Lições do Milton
O furacão que atingiu parte da Flórida, nos Estados Unidos, é, como tantos outros, resultado do aquecimento global, mas as providências para acolher as demandas ambientais são mínimas
Com os oceanos cada vez mais quentes, o registro de furacões e de outros eventos extremos será mais frequente em decorrência das mudanças climáticas. Pelas contas das autoridades da Flórida, nos Estados Unidos, pelo menos nove pessoas morreram, mas os dados definitivos só serão levantados após a população retornar às suas casas e as chuvas diminuírem. O Furacão Milton, que chegou à escala 5 antes de tocar no continente, ruma para o Oceano Atlântico, levando preocupação, agora, para os países do Caribe.
Os serviços de meteorologia são capazes de prever tais fenômenos, o que possibilitou a emissão de alertas à população, mas o pano de fundo de toda essa questão é o que virá pela frente. Com o aumento da temperatura da água dos oceanos, furacões serão mais frequentes e intensos, mas outros dados também já estão sendo registrados, como secas de longo prazo e fortes tempestades.
O Brasil, por estar no Hemisfério Sul, onde as águas do mar são mais frias, dificilmente terá um furacão, mas o Rio Grande do Sul, na fase mais crítica das chuvas, registrou tornados, cujas consequências também foram graves.
Todos esses fenômenos soam como tragédias anunciadas, pois a causa é basicamente a mesma: o aquecimento global. Durante décadas, o tema foi tratado apenas em encontros de especialistas, mas a população, ante tantas tragédias, já sabe do que se trata. As autoridades também.
No entanto, a despeito de todo esse manancial de informações, a tomada de medidas para mitigar os efeitos da instabilidade climática continua sendo um problema. Na sua campanha para retornar ao comando dos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump tem apontado para políticas que ampliam a emissão de gases, já que pretende aumentar a produção de petróleo no país.
Na Europa a situação é a mesma. O continente tem sido sede de cúpulas ambientais, mas, na prática, não houve avanços. No ano passado, os participantes do Fórum de Glasgow, na Escócia, repetiram o que já tinha sido dito em eventos anteriores. O mantra do aquecimento do planeta ainda não convenceu os países à tomada de duras providências.
Ainda este ano, o Brasil vai receber, no Pará, líderes de vários países, para discutir a mesma pauta. Será mais do mesmo ou será possível ver a luz no fim do túnel? Essa é a expectativa dos participantes e de outros atores que já se cansaram dos discursos e querem medidas objetivas.
O que a ciência aponta envolve também os prazos. O mundo pode chegar a um ponto em que não haverá retorno, e tudo o que for feito, a partir da daí, será apenas para redução de danos, sem possibilidade de solução.
No Brasil, o mês de outubro aponta para a chegada do ciclo das chuvas, mas, ao contrário do que ocorre nos EUA, não há sinais de alertas para a próxima temporada, que, pelos primeiros ensaios, pode ser mais grave do que a de 2024. As regiões mais propensas à ocupação desordenada – especialmente encostas – continuam sem controle, o que amplia a preocupação. Ademais, as obras para garantir a segurança da população, de novo, ficaram no papel, salvo as exceções.