Sem memória, não há futuro

"É preciso estar atento e forte. Vivemos em um país que envelhece a passos largos e com muita velocidade, mas, que insiste em tratar a velhice como uma questão exclusivamente individual."

Por Jose Anisio Pitico

Chegamos ao fim de mais um ano. Desejamos o futuro, mas, de um modo geral, não levamos o passado junto com a gente. Pensar 2026 exige
levantar uma questão central: que cidade estamos construindo para as pessoas que envelhecem aqui? Que cidade estamos criando para nós mesmos? Encerrar o ano com essa última coluna, é antes de tudo, agradecer A vocês, caros leitores e leitoras, pela rica companhia de todos os domingos na Tribuna. E reforçar um convite aos gestores públicos municipais, vereadoras e vereadores, pessoas idosas, cidadãos e cidadãs para que acolham bem as pessoas idosas, com políticas públicas robustas, orçamento municipal e vários serviços socioassistenciais.

Em 2025, que se vai, vivenciamos um cenário político e social marcado por tensões, frustrações e conquistas. Em nome de tudo que é novo, ou daquilo que parece ser novo; da velocidade do mercado e da promessa massacrante de recomeços, descartamos tudo o que parece ser velho – inclusive – das pessoas de idade. As pessoas mais velhas não são o passado que ficou para trás. São o passado que sobreviveu. Carregam no corpo e na alma as marcas de tempos difíceis; as conquistas suadas; as derrotas que, às vezes, ensinaram mais do que, muitas vitórias.

Quando a sociedade silencia essas vozes, ela não avança, não sai do lugar. Não há caminho novo. Aprender com os mais velhos é um gesto necessário e é o que precisamos fazer nas nossas relações sociais e políticas. O apagamento da memória, como o que vivenciamos nos tempos atuais, cria um terreno fértil para o autoritarismo. Essa lição sabemos de cor. São discursos que se apresentam como novos. Quase sempre reciclam ideias antigas e perigosas. São lobos vestidos de cordeiros. Quem vive nesse chão reconhece os sinais: da intolerância que se normaliza; da violência que se justifica; do medo que vira forma de governo.

É preciso estar atento e forte. Vivemos em um país que envelhece a passos largos e com muita velocidade, mas, que insiste em tratar a velhice como uma questão exclusivamente individual. Cortam-se políticas públicas; desvaloriza-se a aposentadoria; invisibilizam-se os corpos que já deram tudo o que podiam dar. Tudo isso intencionalmente produzido. É um projeto de vida: que prioriza a pressa ao cuidado; o esquecimento à responsabilidade política. Ao nos despedirmos de mais um ano, é quase que automático a gente projetar nossas expectativas.

Vamos preparar nossa cidade para o futuro do presente – o do nosso envelhecimento. Vamos precisar de todo mundo para fazermos de JF, uma cidade amiga da pessoa idosa. Estou convencido, de que sem memória, não há futuro. E de que, sem os mais velhos, não há país, nem cidade. Feliz ano novo. Feliz 2026.

Observação: Esse colunista entra em férias. Retorna em fevereiro de 2026.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar e mantém o canal Longevidades no Youtube (@Longevidades). Contato: (32) 98828-6941

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