Sem dependĂȘncia
HĂĄ pouco mais de um ano, embarquei com alguns dos melhores amigos para o Chile. A missĂŁo: acompanhar duas partidas da Seleção Brasileira pela Copa AmĂ©rica. SĂł de me lembrar daquele time de Dunga, sinto calafrios e nĂŁo sei ao certo se – do ponto de vista esportivo – aquilo foi um passeio ou autoflagelo. Apesar de as apresentaçÔes sofrĂveis, nĂŁo foram os jogos o que mais me irritaram, mas sim um posicionamento meio picareta da imprensa oficial do torneio, que entrevistou a animada delegação de torcedores juiz-foranos com simpatia para depois escrever uma matĂ©ria em que deturpava tudo aquilo que dissemos. Fomos enquadrados sobre o tĂtulo de “Neymardependentes” – ainda que nunca tivĂ©ssemos falado nada nesse sentido.
Passados 15 meses, a demissĂŁo de Dunga, a efetivação de Tite e o ouro olĂmpico, ainda nĂŁo perdoo a angulação daquela matĂ©ria publicada no site oficial da Copa AmĂ©rica 2015. Trairagem, danada. Contudo, consigo admitir que a Seleção Brasileira tinha, de fato, uma dependĂȘncia muito grande do talento de Neymar. Hoje, mesmo diante de toda a qualidade do atacante do Barcelona, o craque jĂĄ nĂŁo parece tĂŁo imprescindĂvel assim.
Isso porque, ainda que em um curtĂssimo espaço de tempo, Tite conseguiu dar padrĂŁo de jogo Ă equipe, algo que independe das peças. Na Ășltima terça-feira, mesmo sem Neymar, o Brasil voltou a fazer uma apresentação consistente e convincente diante da Venezuela – algo que Dunga nĂŁo conseguiu em uma partida sequer durante sua Ășltima passagem. Qual o segredo do novo treinador para a mudança? Nenhum! A grande diferença Ă© que Tite sabe conversar, algo que seu antecessor, do alto de sua arrogĂąncia, mostrava-se fatalmente incapaz.