O recado das urnas
As eleições têm o viés pedagógico tanto para vitoriosos quanto para derrotados; ambos devem avaliar o recado dado pelos eleitores
Pela primeira vez em sua história, após a adoção de dois turnos para cidades com mais de 200 mil eleitores, Juiz de Fora reelegeu a chefia do Executivo ainda na primeira rodada de votação. As urnas falam, e os números são emblemáticos e pedagógicos. Emblemáticos por consolidarem o projeto dos últimos quatro anos da prefeita Margarida Salomão e sua expectativa em novos avanços em todas as áreas de envolvimento público da cidade.
O viés pedagógico se apresenta para os concorrentes, que, a partir da eleição de domingo, devem reunir seus grupos e avaliar o recado das urnas. Durante a campanha, o foco principal foi a desconstrução do Governo vigente – que é próprio do jogo -, sem, no entanto, a apresentação de propostas consistentes. Muitas delas eram apenas para o palanque, e outras, sem consistência quanto à sua execução. O eleitor, em todos os quadrantes da cidade, conhece seu espaço e sabe quando o candidato está apenas jogando para a plateia.
É possível tirar lições das eleições. Com exceção de Victoria Mello, os demais candidatos já ocuparam postos na Assembleia ou no Congresso Nacional e sabem o que o eleitor espera dos candidatos.
Por sua vez, o mandato de reeleição tem desafios próprios, pois é fruto da expectativa do eleitor em avanços iniciados na gestão anterior. A comparação costuma ser perversa, e a experiência mostra que o desafio é maior.
Ainda na noite de domingo, a prefeita Margarida Salomão admitiu que o sarrafo subiu, mas enfatizou que a saída, agora, é pulá-lo. É próprio das ruas cobrar melhorias constantes nos serviços públicos. O que é bom, no entendimento do eleitor, pode melhorar. A cada ação, a próxima tem que levar a resultados mais eficientes. É o sarrafo.
Embora deva formar uma maioria importante na Câmara Municipal, a prefeita vai encontrar também uma oposição mais aguerrida e que vai manter acesa a chama da polarização. Esse é mais um desafio que, no entanto, não deve ser visto como um problema, já que faz parte do processo democrático. Até mesmo os antagonistas podem melhorar a gestão, sobretudo quando atuam assertivamente em defesa das causas de interesse coletivo. É do jogo.
Entre o resultado das urnas e a posse há uma agenda própria, que, no Executivo, envolve a formação das equipes – ou sua manutenção -, enquanto no Legislativo a pauta passa, necessariamente, pela Mesa Diretora. O comando da Câmara é estratégico tanto para o Legislativo quanto para o Executivo, embora este – como também ocorre na relação estadual e federal – sempre vá sustentar o discurso da autonomia, isto é, de que não vai se intrometer. Pura ficção.