Centenário de Mário Helênio: jornalistas celebram legado do radialista juiz-forano

Mário Helênio completaria cem anos no dia 22 de maio


Por Vinicius Soares

25/05/2025 às 07h00

O centenário de Mário Helênio: jornalistas celebram legado do histórico radialista juiz-forano
Legado de Mário Helênio é inspiração para novos jornalistas (Foto: Reprodução de fotos/Tribuna de Minas)

Na última quinta-feira (22), foi celebrado o centenário de Mário Helênio de Lery Santos, um dos principais jornalistas esportivos de Juiz de Fora. Com seus papeizinhos, o cronista foi responsável por levar ao público juiz-forano, de uma maneira única, os acontecimentos do esporte da cidade. Para repercutir o legado de um dos maiores nomes do jornalismo local, a Tribuna relembra a trajetória daquele que dá nome ao principal palco esportivo da região: o Estádio Municipal.

O jornalista e atual secretário de Bem-Estar Animal, Márcio Guerra, conta que, ainda criança, enxergou em Mário Helênio a sua referência profissional, quando o ouvia no “No Giro da Bola”, programa veiculado na rádio PRB-3, atual Rádio Transamérica.

“Um cara que, com 13 anos, viaja ao Rio de Janeiro, foge do pai no hotel e vai parar na redação d’O Globo, sozinho, para entrevistar um jornalista que ele já tinha como referência, não é qualquer coisa. Logo depois, o pai dele, que era político, vai conversar com Getúlio Vargas. Ele vai junto e pede uma entrevista para o Getúlio Vargas. Esse cara era genial”, define Márcio, co-autor, juntamente com Alvaro Americano, Christiane Paschoalino, Ricardo Bedendo, Vitor Ramos e Thiago Macêdo Esteves, do livro “Mário Helênio: a história do Cronista Esportivo mais Jovem do Brasil”.

Mário Helênio iniciou a carreira de jornalista aos 16 anos, no Diário Mercantil. Também teve passagem pela Rádio Tiradentes, onde foi comentarista esportivo em uma época em que a função ainda não era tão difundida. Para o radialista, apenas um papel e uma caneta eram necessários para reportar os eventos esportivos. Com esse material, anotava os resultados de todas as modalidades a que tinha acesso me que havia um juiz-forano envolvido, dando a todas a mesma importância.

“Se você o encontrasse na rua, você falava assim: ‘Mário, anota aí, ontem a Faculdade de Comunicação ganhou da Engenharia de 4 a 2 no futsal’. Ele pegava um papelzinho e  ia dobrando, escrevendo uma notícia, depois outra, até encher. Ele tinha uma caneta, aquela que tem quatro cores – verde, azul, preto e vermelho -, e ia mudando a cor para diferenciar as notícias”, explica Márcio.

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Márcio conta com felicidade as histórias de Mário Helênio (Foto: Felipe Couri)

Para o editor geral da Tribuna de Minas, Paulo César Magella, o fato de dar a mesma importância para todas as modalidades esportivas foi o que fez com que Mário Helênio se destacasse. “Ele foi um multimídia porque atendia não só ao futebol. Ele deu espaço para todas as categorias, todas as modalidades esportivas, desde a bocha até os jogos de vôlei. Ele acompanhou a carreira do Giovane Gávio que, quando ganhou a primeira medalha olímpica, fez questão de, primeiro, dar entrevista para o programa do Mário Helênio, porque foi ele que o acompanhou desde menino. Ele não era só esportista, era Tupynambás, era Flamengo, mas era, antes de tudo, um defensor do esporte da cidade”, afirma.

A notoriedade de Mário Helênio cruzou as fronteiras da cidade Conforme relata Márcio, o trabalho realizado pelo cronista fez com que ele e Juiz de Fora tivessem projeção nacional. “Ele tinha muito prestígio. E ele conseguia, com o prestígio dele, projetar Juiz de Fora e trazer coisas que pudessem ajudar nessa projeção. É por isso que ele é muito importante, porque ele levou o nome de Juiz de Fora para fora, e ele era muito respeitado por todas as pessoas do meio esportivo. Muito, mas muito respeitado mesmo”, destaca.

Uma vida para o esporte

Além de noticiar tudo o que acontecia no esporte juiz-forano, Mário Helênio também tinha, como objetivo, desenvolver o cenário esportivo local por meio do seu trabalho. “O Mário sempre lutou muito, todos os projetos de esporte na cidade, você tinha certeza que tinha dedo do Mário Helênio. Ele estava sempre apoiando, ele participava do Departamento de Esportes (atual Secretaria de Esporte e Lazer). Ele ajudou a fundação do Panathlon, aqui em Juiz de Fora”, enumera.

Uma das principais demandas de Mário Helênio era a construção de um estádio municipal. Conforme conta Márcio, houveram três tentativas: nos bairros Jóquei Clube, Borboleta e na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), todas sem sucesso. “Quando começou a discussão do estádio, o Tarcísio Delgado, prefeito da época, fazia questão de ouvir a todos nós jornalistas, e o Mário Helênio era um dos primeiros sempre que ele ouvia”, relembra.

O estádio foi inaugurado no dia 30 de outubro de 1988 e batizado inicialmente como “Estádio Municipal de Juiz de Fora”. Após o falecimento de Mário Helênio, em 26 de dezembro de 1995, o colunista social Cesar Romero lançou uma campanha para que o espaço recebesse o nome do radialista. A proposta foi levada à Câmara dos Vereadores por Gilberto Vaz de Melo. Em 2 de fevereiro de 1996, a lei foi sancionada e o principal palco esportivo da região passou a se chamar Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. “Nada mais justo do que dar o nome do estádio a ele”, destaca Márcio.

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Principal palco esportivo da região leva o nome de Mário Helênio há 29 anos (Foto: Felipe Couri)

O legado de Mário Helênio

Para Márcio, o principal legado que Mário Helênio deixou no cenário do jornalismo esportivo juiz-forano foi o de trabalhar em prol do desenvolvimento dos atletas e das modalidades na cidade. “Eu, Ricardo Wagner, Ivan Elias, Rogério Corrêa, Leopoldo Siqueira, todos nós aprendemos aquela paixão com ele e a brigar por Juiz de Fora”, afirma.

Ivan Elias é um daqueles que segue com o legado de Mário Helênio até os dias atuais, através do portal “Toque de Bola”. Para o jornalista, a convivência com o radialista foi equivalente a uma faculdade. “A formação universitária nos traz a ética e a responsabilidade como formadores de opinião. Não haveria ‘residência’, comparando com o curso de Medicina, em nenhuma parte do Brasil e do mundo, melhor do que aprender com Mário Helênio simultaneamente aos períodos finais da UFJF e, depois, como colegas da emissora”, descreve.

Ensinamento para as novas gerações

O professor da Faculdade de Comunicação Social  da UFJF, Ricardo Bedendo conta que, durante sua formação, teve a oportunidade de, brevemente, trabalhar com Mário Helênio. O jornalista entende que reproduzir os ensinamentos dele dentro das salas de aula é fundamental para a sobrevivência do bom jornalismo.

“O Mário é a representação dos preceitos fundamentais e básicos de qualquer ensinamento de jornalismo, a começar exatamente por questões como a credibilidade, a confiança na relação com as fontes, a preocupação com a responsabilidade da informação e a boa apuração, as formas que, mesmo naquela época, no momento analógico, você tem de se comunicar e como se comunicar”, analisa.

Inspirados no legado de Mário Helênio, os estudantes do curso de jornalismo da UFJF,Arthur Sá Fortes, Felipe Guaraldo, Pedro Félix e Thiago Cesário, produziram um documentário sobre a vida e a história do cronista. Para Félix, confeccionar um material sobre Mário Helênio foi um grande ensinamento. “Ele é um exemplo a ser seguido, e todo mundo deveria conhecer a história dele. Não só quem deseja se tornar um jornalista esportivo, como no nosso caso, mas jornalistas em geral, porque o que o Mário Helênio fez foi muito grande e é gratificante, dividir a profissão com ele é uma honra”, afirma.

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Natural de Tocantins, situada a 97 quilômetros de Juiz de Fora, o estudante de jornalismo da UFJF, Nathan Marcelino, diz que faz questão de acompanhar o esporte juiz-forano. “Quando eu era criança, por gostar muito de futebol e morar perto de Juiz de Fora, comecei a acompanhar o Tupi e sempre vi o estádio Mário Helênio, mas não sabia quem era”, revela.

Já na faculdade, ao se aprofundar na história do esporte local e ler o livro escrito por Márcio Guerra sobre Mário Helênio, se encantou com a história do radialista. Inspirado no documentário produzido pelos colegas de curso, decidiu confeccionar sua obra contando a história do jornalista. O vídeo foi publicado em suas redes sociais na última quinta-feira (22), data que marcou o centenário de Mário Helênio.

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