Plantamos no quintal duas mudas de buganvília. Uma, branca, à esquerda da porta da cozinha, junto ao muro dos vizinhos da casa de cima. A outra, vermelha, à direita, junto ao muro dos vizinhos da casa de baixo. Foram plantadas no mesmo dia, na mesma terra ruim, uma mistura de saibro e aterro com cacos de construção. Ocorre que a branca cresceu esplendidamente, florida e vibrante, enquanto a vermelha ficou raquítica e aborrecida no seu canto.
A buganvília branca se espraiou tanto que temos de ficar aparando para que não salte o muro e invada a casa dos vizinhos de cima. Um outro vizinho, de uma casa lá pra baixo, veio outro dia com umas ferramentas para estendermos um fio de náilon, criar uma trilha e dar forma à bicha, que aquele trem fica grande como os monstros tentaculares das histórias de Lovecraft, e não para mesmo de crescer. Enquanto isso, a outra, coitada, lá no cantinho dela, desmilinguida, recebendo os mesmos cuidados, sem ir pra frente nem pra trás.
Por algum tempo achamos que ela iria morrer mesmo. Caso perdido, melhor arrancar daí. Mas veio em casa um amigo jardineiro e afirmou que era bobagem. “Veja, ela está embaixo dessa baita costela-de-adão, a luz não chega nela. Quando um galho conseguir alcançar o sol, vocês vão ver que ela vai começar a se desenvolver.” Eu, que tenho por princípio acreditar em especialistas – não dou palpite em assunto de vacina, por exemplo, se não sou médico nem cientista, tampouco acredito que gente possa virar jacaré -, puxei um fiozinho de náilon e fiz um “caminho” para cima, de modo que o esmirrado galhinho chegasse à luz. “Venha para a luz, Carol Anne”, sussurrei.
E não é que, quando chegou ao esquálido bracinho verde, de arreliados espinhos ressequidos, o sol operou milagre? A danadinha começou a crescer e já avança muro acima, como uma pessoa que, sufocada por pensamentos ou pessoas sombrias, vê-se enfim iluminada por boas ideias e boas companhias. E então brilha. Água nunca lhe faltou, tampouco cuidado. Ressentia-se era de luz mesmo. E assim lhe brotaram no mês passado as primeiras flores, vermelhas e vivazes, aspirando ao céu que cintila fresco nesses dias inaugurais de inverno.