Retrospectiva 2024: a experiência de assistir o nascer do sol no Pico do Pião, em Ibitipoca

Visitar Ibitipoca é sempre uma experiência única. Em agosto deste ano, tive a oportunidade de revisitar essa paisagem, já conhecida, sob uma nova perspectiva: ao amanhecer, a caminho do Pico do Pião. A ideia partiu do colega Leonardo Costa e o objetivo era mostrar aos leitores da Tribuna um novo roteiro disponível para os turistas naquele mês: o trajeto para assistir o nascer do sol a 1.721 metros de altitude. 

Com a ideia aprovada e a parceria do guia Gabriel Fortes, da Sauá Turismo, combinamos os trâmites para a viagem, que começou na madrugada de quinta-feira, 15 de agosto. Especialmente naquela semana, uma frente fria tinha derrubado as temperaturas em Juiz de Fora e região. A preparação, para além da caminhada durante a madrugada, seria para enfrentar o frio intenso na serra. 

Fomos atrás de roupas térmicas, luvas, e separamos o lanche para a trilha. Saímos de Juiz de Fora às 2h, encontramos o Gabriel em Lima Duarte, e às 3h30 estávamos na portaria do Parque Estadual. O sono foi espantado com a expectativa do trajeto, mas o frio era de assustar. Os termômetros do Parque, no momento em que chegamos, marcavam 6 graus Celsius, o vento e a umidade faziam a sensação térmica parecer ainda mais baixa.

Com uma lanterna para iluminar o trajeto, começamos a caminhada. Admito que o caminho até o pico foi o que mais me impressionou. O Parque fica completamente diferente à noite. O céu é um espetáculo à parte, o mais estrelado que já vi. A caminhada de duas horas passou voando. Já nos primeiros quilômetros, o frio que tanto incomodava ficou de lado. Nos concentramos em registrar nossos passos em um vídeo, que depois seria publicado no Instagram da Tribuna de Minas. 

Traçar o caminho até o Pico do Pião ao lado do guia, Gabriel Fortes, deu ao trajeto maior peso simbólico. Gabriel é natural de Ibitipoca, membro de uma família tradicional da região. Além de me ajudar em diversas outras pautas sobre o Parque, ele traz consigo uma bagagem sobre a história e cultura da região que faz com que Ibitipoca se torne, muito mais do que um dos destinos turísticos mais procurados do estado, um reduto da história de Minas Gerais. 

Antes de se tornar um percurso turístico, o Pico do Pião abrigou uma capela destinada aos moradores do entorno. As ruínas ainda estão lá, atualmente com o altar e o piso ladrilhado. A Capela Senhor Bom Jesus da Serra foi construída em 1932, em meio a Revolução Constitucionalista. Moradores da região contam que a igreja foi levantada em agradecimento pelos habitantes do distrito que voltaram vivos após o conflito. No entanto, sem a manutenção adequada, com tempestades e raios frequentes, a capela foi deteriorando e retirada do pico na década seguinte.

Gabriel, que presenciou seu primeiro nascer do sol no Pico do Pião ainda na infância, afirma que retornar ao local é como reviver a magia daquele momento com os olhos de criança. “O mais fascinante é que, não importa quantas vezes você venha, nunca é igual. Cada nascer do sol é único, e você já começa a ansiar pela próxima vez”, afirmou o guia, à época.