Moro num bom apartamento, grande, bem localizado, graças a Deus. Escolhido por estar estrategicamente próximo à casa de meus pais, hoje falecidos. Passados 16 anos, já tenho desejo de mudar. Os quase 50 degraus de escada me trazem cansaço, principalmente quando subo com as famigeradas sacolas de plástico do supermercado. Me lembro como se fosse hoje, compramos o apartamento de uma pessoa idosa que, pelo mesmo motivo, desejava dispor do imóvel. Chegou a minha vez: um pouco mais velho, planejo morar numa casa linear, com um único pavimento, e, claro, sem escada.
Apresento esse exemplo pessoal da minha realidade para chamar a sua atenção, prezado(a) leitor (a), de que precisamos pensar nos dias que virão e nos prepararmos, desde cedo, com ações desenvolvidas para a vivência do nosso envelhecimento. E não se trata de apenas estarmos atentos somente ao lado de fora da nossa casa, como eu citei, da presença da escada; mas, também, precisamos observar como está a sua organização interna: como está a disposição dos móveis e dos equipamentos que pertencem às nossas tarefas domésticas?; A iluminação interna me permite ter tranquilidade? Sinto-me seguro e independente? Ou a senhora já caiu várias vezes e continua colocando a culpa no chinelo que ganhou no Natal do ano passado?
Só um registro técnico aqui nesse momento. O número de pessoas idosas caidoras aumentou muito nos últimos anos. Como se percebe, as principais ocorrências de quedas em pessoas idosas acontecem dentro de casa. E é muito comum, de um modo geral, a gente subestimar ou desprezar essa realidade: deixar para lá. Ah, eu caí porque escorreguei no chão que estava molhado. Essas quedas dentro de casa não são normais. Quem cai de maduro é fruta! Nossa casa tem que nos oferecer bem-estar e segurança. Tapete pode ser bonito, mas se estiver solto é um grande inimigo para nossa integridade física. Os pets são muito bem-vindos, mas precisamos saber lidar com eles. Educá-los.
É preciso que a gente aprenda com a vida que nós vamos envelhecer. E que o meu corpo vai sofrer alterações que, necessariamente, não vão me impedir de viver com autonomia e independência, mas eu preciso me preparar para uma nova realidade de ser uma pessoa idosa. Minhas respostas fisiológicas estarão mudadas. Os órgãos dos sentidos – olfato, visão, tato, paladar e audição -, que é por onde a gente tem a vida, podem apresentar alterações em suas funções. Mas isso, de jeito nenhum, significa que eu estou doente e incapacitado. Nada disso. Minha casa tem que me acolher nessas novas condições físicas e emocionais em que me encontro.
O recado que eu desejo deixar aqui nessas linhas de hoje é o de que o futuro é o nosso envelhecimento, e para vivermos essa nova e rica possibilidade é importante que, o quanto antes, a gente se organize e se prepare em todos os níveis da vida para vivê-lo com autonomia e independência. As adaptações domiciliares e em outros lugares da nossa vida na velhice são fundamentais, e para tanto, as ofertas dos serviços e dos produtos comercializados devem levar em consideração a realidade e o alcance da competência funcional de todos nós que envelhecemos. A começar, por exemplo, pelos receituários dos profissionais de saúde – ainda bem que a receita impressa no computador vem facilitando bem o que ali está prescrito. Os saquinhos para embalar os “hortifruti” dos supermercados. Que luta, meu Deus, para abri-los. E assim vai. Ou seja, o mercado ainda não chegou para valer ao encontro das pessoas idosas potencialmente consumidoras em suas necessidades básicas.