Em muitas repartições e lugares sociais como em hospitais, bancos, comércios, ônibus (coletivos), agências lotéricas, órgãos públicos, o atendimento presencial às pessoas idosas, deixa muito a desejar. É como se elas não existissem, porque elas não são vistas. Elas somem dos olhos dos atendentes. Não há uma abordagem diferenciada. Educação muito menos. Falta gentileza. Não há treinamento de pessoal para esse tipo de abordagem. Há, sim, um despreparo constrangedor. Via de regra, o que observo são atendimentos apressados, impacientes e desrespeitosos. Precisamos ir muito além da fila preferencial. É urgente humanizar e qualificar essa atenção.
O que isso significa? Significa ouvir com paciência. Explicar com clareza e devagar, quantas vezes forem necessárias. Criar ambientes acessíveis – assentos, iluminação, sinalização clara e segurança. Dar um tempo para elas se expressarem. No caso do serviço público, em alguns setores, e em outros atendimentos existentes, esses parecem ter suas regras implícitas: seja jovem, seja rápido, seja produtivo e, de preferência, não tenha passado dos 50. As portas estão abertas, mas o filtro é silencioso. A chegada da idade que vem para todos nós, passa a ser tratada como um defeito técnico. Como se não pudéssemos envelhecer. E assim seguimos naturalizando o absurdo em nossas relações sociais e políticas: o etarismo.
As mãos que que já fizeram muito são ignoradas por não saberem digitar tão depressa. Os que viveram o bastante para entenderem os caminhos da vida agora são tratados como ultrapassados por um sistema social que só enxerga valor na juventude veloz – ainda que inexperiente e muito ansiosa. É muito importante registrar que muitas dessas pessoas idosas que hoje são esquecidas pelo mundo do trabalho, já estiveram ali, nessas mesmas mesas, cadeiras e espaços, contribuindo com anos e anos de serviço. Esse é um tipo de comportamento muito comum no nosso ambiente corporativo, quer seja no público ou no privado. O que é na minha opinião uma injustiça; agora, quando poderiam contribuir com sabedoria e equilíbrio, são deixadas de lado, não são lembradas.
Um serviço que se diz público, mas que não representa o conjunto da sociedade é, na prática, um serviço privado – privado de diversidade, de memória e de profundidade. A exclusão por idade em algumas instâncias públicas de trabalho ocorre de uma maneira bem sutil, escondida em novas letras, “adequação ao perfil” ou “otimização de recursos”. Puro preconceito, exclusão. Não há novos paradigmas, novas narrativas que justifiquem a desumanização das pessoas pela idade delas, pela nossa idade. As instituições sociais terão que abrir espaços para o tempo vivido das pessoas, de todos nós, não apenas para o tempo que corre.
Precisamos de políticas que não apenas aceitem as pessoas idosas, mas que as valorizem – que reconheçam no envelhecimento não um fardo, um peso, mas um ativo. Porque, no fim, todos caminhamos para esse lugar. Se não corrigirmos agora o preconceito etário tão agarrado em nós, estaremos apenas preparando o terreno para que, amanhã, sejamos nós os próximos das filas. Atender bem a pessoa idosa é mais que uma obrigação. É um gesto de respeito à vida. Seja no trabalho, na rua ou em casa – cada gesto de empatia importa. Vamos construir juntos uma cultura de respeito à pessoa idosa. Atender bem hoje as pessoas idosas é plantar o que queremos colher no futuro: respeito, empatia e cuidado. Ao respeitar e cuidar das pessoas idosas, promovemos uma sociedade mais justa, acolhedora e consciente.


