Nos últimos dias o tema do envelhecimento humano vem chamando a atenção da grande mídia nacional. Recentemente, a TV Globo inaugurou a série “Prazer, Renata 60+ exibida no Fantástico. Eu vi (e gostei muito), atentamente, e fui recomendado a amigos e amigas para não deixarem de assistir. Nos próximos domingos, como nesse de hoje, teremos mais episódios. Caros leitores e leitoras é uma boa dica para finalizarmos o fim de semana com boas reflexões e mudanças de atitudes em relação ao nosso envelhecimento. Essa nova realidade nacional e local.
Mas falando em cobertura midiática sobre o nosso envelhecimento, o jornal Folha de São Paulo tem dado, também, destaque ao tema. Somente na primeira semana deste mês trouxe duas matérias super interessantes. Uma delas dando conta de que mais de 90% dos responsáveis pelos cuidados às pessoas idosas com demências são mulheres. Segundo pesquisa recém-publicada da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo – desse contingente, 85% relatam exaustão emocional, 78% declaram sentir cansaço físico constante e 62,5% afirmam que essa função impactou negativamente sua vida pessoal.
A outra matéria do jornal supracitado, que tem a ver com a primeira, fala sobre o que acontece com as cuidadoras de pessoas idosas japonesas. Digo cuidadoras, porque, tanto lá fora como aqui, quem cuida são as mulheres. O que é uma característica do nosso envelhecimento, independentemente do lugar que se envelheça. Há que se considerar também que as mulheres vivem mais do que os homens. Outro sinal marcante da nossa longevidade. E quem cuida das mulheres? Outras mulheres. É uma equação muito injusta e dolorosa: mulheres que precisam ser cuidadas, cuidam de outras; e ainda por cima, não recebem nenhuma remuneração. Isso tem que mudar.
A economia do cuidado tem sido pauta em outras realidades fora do nosso país e nos atinge em cheio por aqui. É fundamental que haja regulamentação pelo Estado desse tipo importante de ocupação. Quantas filhas ou outros familiares não interrompem sua carreira profissional, às vezes no auge de sua potência produtiva salarial para cuidar de sua mãe ou de seu pai? E isso não é contabilizado, por exemplo, nas aposentadorias delas. E muitas das vezes, sem o reconhecimento familiar e social.
Mas, voltando ao Japão, a matéria traz informações de que a cada oito dias, uma pessoa idosa é morta por um cuidador exausto, quase sempre por um familiar – e, em muitos casos, a ação é seguida de suicídio. Esse fenômeno é denominado pelos estudiosos de “care killing”. Na minha livre interpretação do conceito, entendo que o estresse extremado provocado pela demência leva a pessoa cuidadora dar fim a vida da pessoa idosa que cuida, e depois, termina com a sua própria vida. Faço aqui uma associação com o filme “Amor”, uma produção cinematográfica de 2012, com direção de Michael Haneke, estrelando Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Huppert.
O filme, muito forte e denso, traz essa realidade do desgaste físico e emocional que o cuidado provoca em quem cuida, a ponto de por um ponto final na vida de quem tanto se ama. Vale a pena conferir. Apesar de tanta dor. O que está acontecendo com algumas pessoas idosas japonesas, conforme relato da matéria, na realidade brasileira não há diferenças. O desequilíbrio entre a demanda crescente e cada vez maior por cuidados e a falta de cuidadores especializados só amplia os desafios do país e da cidade na oferta de serviços públicos eficientes que garantam um envelhecimento de qualidade para todas as pessoas. A grande questão é: afinal de contas, quem vai cuidar das pessoas idosas dependentes?