Os últimos anos me transformaram em muitas coisas, de muitas maneiras. Uma delas veio finalmente cumprir o destino de “mãe de planta” para o qual minha infância entre samambaias suspensas e avencas vinha me preparando, ainda que eu ignorasse solenemente a profecia.
Essa semana saiu a primeira folhinha de uma fícus lyrata linda, presente da minha amiga amada Flávia, de uns bons meses atrás já. Dessas plantas bonitonas que estão devidamente na moda e reinam em pastas de Pinterest de autodiagnosticadas “loucas das plantas” – mesmo quando o mundo inteiro está enchendo sua sala de verde.
Desde que minha fícus se tornou minha, investigo diariamente seu caule, seus galhos, cada cantinho, esperando ansiosamente por folhinhas novas. E assim segui por meses sem qualquer sinal, sem um esboço nascituro, a despeito do meu desejo de ver novos brotos.
Na contramão dos nascimentos – ou da espera por eles -, percebi, faz tempo, que meu manjericão subiu no telhado. O danado andou lindão, pronto para uma pequena – mas robusta – produção de pizzas margherita ou de molho pesto. Mas tem algum tempo que ostenta só algumas folhas teimosamente verdes, prestes a murcharem, nos galhinhos já todos secos. “Vai morrer por esses dias”, tenho pensado diariamente.
Quando a folhinha nova da fícus nasceu, eu já nem acreditava que fosse possível, e, bem honestamente, já tinha parado de verificar em vão. Tinha desistido, do mesmo jeito que havia decretado a morte do manjericão. Não é que o danado agora deu pra ficar com as folhas derradeiras todas imponentes e crescendo em novos ramos esverdeados? Vai entender.
Até gostaria de ser Leminskiana e acreditar que “distraídos venceremos”. Mas sei que a proverbial vitória atende somente a um compasso próprio, alheio às nossas vontades ou interferências. Às vezes, simplesmente a folha não brota, a planta não vinga, e não há nada que se possa fazer.
Tenho tentado respeitar e entender o tempo das coisas. Venho aprendendo também, não sem frustração, que é inútil apressar a primavera, por mais que se deseje florescer. Por outro lado, e porque se deixar levar pelo pessimismo é coisa de gente privilegiada e cafona, lembro-me sempre do poeta espanhol. “Podrán cortar todas las flores, pero no podrán detener la primavera”. Ou como bem disse em português um outro velho, poeta não da palavra, mas das coisas, “Podem matar uma, duas, três rosas, mas não conseguirão deter a chegada da primavera”.
Vejo as rosas pisoteadas e aguardo, cansada, mas confiante. Eu, a fícus e o manjericão.
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