Meritocracia? Meu glĂșteo!
Das inĂșmeras bobagens que tenho ouvido/lido nessa Ă©poca de eleição, algumas vĂȘm incomodando mais que gola rolĂȘ nesse calor de matar que nos acomete hĂĄ alguns longos dias. Muito alĂ©m das opiniĂ”es contrĂĄrias – que nĂŁo sĂŁo poucas ou agradĂĄveis – Ă minha convicção como eleitora, estĂŁo argumentos que, a meu ver, ferem a noção do que Ă© justo e humano, independentemente do time para que se torça neste violento Fla x Flu eleitoral (como bem quis metaforizar, mas nĂŁo deixaram, Xico SĂĄ).
Talvez o  conceito mais descabido, repetido por aĂ como mantra em templo budista, seja o de meritocracia. Para mim, defender esta ideia Ă© algo tĂŁo pueril quanto cruel – ainda que isso soe paradoxal. Pueril porque, vejam bem, chega a ser inocente acreditar que basta o esforço, o comprometimento e o empenho para que o reconhecimento, remuneração ou as conquistas venham, automaticamente. Ă como se eu, que odeio – muito – malhar, esperasse emagrecer mais ou melhorar mais meus Ăndices de gordura sĂł porque passo por cima de minha vontade, minha preguiça e do ambiente naturalmente inĂłspito das academias. JĂĄ que meu sacrifĂcio é maior  do que o de quem ama puxar ferro e usar aqueles trajes que nĂŁo favorecem pessoa alguma, logo, por que minha recompensa nĂŁo Ă© maior?
Sim, estou completamente ciente de que é um argumento simplório e um tanto idiota, mas, na minha parca opinião, é exatamente assim que são aqueles que defendem a tal da meritocracia.
Como disse, acho tambĂ©m um posicionamento cruel. Porque ignora solenemente o fato de  que as condiçÔes de batalha nĂŁo sĂŁo iguais para todo mundo. E pior: sempre pressupĂ”e que quem nĂŁo consegue o que almeja ou precisa nĂŁo foi digno dessa conquista- por falta de dedicação ou devido a uma conduta “inapropriada” para que aquilo acontecesse. O massacre começa cedo, com as estrelinhas douradas que premiam os alunos que supostamente estudaram mais, e tiveram um desempenho melhor – mas muitas vezes nem abriram um livro. Aos burros – nĂŁo por incapacidade intelectual, mas em menção ao animal mesmo, um dos que mais trabalha pesado -, mesmo que se matem de estudar, por terem dificuldades quaisquer, fica relegada a posição de preguiçosos, e a sensação eterna de nĂŁo estarem fazendo o bastante. Crescemos nesta lĂłgica e submetemos nossas crianças a ela. NĂŁo chega a surpreender que elas se tornem meritocratas egoĂstas quando adultas.
Francamente, de que adianta vocĂȘ me ensinar a pescar para merecer o peixe que como, se eu nĂŁo tenho ou posso ter vara, anzol, ou isca? DĂȘ-me o peixe por agora, que eu vou deixando de precisar comprĂĄ-lo. Em pouco tempo, poderei usar este dinheiro para adquirir todos os insumos necessĂĄrios e, aĂ sim, partir para o sonho da pescaria prĂłpria.
PerdĂŁo pela vulgaridade, mas meritocracia? Meu glĂșteo! – inclusive para ele, que vem sendo contraĂdo e relaxado diariamente em aparelhos, para mim, de tortura. VocĂȘ pode votar em quem quiser, mas prefiro particularmente acreditar que a onda de defender esse sistema mĂ©trico que usa um suposto merecimento como rĂ©gua (mas ninguĂ©m sabe quem Ă© o medidor) tem a ver com essa nĂ©voa seca que anda cobrindo Juiz de Fora e tantas outras cidades, inebriando as pessoas, e impedindo a visibilidade clara do mundo para alĂ©m de seus prĂłprios narizes.
Ironicamente, a verdade sobre a meritocracia Ă©: ninguĂ©m merece! E se vocĂȘ nĂŁo consegue enxergar isso, o mĂ©rito –  esse sim – Ă© todo seu.