialista? 

Essa talvez seja a pergunta que mais inquieta os profissionais versáteis: “Preciso escolher um caminho só ou dá para combinar tudo o que gosto de fazer?”

A resposta não é única, mas o equilíbrio entre amplitude e profundidade parece ser o melhor caminho para a maioria das pessoas.

Existe uma ideia conhecida como carreira em T, que ilustra bem isso. A parte horizontal do T representa o conhecimento amplo,  (saber um pouco de várias coisas). Já a parte vertical representa a profundidade, (um tema em que você se aprofunda e constrói autoridade). Para multipotenciais, isso significa que você pode sim explorar diferentes áreas, mas precisa ter uma base sólida que te sustente no mercado.

O ponto-chave é fazer isso de forma intencional. Ser multipotencial não é sinônimo de ser aleatório. É possível ter um portfólio de experiências diversas com coerência e propósito. E, da mesma forma, o especialista pode (e deve) ampliar seus horizontes para não se tornar obsoleto.

O que o mercado está buscando hoje são pessoas que resolvam problemas reais, independentemente da rota que seguiram até ali. Ser multipotencial ou especialista são apenas meios para chegar a esse fim.

Multipotencialidade no mercado: liberdade, estratégia e autoconhecimento

A verdade é que não existe um único modelo de sucesso. A beleza da multipotencialidade está justamente na possibilidade de viver uma carreira mais fluida, criativa e alinhada com o que faz sentido em diferentes momentos da vida.

Mas para que isso funcione, é preciso autoconhecimento. Saber o que te motiva, quais são seus pontos fortes, o que você quer oferecer ao mundo e também o que está disposto a deixar de lado, ao menos por um tempo.

A multipotencialidade não é desculpa para a dispersão, mas sim um convite à construção de um percurso original, onde diferentes saberes se somam com intencionalidade.

O profissional do futuro (e do presente) não precisa mais se encaixar em moldes engessados. Mas precisa aprender a narrar sua história de forma clara, mostrando como suas experiências se conectam e geram valor.

 

Agora é com você. Que tipo de profissional você tem sido? Quais são seus pontos de profundidade e de amplitude hoje? E mais importante: como você quer se posicionar no mundo do trabalho?

 

MARCELLE GERACAO

Marcelle Larcher

Marcelle Larcher

Empresária, empreendedora e gestora no setor educacional e organizacional, Marcelle Larcher possui mais de 15 anos de experiência em Educação Executiva e 30 anos de atuação no mercado.É especialista em Gestão Comportamental, com expertise em psicologia aplicada aos negócios e à carreira, focando na análise comportamental e na inteligência emocional.Atua como Mentora de Líderes, acumulando mais de 1000 horas de desenvolvimento pessoal e profissional com CEOs, C-LEVELs e empresários de diversos segmentos.Colunista do Jornal Tribuna de Minas, ministra cursos, formações e palestras sobre carreira, liderança, gestão comportamental e empreendedorismo.Desde 2023, tornou-se conveniada da Fundação Getulio Vargas, oferecendo em Juiz de Fora e região cursos de Pós-Graduação, MBA, Alta Gestão, Cursos de Curta e Média Duração e Programas Internacionais.Seus valores e metas estão alinhados com a visão da Fundação Getulio Vargas e do Grupo Larch, instituições que valorizam a excelência, a inovação e o impacto social.

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