Boas férias!
Aqui, agora, escrevendo debaixo das cobertas no frio curitibano de 9 graus, constato o óbvio ululante: é muito bom estar de férias. Vejam bem, ainda nem chegaram as minhas, mas como eu e Renato tiramos em meses diferentes, costumamos economizar nosso banco de horas para tirarmos folgas um no descanso do outro, quem sabe até dar um passeiozinho.
Mas melhor do que estar sem compromisso com qualquer coisa; perder a conta dos dias da semana ( hoje é segunda? Sexta? Ahn?); e poder se enroscar até a hora que quiser nos edredons (aqui em Curitiba no plural mesmo, se bem que JF não estava tão diferente), gosto particularmente da pessoa em que me torno quando estou de férias.
É este estado em que a gente entra quando viaja pra outro lugar a passeio, por exemplo. Aquele senso docemente transgressor de indulgência que faz a gente se permitir usar uma roupa ou chapéu que jamais vestiríamos nas condições normais de temperatura e pressão de nossa rotina; tomar uma cervejinha antes do meio-dia; matar o desejo de comer doce sem qualquer culpa; andar pela rua observando o movimento, as lojas, a arquitetura, as pessoas, o devir… sem qualquer pressa de chegar a um destino. Tudo isto sem dar a mínima para o julgamento de ilustres desconhecidos que nos cruzam o caminho.
Já há algum tempo, tenho tentado o exercício de ser “a Júlia das férias” mais vezes. A rotina, os compromissos, os boletos endurecem tanto a gente que perdemos a capacidade de encantamento com o cotidiano. Mas quando, num longuíssimo passeio de trem de três horas e meia pela Serra da Graciosa (PR), ainda me flagrei impaciente com a duração da viagem, mesmo tendo hora pra chegar a lugar algum, vi que meu caminho para me desligar dos relógios é ainda mais longo do que o trajeto dos vagões.
Ainda assim, tive uma daquelas irrefreáveis crises de riso, de chorar e falar “ai ai” no final, com os bordões, as piadas de tiozão do pavê e a voz anasalada do guia turístico que nos conduziu no infindável percurso. Normalmente, ficaria irritada. Mas é que agora estou de férias.
Que a gente se permita, talvez uma vez ao dia, na semana, ou sempre que der, cometer a ousadia de viver, no cotidiano, os prazeres simples que encontramos tão facilmente quando estamos passeando. Que nossos dias úteis possam ser um pouco fúteis também. Que a gente encontre, mesmo no aperto da rotina, uns minutinhos para deixar o mundo de lado e ser nosso ousadíssimo e despreocupado “eu das férias”.