Conheça a história do primeiro jogo de Zagallo como profissional, em Ubá
Partida que marcou a estreia do ‘Velho Lobo’ aconteceu em 1948, com vitória do América-RJ sobre o Aymorés por 2 a 1

Na noite da última sexta-feira (5), Mário Jorge Lobo Zagallo morreu, aos 92 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. O “Velho Lobo” deixou um legado inigualável para o futebol brasileiro, com quatro Copas do Mundo conquistadas, duas como jogador, em 1958 e 1962; uma como técnico, em 1970; e outra como coordenador técnico, em 1994; além de um amor incondicional pela Seleção Brasileira. O que poucos sabem é que a carreira vitoriosa de Zagallo teve como ponto de partida a Zona da Mata. O tetracampeão mundial, atuando pelo time de base do América-RJ, entrou em campo pela primeira vez como profissional aos 17 anos em 1948, contra o Aymorés, em Ubá.
Nilson Morais, empresário, historiador e fundador do Museu Itinerante do Futebol, escreveu uma matéria a respeito do primeiro jogo de Zagallo como profissional para o jornal “O Noticiário”, de Ubá. Morais relembra como descobriu a história. “Quem me deu esse furo foi José Gualberto de Melo, um antigo jornalista autodidata de Ubá. Ele me disse: ‘O Zagallo esteve em Ubá na década de 1940. Ele veio jogar aqui, era o América Júnior contra o time do Aymorés’. Achei muito bacana, e resolvi averiguar isso”, relata.
“Na época a gente estava passando pelo centenário do Ary Barroso, em 2003, eu fazia parte da comissão e sempre tive uma abertura muito grande na Granja Comary. Em uma dessas minhas idas à Granja Comary, estive pessoalmente com o Zagallo, e falei com ele: ‘Zagallo, a gente está comemorando o centenário do Ary Barroso. Você tem alguma história de Ubá?’. E ele disse: ‘Ubá foi minha vida, cara. Eu fui jogar lá, peguei um trenzinho, e pela primeira vez saí de casa para jogar futebol. Fui na terra do Ary Barroso’”, complementa Nilson, recordando de seu encontro com o Velho Lobo.
Depois de publicar a reportagem, Nilson ganhou uma segunda oportunidade de ter contato com Zagallo. Em 2007, no programa especial de fim de ano do “Bem, Amigos”, do SporTV, Morais presenteou o Velho Lobo com um pôster da primeira partida do tetracampeão mundial como profissional. “Eu comentei com o Sassá e com o Ingo, produtores do ‘Bem, Amigos’, e rolou esse convite para que eu fosse lá apresentar no programa esse banner, e entregar para o Zagallo”, explica.
A participação de Nilson, inicialmente, seria resumida a apenas levar o pôster para o Maracanã, local em que o programa aconteceu na época. Porém, Galvão Bueno, apresentador do “Bem, Amigos”, resolveu chamar o historiador para participar e entrar ao vivo de surpresa. “Ele (Galvão) resolveu me chamar porque achou a história fantástica. Poder ter descoberto a primeira vez que o Zagallo jogou futebol fora de casa, que foi em Ubá, e que o próprio Zagallo narra: ‘Peguei um trenzinho para jogar lá em Ubá’”, relembra Morais.

A primeira partida de Zagallo como profissional terminou com vitória para o time do Velho Lobo: 2 a 1 para o América-RJ. Na conversa que teve com Nilson, Zagallo destacou a atuação de dois meio-campistas do Aymorés, e o ‘gol que Pelé não fez’. “O Zagallo me contou que tinha dois meias que chamaram muita atenção dele. Um é o Nardinho, e o outro é o Sebastiãozinho’. Todos os dois eram muito craques e arrebentaram com o jogo. Mas quem fez o gol do Aymorés foi o Sebastião Gravina, do meio de campo. Foi um golaço, um gol estilo Pelé. E o América Júnior montou um time de garotos, que tinha o Zagallo e o Leone, lateral que mais tarde jogaria no Flamengo, e conquistaria o tricampeonato carioca, em 1953, 1954 e 1955”, recorda o historiador.
Zagallo e Seleção se misturam
A história de Zagallo se confunde com a da Seleção Brasileira. Presente em quatro das cinco conquistas mundiais do Brasil, o Velho Lobo é o sinônimo da camisa mais vitoriosa do futebol mundial, conforme analisa Nilson. “A história do Zagallo com a camisa amarela é muito grande. Na final da Copa do Mundo de 1958, contra a Suécia, ele fez o seu primeiro gol pela Seleção, o quarto daquela vitória por 5 a 2, e se emocionou muito, mostrando ali a sua identificação com o Brasil. Em 1958, ele reinventou a posição, porque fazia aquele ponta-esquerda que fechava o meio de campo e voltava para marcar, o que era inédito”, recorda.
“Em 1962, ele foi fundamental para o Brasil. Em 1970, foi campeão, dessa vez como treinador, e voltou em 1994, como coordenador técnico. É o único homem tetracampeão do mundo. Ele marcou a história, o amor dele pela camisa amarela foi indescritível. Não tem como se dimensionar isso. Ninguém no mundo amou mais a camisa amarela. Ninguém mais representou com tanta ‘brasilidade’, essa vontade de vestir a camisa”, afirma.
O legado de Zagallo
Para Nilson, o legado que Zagallo deixa para quem não o viu jogar e comandar a Seleção, além do amor pela camisa amarela, é a esperança. “O Zagallo sempre acreditou que o futebol brasileiro poderia dar uma reviravolta, poderia virar esse jogo. A gente chega em 94 totalmente desacreditado. A gente saiu para a Copa de 70 totalmente desacreditado. Ele chega em Guadalajara, sede do Brasil naquele mundial, e põe cinco ‘camisas 10’ para jogar”, exalta.
“O Zagallo pode ser muito bem usado para essa nova geração que está chegando aí, e mostrar que não tem nada perdido. O Brasil tem vários jogadores de muito talento despontando, como Vitor Roque, Vinícius Júnior, Rodrygo, Endrick. Esse tipo de coisa tem que ser passado: a importância da camisa amarela e a esperança em nossos jogadores”, acredita.
*Estagiário sob supervisão do editor Gabriel Silva