Ăreas de competĂȘncia
Futuro ministro da Justiça terĂĄ desafios importantes, a começar pela integração das polĂcias estaduais e federal
Depois de exercer por 17 anos o cargo do ministro do Supremo Tribunal Federal, o jurista Ricardo Lewandowski deve ocupar o ministĂ©rio da Justiça, apĂłs a ida do ministro FlĂĄvio Dino para o STF, no qual toma posse no mĂȘs que vem. A troca de cadeiras faz parte do jogo. A questĂŁo central sĂŁo os desafios que o ministro irĂĄ enfrentar numa das principais pastas do Governo. Em princĂpio, Segurança PĂșblica e Justiça deverĂŁo continuar sob a mesma gestĂŁo, embora, diante de tantos problemas pelo paĂs afora, fosse aventada a possibilidade de a Segurança ocupar um ministĂ©rio prĂłprio.
NĂŁo se sabe o teor da conversa do presidente com o convidado, mas Ă© possĂvel prever que ele sĂł aceitou o cargo com a manutenção do atual formato. Nesta quarta-feira, os jornais especularam que o presidente fez apenas dois pedidos: a manutenção do atual diretor-geral da PolĂcia Federal, delegado Andrei Rodrigues, e do secretĂĄrio-executivo Ricardo Capelli. O primeiro pedido foi prontamente aceito, mas a secretaria-executiva nĂŁo estĂĄ totalmente decidida, pois Lewandowski teria dito que hĂĄ outros nomes em avaliação. Em tese, foi um nĂŁo ao pleito. A conferir apĂłs a posse.
Com ou sem Capelli como o seu nĂșmero dois, o futuro ministro da Justiça terĂĄ desafios imensurĂĄveis ante os dados da prĂłpria segurança pĂșblica que sĂŁo preocupantes. Em vĂĄrios estados – a começar pelo Rio de Janeiro – a situação Ă© crĂtica ante a desconfiança com as polĂcias estaduais. Dois exemplos sĂŁo emblemĂĄticos. No final do ano passado, ante o cerco que estava aumentando, o miliciano Zinho, o mais procurado no Estado, se apresentou Ă PolĂcia Federal. Seu irmĂŁo, Ecko, a quem sucedeu, chegou a ser preso e, misteriosamente, foi morto dentro de um camburĂŁo sob o argumento de ter resistido a prisĂŁo.
Outro caso. Na terça-feira, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, foi Ă s redes sociais para pedir a intervenção da PolĂcia Federal numa questĂŁo que deveria, necessariamente, ser resolvida pelas polĂcias Civil e Militar do Rio. Os traficantes, ou milicianos, estariam exigindo o pagamento de R$ 500 mil para autorizar a construção de uma praça. Diz o prefeito âAtenção PolĂcia Federal e ministro Ricardo Capelli, recebi agora informaçÔes de que o crime organizado estĂĄ pedindo dinheiro para a empreiteira responsĂĄvel pelas obras do Parque Piedade onde funcionava a antiga faculdade Gama Filho. Ameaçam paralisar as obras caso o pagamento nĂŁo aconteça. Obviamente nĂŁo vamos aceitar. Maiores informaçÔes com o secretĂĄrio de Ordem PĂșblica delegado Breno Carnevale. Valor da obra Ă© de R$ 65 milhĂ”es e eles estĂŁo pedindo R$ 500 mil.â
A PolĂcia Federal, sob o manto do MinistĂ©rio da Justiça, estĂĄ acolhendo demandas que sĂŁo prĂłprias do Estado ante a falĂȘncia do sistema em diversos entes federados. TambĂ©m na terça-feira, o delegado-geral, que o presidente Lula quer manter no cargo, disse que a PF espera finalizar em breve as investigaçÔes sobre a morte da vereadora carioca Marielle Franco. Outra agenda, em tese da PolĂcia Civil do Rio.
A integração das forças de segurança Ă© uma necessidade, a fim de garantir que haja diĂĄlogo e troca de informaçÔes para enfrentar o crime que, mesmo nĂŁo sendo tĂŁo organizado como se diz, tem avançado em vĂĄrias frentes. Esta serĂĄ uma agenda das eleiçÔes do ano que vem – embora seja um pleito municipal – e de 2026.