No início do meu trabalho profissional com a população idosa da cidade, uma fração dela, no final dos anos 1980, formado de pouco em Serviço Social pela nossa UFJF, o conteúdo sobre envelhecimento não fazia parte da nossa formação profissional, não entrou em sala de aula. O que me fez procurar e buscar informações sobre essa fase da vida em outros centros científicos.
Sem a presença da internet, escrevia à mão ofícios-cartas pedindo material informativo sobre o processo de envelhecimento. Mesmo fora da cidade, eram poucas as universidades ou instituições que desenvolviam um trabalho com as pessoas idosas. Para se ter ideia: de dez cartas enviadas, eu recebia respostas de três, mais ou menos. O universo de atenção dispensado ao tema era muito baixo (mudou um pouco mais). Justiça seja feita ao pioneirismo do SESC – Serviço Social do Comércio – que desde há muito tempo, desde 1963, já promovia um belo trabalho com as pessoas idosas – aposentados do comércio – em suas várias unidades de serviços espalhadas nos estados brasileiros.
Não tem como falar sobre trabalho social com idosos no Brasil sem mencionar e não reconhecer a atuação do SESC/SP no campo geriátrico e gerontológico. O que acontece também em outras unidades do SESC pelo país afora. Como é feito aqui também em Juiz de Fora. Com essa precariedade de interesse social e público sobre o envelhecimento no período que marca minha inserção na área gerontológica (final dos anos 80) dei sequência e vazão ao meu interesse de estabelecer um vínculo profissional com a população idosa da cidade, uma parte dela. Pessoas idosas situadas nas classes populares, beneficiárias da Previdência Social.
Na busca de uma estrutura profissional de trabalho que me assegurasse uma intervenção forte e abrangente, na primeira oportunidade de estudo que surgiu de fazer uma pós-graduação na área, me candidatei e fui aceito. Cursei por quase dois anos Gerontologia na Fumec – Fundação Mineira de Educação e Cultura – na querida e bela capital mineira, Belo Horizonte. Lá, eu aprendi e tive contato com muitas perguntas e reflexões sobre o processo de envelhecimento.
Mas a questão que não sai de mim é a seguinte: que tipo de velhice eu quero para mim? Como eu desejo envelhecer? Há mais de trinta anos eu busco chegar perto de dar respostas a essas questões e a outras que advém dessas. Algumas lições estão certas e bem consolidadas na minha consciência. A realidade de que envelhecer faz parte da trajetória da nossa vida. Só não envelhece quem parte antes. Sendo assim, tomo emprestado o pensamento da atriz Bruna Lombardi, 70 anos, em entrevista no YouTube sobre essa temática, com a seguinte afirmação: “autocuidado não é egoísmo, é uma obrigação”. Concordo com ela.
Podemos interferir no nosso processo de envelhecimento. Sobretudo com a constatação científica de que a longevidade está muito mais ligada a fatores socioambientais do que necessariamente com a herança genética de nossos ancestrais. Ou seja, podemos ampliar e conquistar mais tempo de vida com a introdução e manutenção de bons hábitos de vida; orientação qualificada de profissionais sobre alimentação equilibrada e a importância do estímulo à prática regular e permanente de exercícios físicos. Sem deixar de cultivar diariamente boas relações de amizade e familiares.
Na vivência do meu envelhecimento compartilhado com vocês, caros leitores e leitoras, busco manter uma coerência sobre o que eu falo, escrevo e sobre o que eu faço. Num diálogo sincero e aberto sobre as questões que envolvem o nosso envelhecimento. As recomendações, reflexões, ponderações e dicas aqui expressas passam primeiro pela realidade do meu dia a dia.