Proteção de dados e campanhas eleitorais

“A LGPD pode incentivar as campanhas a serem mais inovadoras e criativas em suas estratégias de engajamento”


Por Juliana Vargas Freire, Especialista em Marketing por Dados, Proteção de Dados e Governança da Informação, Data Protection Officer e sócia da Live Privacy; e Marcia Exposito, Data Protection Professional, sócia da Live Privacy e integrante da Comissão de Proteção de Dados e Inteligência Artificial da OAB/SP

04/08/2024 às 06h00- Atualizada 05/08/2024 às 19h14

A partir de 16 de agosto de 2024, as campanhas eleitorais no Brasil ganharão um novo marco com o início da propaganda eleitoral. Qualquer forma de publicidade ou manifestação com pedido explícito de voto antes dessa data pode ser considerada irregular e sujeita a multas.

A Lei Geral de Proteção de Dados transformou o tratamento de dados pessoais no Brasil, e esta será a segunda eleição municipal sob a sua vigência. É importante destacar que a lei estabelece exigências para proteger os dados pessoais e a privacidade dos eleitores. Isso apresenta desafios adicionais para os profissionais de marketing político, ao mesmo tempo em que oferece oportunidades para redefinirem as suas práticas em um ambiente digital cada vez mais regulamentado.

Um grande desafio para as campanhas é obter consentimento informado para o uso de dados com finalidades de marketing. No contexto eleitoral, isso significa que partidos e candidatos devem obter permissão explícita dos eleitores antes de enviar material de campanha e utilizar os seus dados para análises ou segmentações, ou para qualquer outra atividade que envolva o tratamento de dados pessoais.

Além disso, a LGPD impõe a necessidade de transparência, garantindo aos indivíduos o direito de acessar informações sobre como seus dados estão sendo utilizados de maneira conveniente e segura. Embora onerosa, essa exigência representa uma oportunidade para as campanhas fortalecerem a confiança com o eleitorado, demonstrando o compromisso com a proteção de dados.

As campanhas devem garantir que os dados coletados estejam protegidos contra acessos não autorizados, perdas ou vazamentos. As consequências de falhas de segurança são severas, não apenas em termos de penalidades legais, mas também devido ao dano reputacional para os candidatos e partidos envolvidos.

Conformidade com a LGPD não é apenas uma obrigação legal, mas pode ser uma vantagem competitiva. Campanhas que aderem às normas estabelecidas pela lei e utilizam os dados de maneira ética e transparente têm a oportunidade de se destacar positivamente, demonstrando respeito pela privacidade dos eleitores e fortalecendo as suas relações com o público.

A LGPD pode incentivar as campanhas a serem mais inovadoras e criativas em suas estratégias de engajamento. A necessidade de consentimento e as restrições no uso de dados podem estimular a busca por novas formas de comunicação que sejam eficazes, utilizando tecnologias emergentes e abordagens personalizadas que respeitem os limites da privacidade.

Dessa forma, a integração da LGPD no contexto da publicidade eleitoral é uma tarefa complexa que requer uma reavaliação significativa das práticas tradicionais. Porém as exigências também abrem portas para a inovação, colocando a proteção de dados no centro das estratégias eleitorais no país.

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