Enoturismo – Descobrindo Vinícolas e Vinhos da África do Sul (Parte II – Stellenbosch)


Por Etiene Carvalho

18/07/2019 às 15h54- Atualizada 18/07/2019 às 16h16

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No primeiro post sobre minha “enoviagem” à África do Sul falei sobre alguns vinhos e vinícolas de Constantia e Durbanville (relembre aqui). Hoje vou contar um pouco da minha experiência em Stellenbosch, distrito que também está situado na Coastal Region – uma das seis regiões vinícolas do país e que fica a pouco mais de 40 km a leste da cidade de Cape Town. De todas as denominações sul-africanas, Stellenbosch é a mais conhecida. Não é à toa. O local é considerado o lar dos vinhos de qualidade da África do Sul e é também o centro de educação e pesquisa vitivinícola do país. Além disso, por ser uma cidade universitária, tem um centro bastante movimentado com restaurantes e bares aconchegantes e inúmeras lojas, inclusive de vinhos!!!

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Foto: The Stellenbosch Reserve

Sobre o estilo dos vinhos

Considerando a diversidade topográfica e climatológica de Stellenbosch, fica difícil limitar sua produção a uma cepa especial ou a um único estilo. No entanto, nos últimos anos a região tem construído sua reputação graças à altíssima qualidade da Cabernet Sauvignon (uva mais plantada por lá, inclusive!), que frequentemente é combinada com a Merlot para produzir expressivos Bordeaux Blends. Em locais mais frescos também são produzidos Sauvignon Blancs e Chardonnays de ótima qualidade.

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Foto:winespies

Visitas

Muitas das vinícolas em Stellenbosch têm excelente estrutura, são modernas e produzem vinhos maravilhosos, algo que dificulta a escolha no momento da visitação. Eu segui a orientação da Wines of South Africa (que me auxiliou durante essa viagem) e visitei algumas indicadas por eles: AsaraCavalliEikendal , Kanonkop e Waterkloof. Dessas, apenas a Kanonkop exporta para o Brasil, no entanto, todas elas produzem seus vinhos a partir de uvas de vinhedos próprios e exportam para diversas partes do mundo. De modo geral, têm em comum uma grande e verdadeira preocupação com o meio ambiente e uma constante obstinação em produzir vinhos aliando características do Novo e do Velho Mundo – algo como um trabalho contínuo para juntar intensidade e elegância na mesma garrafa!!!

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Asara Wine State

A Asara foi uma das primeiras vinícolas que visitei em Stellenbosch. O local é muito próximo da False Bay e se beneficia da influência marítima proveniente de lá. Seus solos possuem milhões de anos e são basicamente formados por arenito, granito e xisto. Atualmente eles têm nove cepas plantadas: Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Gamay, Malbec, Petit Verdot, Pinotage, Sauvignon Blanc e Shiraz.

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Fiz um passeio por entre as videiras, que são submetidas a estratégias de estresse hídrico para produzirem uvas com sabores mais concentrados. A umidade do solo é rastreada com o uso de sondas monitoradas por computador; algo bem moderno.

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A Asara conta ainda com um belíssimo hotel situado em meio a 25 hectares de jardins dentro da propriedade vinícola de 180 hectares de área total. Os hóspedes podem escolher entre caminhar em trilhas, correr por entre as vinhas ou até mesmo alugar uma bicicleta.

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A pequena sala de degustação fica perto do centro do hotel, com vista para a adega de maturação do barril. Foi lá, inclusive, que fui apresentada para a enóloga da vinícola e pude degustar alguns vinhos diretamente dos recipientes de fermentação.

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Asara Bell Tower 2012

Também degustei um dos melhores tintos da vinícola, o Asara Bell Tower 2012 – um Bordeaux blend feito com Cabernet Sauvignon (52%), Merlot (20%), Cabernet Franc (11%), Malbec (10%), Petit Verdot (7%). Ele custa cerca de 400 rands (R$100), e é simplesmente incrível! Até hoje só foram feitas as safras 2011 e 2012. Com sete anos de vida, eu arrisco que esse vinho ainda tem pelo menos mais uns dez aninhos pela frente. É muito elegante; no nariz, tem notas marcantes de frutas negras e grafite; Na boca, apresenta toques de mirtilo e notas leves de cedro e charuto. Tem acidez média alta, longa intensidade no retrogosto e taninos redondos. Trouxe na mala, claro! ?

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A Asara conta também com dois restaurantes fantásticos. Um deles é o Sansi Bar, que tem um estilo mais descolado e uma vista de tirar o fôlego.

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Lá almocei com a simpática gerente da vinícola, Samantha Wiid, e harmonizei o Cape Fusion 2015 – Pinotage, Shiraz e Malbec – com um delicioso hambúrger. O vinho é daqueles feitos para o dia a dia, custa apenas 105 rands (cerca de R$25!!!!!) mas é prova de que a Asara produz de forma exigente tanto vinhos simples como os mais complexos! Adorei a experiência ?

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Cavalli Wine State

A Cavalli Wine State é uma daquelas vinícolas cuja visita é mais do que recomendada para quem procura um lugar que reúna vinho, design, arquitetura, arte e luxo!!!!

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A Cavalli é belíssima e sofisticada! Sem dúvidas, está entre as mais belas vinícolas que já visitei. O local, inclusive, já foi premiado em Bilbao, na Espanha, com o cobiçado Troféu Turismo de Vinhos para Arquitetura e Paisagens.

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O sonho dos seus proprietários era realizar um projeto que fosse sustentável (e conseguiram!!!) – A luz natural permeia o espaço, as vistas panorâmicas são abundantes e a fachada conta com um mural vivo das espécies encontradas na região e com pedras extraídas do local.

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Por lá ainda existe um centro equestre que inclui uma arena ao ar livre, além de uma arena interna de treinamento com 20 estábulos de última geração que abriga belos cavalos de raça. É tudo tão lindo, limpo e perfeito que fica difícil descrever.

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Dentro da vinícola também é possível passear por uma bela sala de degustação, observar obras de artistas contemporâneos e apreciar um museu com objetos doados por renomados desportistas ou artistas pop como Schummacher, Mike Jagger e Bono Vox

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Degustação

Como a Cavalli é a junção de duas paixões de seus proprietários, os melhores vinhos produzidos no local ganharam belos rótulos com a estampa e o nome de alguns dos principais cavalos da fazenda.

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Tour pelos Vinhedos

Quem me recebeu na Cavalli foi o próprio enólogo da vinícola, Craig Barnard, que fez um tour pelos vinhedos e me revelou acreditar firmemente que colher frutas cedo produz vinhos mais frescos e frutíferos com forte potencial de envelhecimento – O “segredo” dos seus vinhos na verdade…rsrsrsrs.

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MCC

Gostei bastante dos vinhos da Cavalli, mas vou destacar aqui o Capriole MCC 2016 – feito 100% com Chardonnay. Para quem não sabe, MCC significa Methode Cape Classique e é o espumante produzido na África do Sul pelo método tradicional, ou seja, com a segunda fermentação feita na própria garrafa, como em Champagne – Esse da Cavalli– ficou dois anos em contato com as borras. É fresco e bem frutado. Tem perlage fina e abundante. No nariz tem notas de frutas brancas de caroço e leveduras. Na boca, lembra melão, pêssego e brioche. Possui boa acidez, ótima cremosidade e persistência. Amei! Detalhe custa apenas 200 rands, ou seja, R$50,00!!!!

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Eikendal

Outra vinícola que adorei conhecer em Stellenbosch foi a Eikendal. O local é uma ampla fazenda de 76 hectares que pertence, desde 1981, à família Saager, de Zurique, na Suíça; foram eles que reconheceram o grande potencial da área e investiram na modernização do lugar, que é beneficiado por um microclima marítimo de montanha, ideal para a produção de vinhos de qualidade.

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Atualmente, a Eikendal planta Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Sangiovese, Shiraz, Mouvedre, Grenache, Petit Verdot e Chardonay e produz uma boa combinação de varietais estilo BordeauxRhone e Borgonha.

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Por sorte, quando visitei a Eikendal tive a oportunidade de conhecer o simpático Christian Saager, proprietário da vinícola, que me recebeu pessoalmente. Ele vive na Suíça, mas estava na África do Sul no mesmo período que eu. A gentil enóloga Maryke Botha foi a responsável por me apresentar cada etapa do processo de produção dos vinhos.

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Maryke também guiou toda a degustação contando detalhes sobre o trabalho que faz em conjunto com Nico Grobler, o enólogo chefe da vinícola, que tem como lema a mínima intervenção na adega para preservar a fruta no vinho. “A magia está sempre no terroir”, revela.

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Eikendal Infused by Earth

Experimentei sete excelentes vinhos – dificílimo escolher apenas um para destacar. No entanto, foi o Chardonnay da linha Eikendal Infused by Earth (550 rands, algo em torno de R$138,00) que me deixou de boquiaberta!!! Não é à toa que é considerado um vinho ultra-premium.

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Este vinho é proveniente de uvas plantadas em solos de granito e amadurece 16 meses em barricas de carvalho sem tosta (60%). É elegante e intenso ao mesmo tempo sem a menor dúvida. Tem uma acidez intensa. No nariz possui toques cítricos, mel, pera e leveduras. Na boca é macio e fresco com toques florais, minerais, de mel e leveduras. Excelente persistência. Altamente complexo. Outro que ganhou espaço na minha mala!!!!

Giovanni’s Restaurant

Quem visitar a Eikendal não deve deixar de conhecer o Cucina di Giovani – um dos mais populares restaurantes da região em um ambiente descontraído e familiar dentro da própria vinícola. A cozinha é tipicamente italiana, mas conta com diversos pratos da cozinha contemporânea. Eu mesma comi um inesquecível risoto de frutos do mar escoltado pelo maravilhoso Einkendal Infused By Earth Chardonnay 2016...Sem palavras!!!!

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Waterkloof

Outra bela vinícola de Stellenbosch que conheci foi a Waterkloof. O lugar é bem moderno, sem abrir mão do tradicional e do respeito ao meio ambiente. A filosofia de lá ainda é produzir bons vinhos a partir de bons vinhedos usando métodos biodinâmicos e orgânicos.

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A fazenda de 100 hectares possui 53 hectares de vinhas. Como estava chovendo no dia da visita, não pude passear nos vinhedos e, infelizmente, não tive a oportunidade de ter acesso à bela vista para a False Bay. No entanto, conheci o interior da vinícola, sua adega gravitacional de última geração, seus variados tanques de concreto em forma oval e uma charmosa sala de degustação. Além dos deliciosos vinhos, claro!

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A enóloga Nadia Barnard me recebeu no local. Ela me explicou que a filosofia adotada pela vinícola entende que uvas saudáveis, equilibradas e com caráter só podem ser alcançadas se estiverem em sintonia com o ambiente natural. “Os métodos convencionais de cultivo, com o uso de pesticidas químicos e fertilizantes e o uso de leveduras aromáticas, por exemplo, intervem de forma negativa”. “Aqui trabalhamos com a agricultura biodinâmica voltada a produzir vinhos de vitalidade com um verdadeiro sentido de origem”, sintetiza. A enóloga busca inspiração nos vinhos franceses para produzir os vinhos da Waterkloof, principalmente, os do Rhône.

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Syrah Circumstance

Elegi o Syrah Circumstance (197 rands, cerca de R$68,00)o melhor dentre os vinhos degustasdos na Waterkloof. É, na verdade, um vinho com grande expressão de frutas negras e toques terrosos. Um Syrah estilo Rhône com típicas notas de pimenta preta e outras especiarias no nariz, completadas por ameixas. Na boca, tem uma acidez marcante e um tanino aveludado com notas minerais de pedra e um final longo e persistente. É elegante. Segundo a enóloga é um “verdadeiro vinho de guarda”.

Esse vinho foi feito com uvas provenientes de solos cultivados com adubos e preparações biodinâmicas e arados por cavalos de forma a garantir um solo solto e com mais vida. Segundo, Nadia,”a ideia é fazer com que a videira espalhe suas raízes de forma a produzir vinhos com características do terroir.”

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Kanonkop e Pinotage

Vocês devem estar estranhando porque até agora não falei de nenhum Pinotage, né? A uva mais emblemática da África do Sul, que foi desenvolvida em laboratório com o intuito de unir as qualidades da robusta e intensa Cinsault com a delicadeza da Pinot Noir. Na verdade, foi algo proposital, justamente para mostrar que a África do Sul vai muito mais além da Pinotage.

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Foto: pinotage.co.za

No entanto, seria extremamente injusto da minha parte não falar sobre essa uva. Foi por isso que visitei em Stellenbosch a Kanonkop, vinícola reconhecida por produzir um dos melhores Pinotage do mundo.

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Kanonkop possui cerca de 125 hectares, dos quais 110 hectares são vinhedos. O nome da vinícola é derivado de uma colina de onde um canhão era disparado no século 17 para alertar os fazendeiros sempre que era visto um navio europeu entrando na Table Bay com a intenção de parar na Cidade do Cabo. A vinícola encontra-se, atualmente, sob os cuidados da quarta geração da família após quarenta anos de tradição passados de pai para filho.

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Os vinhos tintos de Kanonkop estão dentre os mais famosos da África do Sul. As castas mais cultivadas são a uva Pinotage, que ocupa cerca de 50% de toda a área plantada, Cabernet Sauvignon, com 35%, Merlot, 7,5%, e Cabernet Franc, plantada no restante dos vinhedos. A adega e os vinhos acumulam prêmios internacionais e excelentes críticas de especialistas do mundo do vinho.

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Lá tive a honra de conhecer pessoalmente o CEO da vinícola, o simpático Johann Krige, que me apresentou alguns dos seus melhores vinhos.

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Kanonkop Pinotage 2009

Dentre todos, o kanonkop Pinotage 2009 (580 rands), produzido com uvas de vinhedos de 30 a 60 anos foi o que mais se destacou. Um vinho intenso e incrivelmente persistente. Muito diferente de muitos Pinotages simples que geralmente são mais rústicos e apresentam leves toques de borracha queimada no nariz. Este, na verdade, é complexo e potente com intensas notas de frutas negras e vermelhas, misturadas a notas terrosas e chão florestal. Na boca já mostra algumas ligeiras notas de evolução. Uma acidez média alta aliada à boa persistência e taninos firmes. Enfim! Um vinho sensacional e perfeito para encerrar com chave de ouro a minha visita às maravilhosas vinícolas de Stellenbosch.

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No próximo post sobre a África do Sul falarei sobre o distrito de Paarl e sua ward Franchhoeck. Não perca!!!!

 

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