Ícone do voleibol, Zé Eduardo Bara relembra trajetória e comenta sobre a modalidade em JF
Ex-atleta da seleção brasileira e tricampeão brasileiro recebeu homenagem do JF Vôlei na final da Superliga B
Aos 64 anos, o juiz-forano José Eduardo Gattas Bara, o “Zé”, soma uma longa trajetória no voleibol, com passagens marcantes por grandes clubes e pela seleção brasileira. Ex-jogador profissional e instrutor aposentado, ele foi uma das figuras-chave no crescimento do esporte no Brasil. Hoje, continua sendo voz ativa na cena esportiva local, especialmente quando o assunto é JF Vôlei. Ele foi comentarista dos jogos da Superliga B no canal oficial do clube e chegou a ser homenageado na final da competição.
“O JF Vôlei tem feito um trabalho incrível. Conquistou títulos, enfrentou dificuldades na pandemia por falta de patrocínio, mas hoje tem time, torcida e uma cidade inteira por trás. É um planejamento de longo prazo, com metas claras e muito comprometimento”, vibra Bara, que enxerga o voleibol mais profissionalizado na atualidade. “Para jogar um campeonato, é preciso ter estrutura, ginásio regulamentado e apoio financeiro. Não é mais só chegar e jogar”.
Conforme conta o ex-ponteiro, a homenagem recebida diante de mais de 6 mil pessoas no Ginásio Municipal Jornalista Antônio Marcos foi um dos momentos mais inesquecíveis de sua vida. “Achei que estava aposentado, mas a adrenalina voltou. Foi emocionante, um presente inesperado. “O texto que leram, escrito pelo Maurício Bara (diretor do JF Vôlei), resumiu minha carreira como eu nunca conseguiria. Aplausos, lembranças, a torcida. Foi arrebatador. Veio uma saudade danada. Lembrei dos jogos no Mineirinho lotado, das viagens, dos treinos puxados, das vitórias improváveis. Parecia que tudo tinha acontecido ontem”.

Trajetória de Zé Eduardo Bara
A paixão de Zé pelo esporte começou em família, no sítio, jogando com irmãos, tios e o pai — que foi técnico universitário de basquete. Ainda adolescente, começou a jogar no Colégio Stella Matutina, onde teve como treinador Dirceu Santiago, e logo depois passou a treinar no Clube Olímpico. Foi lá que participou dos primeiros campeonatos juvenis, e chamou a atenção do Minas Tênis Clube.
Bara defendeu o Minas entre 1981 e 1982. Depois, foi para o Atlético Mineiro, onde jogou ao lado de grandes nomes do voleibol brasileiro, como José Roberto Guimarães — futuro campeão olímpico como técnico — e Fernandão. Comandados por Radamés Lattari, ficaram em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, consolidando a base do que viria a ser uma geração vencedora. “O ambiente era extremamente competitivo, e ao mesmo tempo, formador. Aprendi muito com eles, dentro e fora da quadra”, recorda.
O retorno ao Minas veio em grande estilo, num momento de investimento pesado no voleibol. Com o técnico coreano Yong Van Son, Zé Eduardo e o elenco conquistaram três títulos nacionais seguidos (1984, 1985 e 1986) e dois sul-americanos. “Em 1984, ninguém acreditava que a gente venceria. Mas fomos lá e surpreendemos. Esse título tem um lugar especial na minha memória.”
A trajetória profissional passou ainda pela Sádia/Concórdia e novamente pelo Minas, até encerrar no Unimédio/Teuto de Betim e no Sport Club Juiz de Fora. Ao todo, são 11 títulos estaduais, dezenas de competições nacionais e internacionais e participações com a camisa da seleção brasileira. Ele foi convocado para a Seleção de Novos em 1983, para a Copa do Mundo em 1985 e para o Campeonato Mundial de 1986, no qual o Brasil terminou em quarto lugar. “Estávamos numa fase de transição entre a seleção de prata e a futura geração de ouro. Foi uma honra representar o país nesse momento tão delicado de renovação. A camisa da seleção tem um peso enorme. Você entra em quadra e sente aquilo no corpo inteiro”, relembra.
Mesmo após se aposentar como jogador profissional, Zé Eduardo nunca se afastou completamente do esporte. Participou de torneios masters, é comentarista de transmissões ao vivo e passou a ser referência também fora das quadras. “A paixão nunca acaba. Ela só muda de forma. Hoje me vejo mais como alguém que ajuda a contar essa história, a manter viva a memória de um esporte que mudou a minha vida.”

Intercâmbio com o Japão
Na década de 1970, Juiz de Fora viveu uma fase intensa de intercâmbio esportivo com o Japão, país que havia conquistado o ouro olímpico no vôlei masculino em 1972. Equipes japonesas ligadas a grandes indústrias, como Nippon Kokan e Fujifilm, vieram ao país para disputar amistosos e realizar treinamentos, e a cidade mineira esteve no centro desse circuito. “A gente assistia aos treinos, aos jogos, o técnico Matsudaira chegou a dar aula para professores daqui”, lembra Zé. A movimentação era incentivada por nomes como Mario Helênio, à época diretor de esportes do Clube Olímpico, homenageado posteriormente com o nome do estádio da cidade.
Apesar do fervor esportivo, os clubes locais enfrentavam dificuldades estruturais. A participação em campeonatos era viabilizada com rifas, doações e ações comunitárias. “Era tudo muito amador, mas mesmo assim a gente conquistava títulos e, às vezes, jogava de igual com times de Belo Horizonte”, diz. O salto profissional do atleta aconteceu com a ida ao Minas Tênis Clube, referência na modalidade, onde participou da transição do vôlei amador para o profissional. Na época, os atletas ainda não recebiam salários — apenas auxílio-transporte, bolsa de estudos e moradia. “Foi uma mudança importante, e o vôlei brasileiro cresceu muito quando passou a ocupar o calendário das férias do futebol. A visibilidade aumentou e o esporte ganhou outro status.”
Futuro do esporte em JF
Atualmente, Zé se recupera de duas cirurgias — colocou próteses nos dois joelhos —, mas garante que, com a homenagem recebida, ganhou energia nova para ajudar o esporte na cidade. “A prioridade do JF Vôlei agora é se manter na Superliga A. Subir é difícil, mas se manter é ainda mais. É preciso apoio financeiro, patrocinadores e planejamento estratégico para competir em alto nível. O clube já mostrou que tem capacidade. Agora é hora de consolidar esse projeto”.
Ele também elogia o trabalho com as categorias de base: “Existem núcleos em diferentes bairros, com foco na formação e inclusão social. Isso é essencial, porque o esporte transforma vidas. E quem acompanha de perto vê como isso repercute dentro de quadra: disciplina, foco, respeito e paixão pelo jogo.”
Na visão dele, o reconhecimento do público tem sido outro fator essencial para vislumbrar voos maiores. “Lembro do primeiro jogo da temporada, com menos de 500 pessoas no ginásio. No último, foram mais de 6 mil torcedores. Isso diz muito. Quem vai uma vez, quer voltar. A experiência hoje é completa. Tem estrutura, tem espetáculo e tem time competitivo”, acredita. “Juiz de Fora sempre teve o voleibol na alma. E agora tem um time à altura dessa tradição”, finaliza.

Orgulho do primo
Para Maurício Bara, diretor do JV Vôlei, seu primo, Zé Eduardo Bara, é motivo de orgulho para a cidade. “Ele marcou uma geração, é um dos primeiros grandes jogadores de alto nível de Juiz de Fora. Na época, isso foi um acontecimento marcante e motivo de grande orgulho para todos. Depois dele, surgiram outros nomes importantes, como Giovanni Gávio e André Nascimento, mas ele foi o pioneiro, o primeiro grande destaque a se projetar nacional e internacionalmente”.
Dessa forma, a homenagem foi pensada para proporcionar a Zé um reconhecimento público “O tempo passa e muitos jovens não conhecem a história. Quis proporcionar a ele o carinho das pessoas, para que a cidade pudesse demonstrar o quanto ele é importante. Tenho um carinho muito grande por ele e mantemos uma relação muito próxima”.
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