ViolĂȘncia contra a mulher mobiliza conservadores e progressistas

A violĂȘncia contra a mulher ganha visibilidade, apĂłs anos em que era uma questĂŁo meramente privada

Por Paulo Cesar Magella

A violĂȘncia contra a mulher mobiliza eleitores conservadores e progressistas, mulheres e evangĂ©licos em especial, de acordo com a cientista polĂ­tica e pesquisadora da Fundação GetĂșlio Vargas, DĂ©bora ThomĂ©, ouvida pelo jornal Valor EconĂŽmico para analisar o AnuĂĄrio da Segurança PĂșblica. De acordo com o professor e tambĂ©m cientista polĂ­tico Raul MagalhĂŁes, da UFJF, “nĂłs estamos diante de um longo processo histĂłrico de criação de mecanismos para tornar visĂ­veis e punĂ­veis prĂĄticas que a sociedade brasileira sempre entendeu como questĂ”es meramente privadas, e que agora precisa repensar.”

Para muitos, a violĂȘncia contra a mulher Ă© entendida como parte da vida do casal

O professor acrescenta que “assim como a violĂȘncia contra crianças, a violĂȘncia domĂ©stica contra as mulheres ainda Ă© entendida por uma grande parcela da sociedade como parte da vida do casal, na qual o homem tem direitos sancionados por uma interpretação religiosa da superioridade masculina e obriga a submissĂŁo da esposa ao marido. Embora essas concepçÔes sejam explicitamente pregadas em cultos evangĂ©licos elas nĂŁo sĂŁo estranhas Ă  tradição catĂłlica, onde as mulheres estĂŁo longe de serem emancipadas, ou terem melhor status. Quando leis e o debate pĂșblico jogam luz sobre esse problema ele aparece como uma intromissĂŁo descabida numa esfera que deveria ser regulada apenas pelos homens/pais/maridos, como estĂĄ em textos religiosos escritos hĂĄ milĂȘnios.”

Dominação masculina ainda é um tema presente das discussÔes

Finalmente, o cientista polĂ­tico destaca que, “se fosse apenas um problema evolutivo, ou seja, se progressivamente as coisas fossem sempre melhorando em função do maior esclarecimento o drama nĂŁo seria tĂŁo grave. O problema Ă© que a democracia atual tem de conviver com forças que querem defender que a regulação moral da sociedade Ă© atribuição exclusiva da religiĂŁo. Isso leva a disputas que nĂŁo ocorrem apenas no Brasil. Nos EUA, por exemplo, o tema do direito ao aborto, estabelecido nos anos 1970 (mais de 50 anos atrĂĄs) jĂĄ deveria estar pacificado, no entanto vai reaparecer na disputa entre Kamala Harris e Donald Trump. Essas disputas mostram como o conservadorismo religioso e a dominação masculina ainda sĂŁo dominantes. Vale lembrar que muitos partidos polĂ­ticos no Brasil preferem burlar a lei que garante 30% de candidaturas femininas a terem deputadas e vereadoras comprometidas com seus programas, ou seja, infelizmente hĂĄ um longo caminho na mudança dessa realidade”, destacou.

Paulo Cesar Magella

Paulo Cesar Magella

Sou da primeira geração da Tribuna, onde ingressei em 1981 - ano de fundação do jornal -, jĂĄ tendo exercido as funçÔes de editor de polĂ­tica, editor de economia, secretĂĄrio de redação e, desde 1995, editor geral. AlĂ©m de jornalista, sou bacharel em Direito e Filosofia. TambĂ©m sou radialista Meus hobbies sĂŁo leitura, gastronomia - nĂŁo como frango, pasmem - esportes (Flamengo atĂ© morrer), encontro com amigos, de preferĂȘncia nos botequins. E-mail: [email protected] [email protected]

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