Conupes 2025 discute impacto da espiritualidade na saúde e no ciclo da vida
6ª edição do Congresso Internacional de Ciência, Saúde e Espiritualidade reúne especialistas para debater como a espiritualidade influencia as diversas fases da vida, com base em evidências científicas
Nos dias 4 e 5 de abril, Juiz de Fora sedia a sexta edição do Congresso Internacional de Ciência, Saúde e Espiritualidade (Conupes), tido como um dos principais congressos sobre o tema no mundo. O evento acontece no Trade Hotel, na Av. Presidente Itamar Franco, 3800, no Bairro Cascatinha.
Com o tema “Espiritualidade no Ciclo da Vida”, o congresso reúne mais de 20 conferencistas, incluindo professores e pesquisadores internacionais, para discutir como práticas espirituais podem impactar positivamente a saúde mental e o bem-estar em diferentes fases da vida. Algumas das pesquisas apresentadas no evento mostram que pessoas com maior envolvimento espiritual tendem a ter menores índices de depressão, ansiedade e suicídio.
Nessa semana, o Tribuna no Ar, podcast da Tribuna de Minas, conversou com o professor titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFJF, diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF (Nupes), médico-psiquiatra, coordenador das sessões de espiritualidade e psiquiatria da Associação Mundial Latinoamericana e Brasileira de Psiquiatria, Alexander Moreira Almeida, e com a mestre, doutora e psicóloga especializada em terapia cognitiva comportamental, diretora e fundadora da NEISME – Núcleo de Estudos e Intervenção em Saúde Mental, Janaína Sequeira.
O professor Alexander Moreira Almeida destacou a importância do evento, que a cada edição se reafirma como referência no assunto. “O Conupes está na sexta edição e se tornou um ponto de encontro para pesquisadores, clínicos e pessoas interessadas na exploração científica da espiritualidade.” Este ano, o evento recebe, entre os conferencistas, alguns nomes internacionais, como a professora Lisa Miller, da Universidade de Columbia, que, segundo Alexander, é uma das principais autoridades no mundo na área de espiritualidade de criança e adolescente. “(Ela) tem livros que foram best-seller do New York Times. E teremos também um professor e pesquisador de Harvard, que abordará o florescimento humano.”
Com programação interdisciplinar, o Conupes contará com apresentação de pesquisas, conferências nacionais e internacionais, mesas-redondas sobre saúde e humanidades e apresentações culturais, sendo um espaço para reflexão e diálogo sobre a espiritualidade como aspecto fundamental da condição humana, que merece ser estudado e compreendido em sua complexidade e diversidade. O evento reforça a importância de abordar o tema com rigor científico, ética e respeito às diferentes crenças e experiências individuais.
Espiritualidade e saúde mental: evidências científicas
A espiritualidade não se opõe à ciência, mas é um fenômeno humano que pode ser estudado. Alexander explica que a espiritualidade é uma busca por significado, por uma razão última da vida, e transcendência, que existe algo além desse mundo material. “Todas as tradições espirituais, desde Yanomami, na Amazônia, ao budismo, ao cristianismo, têm uma ideia de que existe em Deus, deuses, espíritos, ancestrais, existe alguma coisa que vai além deste mundo que é fundamental.” Para ele, a ciência precisa estudar essa relação, as pessoas que vivenciam, que acreditam e que têm essas experiências. “É preciso entender este fenômeno, como isso impacta a vida das pessoas e até as causas deste fenômeno. Então, hoje em dia, a investigação científica da espiritualidade é algo já muito bem estabelecido. As principais universidades do mundo, Oxford, Harvard, Cambridge, no Brasil a USP, têm centros de pesquisa nessa área.”
Estudos mostram que pessoas com maior envolvimento espiritual têm menores taxas de depressão, ansiedade e uso de substâncias, além de maior qualidade de vida. A psicóloga Janaína Sequeira explicou que a espiritualidade já está consolidada como objeto de estudo e investigação acadêmica. Ela explica que, de acordo com diversas pesquisas, pessoas mais religiosas e espiritualizadas têm menor mortalidade, menor índice depressivo e maior bem-estar. Na sua opinião, o desafio das pesquisas é entender os mecanismos que levam a esses índices.
Espiritualidade na infância e adolescência
A espiritualidade na infância e adolescência é um dos temas centrais no Conupes 2025. Para Alexander, a espiritualidade nas crianças parece ser algo natural e espontâneo. “Às vezes, achamos que a religiosidade é algo que alguém ensinou para as crianças, mas os dados mostram que elas trazem isso de modo natural. Há uma discussão filosófica chamada sensus divinitatis, que sugere que temos um senso inato de perceber o transcendente. As crianças têm isso de forma muito clara.”
Janaína Sequeira complementa que a espiritualidade é adquirida, em grande parte, por meio da família e da educação. Ela explica que a criação e os valores transmitidos pelos pais desempenham papel fundamental no desenvolvimento espiritual das crianças. No entanto, ela considera importante que essa abordagem seja feita de forma positiva, evitando o que chama de “corpo religioso negativo”, onde a espiritualidade pode gerar revolta ou raiva. “Estamos trabalhando para orientar famílias e escolas sobre como abordar a espiritualidade de maneira que traga vivências e experiências positivas. A ideia é que as crianças possam vivenciar valores como gratidão, perdão e ajuda ao próximo, que são comuns a diversas tradições espirituais”, explica.
Estudos mostram que crianças que percebem uma conexão maior com Deus têm de 5 a 10 vezes mais chance de estar entre as mais felizes. Foi o resultado da pesquisa de Vivian Hagen. Orientada por Alexander, Vivian investigou mais de 200 crianças em Juiz de Fora. As crianças que valorizavam a espiritualidade não apenas se declaravam mais felizes, mas também apresentavam maior resiliência emocional, mesmo em situações desafiadoras.
Espiritualidade no envelhecimento e terminalidade
No envelhecimento e na terminalidade, a espiritualidade ganha papel ainda mais relevante como fonte de conforto, resiliência e sentido. Alexander explica que, à medida em que as pessoas se aproximam do fim da vida, é comum que busquem uma conexão mais profunda com o transcendente. “Quando estamos perto da morte, do envelhecimento ou de uma doença grave, é natural que nos apeguemos a Deus ou reflitamos sobre o sentido da vida. A espiritualidade ajuda a enfrentar esses desafios com maior sensação de propósito e bem-estar.”
Segundo a dupla, idosos com maior envolvimento espiritual tendem a lidar melhor com questões como perdas, doenças crônicas e luto. A espiritualidade oferece suporte emocional e social, especialmente em momentos de vulnerabilidade. Janaína destaca que, nessa fase da vida, a espiritualidade pode ser um recurso valioso para lidar com a solidão e a sensação de finitude. Para ela, a espiritualidade no envelhecimento não se resume apenas a práticas religiosas, mas também à busca por significado e à conexão com algo maior, o que pode trazer conforto e ajudar a enfrentar os desafios dessa fase com mais serenidade.
Espiritualidade e saúde mental
Alexander Moreira Almeida explica, ainda, que pessoas com maior envolvimento espiritual tendem a apresentar menores níveis de depressão, ansiedade e uso de substâncias, além de maior qualidade de vida e bem-estar “Hoje em dia, há centenas de estudos mostrando que pessoas com maior envolvimento religioso e espiritual têm menores níveis de depressão, menor uso de álcool ou outras drogas, menores índices de suicídio e maior qualidade de vida.”
A relação entre espiritualidade e saúde mental também foi reforçada por Janaína, que explica que a espiritualidade também promove valores humanos universais, como gratidão, perdão e ajuda ao próximo, que estão diretamente ligados ao bem-estar emocional. “Quanto mais as pessoas vivenciam valores como gratidão, perdão e ajuda ao próximo, maior é seu nível de felicidade. Esses valores são comuns a diversas tradições espirituais e religiosas.”
O que é o Conupes?
O Conupes é um congresso internacional que se consolidou como um local de discussões sobre a interface entre ciência, saúde e espiritualidade. Promovido pelo Nupes, o evento reúne profissionais de diversas áreas, como medicina, psicologia, enfermagem, história e educação, para explorar de forma interdisciplinar os efeitos da espiritualidade na saúde humana. Este ano, o congresso terá como foco a espiritualidade no ciclo da vida, abordando temas como infância, adolescência, envelhecimento e terminalidade.
As inscrições para o congresso podem ser realizadas aqui. Além dos dias 4 e 5 de abril, também acontecerá um pré-congresso no dia 3 de abril, no Instituto de Ciências Humanas da UFJF. Outras informações podem ser encontradas no site do congresso.