Policial militar da reserva é denunciado por extorsão e ligação à contravenção envolvendo jogo do bicho
Um dia após confecção do boletim de ocorrência e prisão de militar, ele teve alvará de soltura expedido
Um policial militar da reserva, 52 anos, foi denunciado por exigir dinheiro para não fechar estabelecimentos comerciais que funcionavam para jogo do bicho, no município de Goianá – cidade localizada a cerca de 40 quilômetros de Juiz de Fora. Segundo informações do Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), o suspeito teria dito que compartilharia o valor com “outros policiais militares”.
A denúncia foi feita por duas lojistas, 50 e 58 anos, que teriam sido vítimas da extorsão do homem. Durante a ação, uma delas gravou a conversa; o material foi colocado como cópia em um pen drive e entregue à polícia.
O suspeito chegou a ser preso no dia 8 de fevereiro. No entanto, no dia seguinte, a Justiça expediu alvará de soltura. Ele vai responder criminalmente na Justiça Comum, de acordo com a nota da Polícia Militar, enviada à imprensa na manhã desta quarta (14). “Será instaurado processo administrativo disciplinar pelo Comando da 4ª Região de Polícia Militar”.
No seu depoimento, uma das vítimas, que trabalha em uma loja – que supostamente funcionava como ponto de contravenção para o jogo do bicho – na tarde do dia 3 de fevereiro, um homem vestido com trajes civis entrou no estabelecimento e se apresentou como policial. Em seguida, exigiu o montante de R$ 6 mil – que seria pago durante três meses, em parcelas de R$ 500 por semana – para a polícia não fechar o estabelecimento. Ele acrescentou que retornaria para buscar. Segundo consta no Reds, ao qual a Tribuna teve acesso, o militar da reserva teria dito, ainda, “que tal valor seria dividido por ele com outros polícias militares”.
Dois dias depois, policial retornou ao estabelecimento
No dia 5 de fevereiro, uma segunda-feira, o policial retornou ao estabelecimento, a fim de buscar o valor exigido. Diante da negativa da funcionária, ele afirmou que voltaria ao local para ser pago na sexta-feira (9). Na nova data estipulada, o valor de R$ 1 mil deveria ser entregue a ele, caso contrario, o policial militar da reserva, supostamente, arrumaria “companheiros” para fechar a loja.
Era sábado (10), quando a lojista, que vinha sendo extorquida, descobriu que outra comerciante passava pela mesma situação em um outro estabelecimento, que também era, supostamente, ponto para o jogo do bicho.
Segunda vítima
A segunda comerciante relatou à polícia que, há cerca de uma semana, o policial foi até seu estabelecimento, uma loja de produtos gerais e local que ocorria contravenção. De acordo com ela, “provavelmente” também era dia 3 de fevereiro, quando ele foi até o estabelecimento com traje civil, se apresentando, novamente, como militar e exigindo dinheiro. À mulher, ele justificou que precisava do dinheiro porque tinha um filho autista.
Ainda no depoimento, a vítima disse ter sido induzida a pedir o dinheiro ao seu patrão e, caso isso não fosse feito, ele pegaria tudo dentro da loja e, em seguida, iria fechá-la. A mulher teria respondido que faria o contato com o chefe. O que acabou acontecendo.
No entanto, seu patrão a teria orientado a não entregar mais dinheiro ao policial, pois ele já havia pago uma quantia de R$ 600 ao mesmo suspeito há cerca de 15 dias. Na ocasião em que a quantia havia sido entregue, o militar justificou que a exigência ocorria para ter condições de levar o filho ao médico e trocar os pneus do carro. A mulher relatou ter receio de represálias.
Vítima grava a conversa como prova
A primeira vítima revelou que, tão logo terminou o seu depoimento, ainda no interior da delegacia, contou ter recebido uma ligação de um funcionário da loja em que trabalha. Na chamada, foi dito que o policial estava em sua loja, aguardando por ela.
Logo que chegou, o dinheiro foi novamente exigido, desta vez, mediante a “grave ameaça” – não é especificada no Reds. Durante a conversa, a vítima começou a gravar com seu celular o que estava sendo falado.
A gravação
Trechos da gravação feita pela vítima foram incorporados à ocorrência. Dentre eles, o que o suspeito teria dito que “iria pegar o motoboy, que presta serviço para a loja, e todo o dinheiro”. O depoimento também indica uma suposta ação em que o policial teria tirado foto da placa da moto utilizada pelo motoboy.
A justificativa usada para solicitar o dinheiro, desta vez, era uma televisão quebrada e, novamente, o filho autista. Também estão presentes falas que apontam para um esquema de bicheiros com envolvimento de outros agentes de segurança pública.
Por fim, o suspeito destacou que teria que ir a outra cidade, onde estaria o chefe de um dos pontos de jogo de bicho, para pegar o dinheiro pessoalmente. Logo após, ele pegou o carro e foi embora. As mulheres retornaram a delegacia.
O veículo foi visto pela guarnição policial da cidade de Goianá em alta velocidade e passou a ser perseguido. Na entrada de Coronel Pacheco, cidade em que o suspeito reside, ele foi abordado pela PM.
O carro em que ele estava, não possuía licenciamento e, por isso, foi apreendido e encaminhado para o pátio do Detran. No veículo também foi encontrada uma munição intacta, calibre .38, que correspondia a arma particular registrada pelo policial da reserva. O celular dele também foi apreendido.
Aos policiais o militar negou as acusações. Disse, entretanto, já ter ouvido falar do envolvimento do chefe de um dos estabelecimentos com o jogo do bicho. Segundo ele, o homem teria ficado de lhe dar quatro pneus novos há cerca de um mês.
No entanto, o suspeito recebeu voz de prisão em flagrante pelo crime de extorsão. A nota oficial enviada pela PM destaca que o veterano recebeu alvará de soltura no dia seguinte, mas que responderá a processo administrativo.