O Estado tem que reagir
A discussão sobre a segurança pública passa, necessariamente, por várias frentes, pois só com projetos integrados será possível enfrentar o crime organizado, que age com mais violência e sofisticação
Mais um ataque a uma escola com saldo de uma jovem de 17 anos morta, desta vez em São Paulo, e a queima de mais de 30 ônibus na Zona Oeste do Rio de Janeiro, após a morte do sobrinho de um miliciano, foram as principais pautas desta segunda-feira no noticiário policial. Os dois acontecimentos são resultado de outros eventos, como bullying nas escolas e o governo paralelo do crime organizado no estado vizinho.
A segurança pública tornou-se, pois, uma agenda permanente e necessária para avaliar causas e efeitos de políticas públicas associadas ao trabalho das instâncias de segurança. Por isso, A 2ª Conferência de Segurança Pública que começa nesta terça-feira em Juiz de Fora, e se estende até amanhã, é fundamental para avaliação de medidas que devem ser tomadas para evitar cenas como as desse início de semana.
As imagens do Rio remetem a um cenário de guerra, numa clara demonstração do poder dos grupos – tráfico e milícia – que se instalaram na cidade. Paradoxalmente, esse novo episódio ocorre na mesma data em que a Força Nacional envia mais 150 homens para auxiliar na segurança nas vias expressas, nas quais há um volume acentuado de ocorrência e por onde é escoada a droga. No mesmo Rio, na semana passada, foram apreendidas 16 toneladas de maconha em caminhão que estava sendo escoltado por policiais civis. Todos foram presos, mas o registro é emblemático em apontar a combinação de agentes do Estado com o crime organizado.
Minas Gerais vive um cenário diferente, mas está cada vez mais nítido a necessidade implementação de medidas novas preventivas que se explicitam não apenas na necessária ação das polícias e seus serviços de inteligência, mas também na combinação de outros fatores como políticas públicas nas áreas de saúde, educação e de infraestrutura. Hoje, as prefeituras fazem parte do processo, pois é nas cidades que tudo acontece.
A 1ª conferência, em 2019, já tinha apontado para uma série de demandas que se faziam necessárias ainda naquele período. Uma delas implicava na extensão do programa Fica Vivo, hoje com apenas uma unidade em Juiz de Fora, instalada no Bairro Olavo Costa. Trata-se de uma experiência de sucesso que carece de ser implantada em regiões do município. Hoje, é consenso que a Zona Norte também precisa deste investimento.
Outro ponto relevante é a finalização das obras do Ceresp, a fim de esvaziar especialmente a Penitenciária Ariosvaldo dos Campos Pires e resolver a ação provisória de fazer da Delegacia de Matias Barbosa a porta de entrada do sistema.
São muitas as questões a serem discutidas nessa segunda etapa, sobretudo pela dinâmica dos fatos. As cidades são vivas e com elas proliferam as virtudes, mas também as mazelas, o que faz do Estado, como um ente, a atuar nas muitas frentes da segurança pública. O trabalho coordenado é vital assim como atualização dos dados. O que ora se vê nas principais metrópoles do país é fruto de inações que agora precisam ser redobradas para reverter o quadro. Não é uma tarefa fácil, pois o crime adota medidas cada vez mais sofisticadas para garantir o seu poder de dominação.