Contra o avanço do crime
Operação do Gaeco revela a migração de criminosos para o estado e a importância de ações preventivas contra esse indesejado êxodo
Quando era secretário de Segurança de Minas Gerais, o ex-deputado Mauro Lopes dizia que o crime organizado não tinha espaço no estado e bandido aqui não ganhava fama. Sob seu comando, foi resolvido, em tempo recorde, um sequestro em Além Paraíba num tempo em que a prática era recorrente no Rio de Janeiro.
De fato, o estado, a despeito da sua vizinhança com o Rio, sempre se manteve alerta para algum tipo de migração, mas o próprio crime organizado ganhou novos contornos e ampliou sua capilaridade pelo país afora. Chefes das regiões Norte e Nordeste encontram abrigo em comunidades fluminenses e vice-versa.
A operação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) aponta para uma realidade distinta. Pelo menos quatro núcleos faccionados estão operando em Minas. Um de liderança, outro gerencial, um terceiro de corrupção e o quarto, de maior letalidade, operacional. Ele seria o responsável pela expansão do Comando Vermelho na Zona da Mata, com recrutamento de novos membros.
A operação, que ganhou o nome de Mecanismo, ocorre em Juiz de Fora, Muriaé, Cataguases e no Rio de Janeiro em razão de os serviços de inteligência terem detectado a presença de faccionados nestas regiões, o que não chega a ser surpresa, mas é preocupante.
A ação do Gaeco e de outros organismos de segurança se faz necessária para se antecipar à migração de criminosos de outros estados para a região, daí a importância de integração dos sistemas de segurança, como prevê o SUS da Segurança Pública. Os entes federados precisam de articulação frequente, a fim de evitar a propagação do crime.
Há cerca de duas semanas, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, foi ouvido por governadores do Consud, Consórcio que envolve os estados de Minas, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, quando teve a oportunidade de apresentar a sua tese de envolvimento mais direto da Polícia Federal em eventos de segurança nos estados.
Não é uma proposta simples, uma vez que, a despeito de ser uma prerrogativa dos estados e União, o novo modelo envolve também os municípios e cobra do Governo Federal mais recursos para as polícias estaduais. Os governadores querem mais repasses para atualizarem suas forças e ampliar a interlocução com a sociedade.
A matéria deve ganhar pressa pelos próprios acontecimentos. Ao lado da saúde e da educação, a segurança pública tornou-se prioridade da população. Em diversas regiões do país, grupos inteiros são reféns de criminosos que estabelecem verdadeiros estados paralelos, agindo como uma única fonte de poder nas comunidades.
É, pois, uma tarefa complexa, mas necessária, para garantir que o enfrentamento ao crime, independentemente do viés ideológico, se torne uma pauta coletiva e não apenas assunto de palanque, especialmente em períodos eleitorais.