Estudo da UFJF aponta relação entre temperatura e número de casos de dengue
Temperaturas baixas, frias e extremas causam efeito protetivo, enquanto as moderadas a quentes aumentam o risco do desenvolvimento do vetor de transmissão
Um estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), publicado em março, aponta relação entre a média de temperatura em Minas Gerais e o número de casos de dengue. Segundo o artigo, a temperatura aparece “como um dos fatores mais importantes, ao influenciar em todas as fases da vida do vetor e do ciclo do vírus, limitando, permitindo e controlando cada um de seus aspectos”.
De acordo com a UFJF, foram analisadas as médias de temperatura de 38 microrregiões de Minas Gerais e a relação desses números com a quantidade de notificações de dengue registradas entre os anos de 2010 e 2019. O artigo é de autoria dos professores Letícia Ferreira e Mário Círio Nogueira, da Faculdade de Medicina (Famed); Cássia de Castro Martins Ferreira, do Instituto de Ciências Humanas (ICH); e Aripuanã Watanabe, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Também assinam o trabalho os alunos do curso de medicina Lucas Jardim, Pedro Augusto Valadares, Igor Ribas e João Pedro Medeiros.
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O artigo explica que as temperaturas baixas, frias e extremas causam efeito protetivo, enquanto as moderadas a quentes aumentam o risco do desenvolvimento do vetor de transmissão. Além da temperatura do ar, outras variáveis podem ser consideradas nas estratégias de combate à doença, como índices de seca, de poluição, de precipitação e seus padrões. Os autores do texto destacam, ainda, o efeito das mudanças climáticas, com temperaturas do ar cada vez mais extremas, o que pode afetar “a transmissão e as epidemias de dengue, modificando o padrão da doença e dificultando estratégias de intervenção no contexto de saúde coletiva”.
O trabalho foi publicado pela revista “Cadernos de saúde pública”, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e está disponível na íntegra na Biblioteca Científica Eletrônica On-line (Scielo, na sigla em inglês) após cerca de um ano de estudo pelos oito pesquisadores.
Meio termo da temperatura é ambiente ideal
O meio termo da temperatura é o ambiente ideal para as larvas do mosquito Aedes aegypti se propagarem, já que tanto em ambientes mais frios quanto em muito quentes elas não conseguem evoluir, segundo a professora Letícia Ferreira. O professor Mário Círio Nogueira acrescenta que muitas doenças, como a dengue, têm relação direta com a oscilação climática e, na maioria dos casos, isso não é levado em consideração.
De acordo com o estudo, em Minas Gerais, Ituiutaba, Januária e Governador Valadares são as cidades que possuem a temperatura mínima mais elevada (20,4 graus, 20,2 graus e 19,7 graus, respectivamente), ou seja, são lugares com risco elevado em relação ao vírus. Já Itajubá, Barbacena e Conselheiro Lafaiete, que têm as médias de temperaturas mínimas mais baixas (13,6 graus, 14,8 graus e 15 graus, respectivamente) são microrregiões mais protegidas em relação à dengue.
Para o professor Aripuanã Watanabe, o estudo pode ser usado pelo sistema de saúde brasileiro para fomentar estratégias de enfrentamento. “O artigo tem sua importância porque a gente trouxe para o Brasil, de uma forma geral, informações do exterior, aplicadas aqui. Ao meu ver, essa pode ser uma ferramenta na qual o sistema de saúde brasileiro pode passar a se basear.”
Cenário da dengue
O Ministério da Saúde já registrou, em 2024, mais de 4,5 milhões de casos prováveis de dengue, entre leves, moderados e graves. Só em Minas Gerais, um total de 1,3 milhão de notificações foram realizadas.
No próximo ano, os especialistas esperam que haja um retorno aos parâmetros esperados em relação ao número de casos, uma vez que historicamente as epidemias de dengue no Brasil são cíclicas. Além disso, o pesquisador Mário Círio Nogueira explica que, como há maior circulação dos tipos 1 e 2 da dengue no país, boa parte da população ficará imunizada em relação a essas variantes da doença.
A vacina disponível na rede pública a partir deste ano também pode ajudar no futuro, controlando o aumento dos casos e, principalmente, a gravidade da doença, ainda que as altas médias de temperaturas tragam novos desafios.