Descubra Chubut, na Patagônia: a Última Fronteira do Vinho Argentino
A convite do Consejo Federal de Inversiones, órgão governamental da Argentina, estive em Chubut, província da Patagônia, para conhecer o trabalho pioneiro de produção de vinhos de 10 fantásticas vinícolas.
Estimado Enoleitor:
É possível que você nunca tenha ouvido falar de Chubut. Se está familiarizado com o local, provavelmente o conhece por suas notórias e belas paisagens naturais.
A província de Chubut, localizada na Patagônia argentina, faz fronteira com as províncias de Río Negro, Neuquén, Santa Cruz e se estende desde a Cordilheira dos Andes, divisa com o Chile, a oeste, até o Oceano Atlântico, a leste. Fundada por povos indígenas, também recebeu a influência de imigrantes galeses, que lá se instalaram, no século XIX. Esquel, uma de suas principais cidades, é um charmoso destino para os amantes de esqui e do turismo de aventura.
O clima da província é frio e semiárido e seus solos variados, em sua maioria de origem vulcânica, são muito favoráveis para a exploração de recursos minerais e para os cultivos orgânico e biodinâmico dos mais variados produtos.
Rios como o Chubut e o Senguer são vitais para a pesca e irrigação agrícola. A região é famosa pela pesca esportiva, principalmente trutas, e pela exportação de mariscos, lagosta, merluza e lula, encontrados nas águas frias do Atlântico.
Um dos mais famosos pontos turísticos é a Piedra Parada, uma formação rochosa impressionante com mais de 260m de altura, que atrai escaladores e trilheiros em busca de aventuras e vistas privilegiadas. Mais de 20% do território da província goza de proteção ambiental, incluindo o Parque Nacional Los Alerces e a Reserva Natural Punta Tombo, lar da maior colônia de pinguins da América do Sul.
A vitivinicultura é uma atividade emergente na região e algumas poucas vinícolas, espalhadas em diferentes áreas da província, vêm se destacando pela produção de vinhos de alta qualidade. Inclusive, veja você, amigo leitor, o vinhedo mais austral do mundo encontra-se em Chubut, mais precisamente no paralelo 45 sul, em Sarmiento.
Antes de te apresentar algumas das principais vinícolas e vinhos que tive o privilégio de conhecer, quero chamar a tua atenção para um detalhe: a impressionante qualidade da pinot noir produzida na região.
Eu me pergunto: será a Patagônia o terroir ideal para a casta?
Emanuel Rodríguez, engenheiro agrônomo e proprietário da Viñas de Nant Y Fall, que nos recebeu para um jantar de boas-vindas em Esquel, na primeira noite, afirmou:
“Se você não vive Chubut, você não a entende”. Ele destacou que tudo na viticultura desta região é totalmente único em comparação com outras partes do mundo.
A Pinot Noir ilustra essa realidade de forma excepcional. Essa uva delicada e temperamental, de casca fina, bagos pequenos e ciclo de maturação curto, revela todo o seu potencial em climas frios. A “pinot negro”, como é conhecida localmente, é a favorita dos viticultores de Chubut, que estão produzindo vinhos muito distintos e únicos, moldados diretamente pelas condições peculiares do clima.
A região desafia os produtores com temperaturas extremas de calor e frio. Essas flutuações fazem a planta desacelerar seu crescimento, reforçar sua casca protetora e prolongar o seu ciclo. Como resultado, os Pinot Noirs da Patagônia, especialmente de Chubut, são menos alcoólicos do que os de regiões mais quentes, possuem acidez marcante e cores intensas, além de apresentarem distintos aromas de frutas vermelhas, especiarias e um caráter mineral, principalmente os da região central, a Meseta.
Tive a oportunidade de provar Pinots absolutamente fascinantes, alguns vibrantes e voluptuosos, outros mais austeros, delicados e sofisticados. Eu perguntei e já respondo para você: sim, Chubut está a caminho de ser reconhecida como uma das melhores regiões produtoras de Pinot Noir do mundo.
Agora, vou te apresentar as 3 regiões que visitei e suas principais vinícolas.
Começamos pela Meseta Central, explorando a árida região de Paso del Sapo e os arredores do município de Gualjaina.
Bodega Rincón de Los Leones
Nossa primeira parada foi na Bodega Rincón de Los Leones, na Estancia Los Robles. Localizada em Paso del Sapo, no coração do Planalto Central da província, as terras foram adquiridas por um grupo de amigos, em 2006. Às margens do Rio Chubut, a antiga propriedade fazia parte da rota dos galeses.
Juan Eduardo Giacomino, um dos proprietários que nos recebeu, contou que investiram na restauração da sede e na implantação dos primeiros vinhedos de Chardonnay, em 2010, contando com a consultoria do enólogo Matias Michelini.
O clima árido, com 300 dias de sol e uma amplitude térmica diária de mais de 25 °C, aliado a solos aluviais, de boa drenagem, permitem o cultivo biodinâmico. As variedades plantadas incluem pinot noir, merlot e pinot gris, além da chardonnay.
Provamos o Chardonnay Genesis 2023, ainda em tanque, que nos surpreendeu por sua complexidade e estrutura. O vinho é fermentado com as cascas e apresenta aromas de frutas tropicais, temperados por salinidade e mineralidade em boca. Para os amantes de tintos, há um corte de pinot noir, cabernet franc e merlot. Por toda a sua atmosfera rústica e histórica, Los Robles merece a visita. A propriedade oferece hospedagem e a oportunidade de uma verdadeira experiência de integração com a natureza.
Hostería Mirador Huancache
A 65 km oeste da mítica rota 40, localizada no coração de Gualjaina, próxima à entrada da Piedra Parada, está a Hostería Mirador Huancache. A bela propriedade oferece aos turistas uma experiência imersiva completa, com passeios de helicóptero, trekking, pesca, além de hospedagem em chalés exclusivos e experiências gastronômicas típicas, preparadas pessoalmente pelos proprietários.
O projeto é dirigido pelo casal Laura Galdámez e Daniel Fermani, que se mudou de Buenos Aires para a extrema região em busca de “novos ares”, literalmente. Com a ajuda dos filhos, construíram a estrutura do zero e plantaram as primeiras vinhas, em 2017.
As videiras crescem em solos vulcânicos, ricos em minerais. O clima frio e as geadas são desafios superados através da utilização da técnica de irrigação por aspersão e do monitoramento preciso das condições climáticas, através de uma central meteorológica instalada no meio dos parreirais.
A produção de vinhos é limitada e artesanal (em torno de 2.800 garrafas). Plantam chardonnay, pinot noir, sauvignon blanc, merlot e uma casta mais rara, a aspirant bouschet. Os vinhos são encantadores, aromáticos, frescos e puros. São comercializados apenas por lá, por cerca de 40 dólares a garrafa.
Cielos de Gualjaina
“Integrando-nos à terra, guiados pelo céu”, é o lema do casal Mariano Miretti e Alejandra González, proprietários da bodega Cielos de Gualjaina. Professores por formação (biologia e geografia, respectivamente), apostaram na viticultura e no enoturismo como meios poderosos de fomentar a vida socioeconômica da província.
Após um início um tanto quanto frustrante e desanimador, por conta das condições climáticas extremas, o casal acertou o passo a partir de 2016, com a implantação de mudas de chardonnay e gewürztraminer e a implementação da técnica de irrigação por aspersão, para o combate a geadas. Focados na produção artesanal e biodinâmica, com foco em vinhos puros e autênticos, sua primeira tiragem comercial, em 2021, já emplacou 2 rótulos de 92 pontos pelo crítico e Master of Wine, Tim Atkin.
A produção atual é de 1500 garrafas, com planos de chegar a 10.000, até 2027. A vinificação é cuidadosa, incluindo experiências em ânforas de argila e a utilização de cantos gregorianos durante a permanência dos vinhos na adega. Mariano afirma que as futuras garrafas serão lançadas com um QR Code para que o consumidor desfrute da mesma música que “embalou” o repouso do vinho.
No segundo dia de visitas, partimos para Trevelín, 24Km ao sul de Esquel. Trevelín, no que diz respeito a vinhos, é uma das mais novas indicações geográficas (IG) da Argentina, alcançada em 2020.
Nesta bela área, encontram-se Casa Yagüe, Viñas de Nant Y Fall e Contra Corriente.
Casa Yagüe
A Casa Yagüe, a apenas 22 km de Trevelín, é um verdadeiro refúgio no coração da natureza, situado nas proximidades do deslumbrante Parque Nacional Los Alerces, a 400m do Rio Futaleufú.
Os visionários por trás deste empreendimento são o casal Marcelo Yagüe e Patrícia Ferrari, que desembarcou na área em 2004 e, ao longo dos anos, construiu as instalações que agora acolhem e encantam visitantes de todo o mundo.
A propriedade oferece uma gama impressionante de opções para os hóspedes, incluindo chalés privativos e aconchegantes com capacidade para quatro ou mais pessoas, atividades ao ar livre como cavalgadas e trilhas, lagoas naturais e uma piscina, além de experiências gastronômicas exclusivas, criadas pela própria família.
A Casa Yagüe é um exemplo notável de um local bem-sucedido nas práticas de agricultura sustentável, holística e regenerativa. Possuem gado da espécie Angus Negros, ovelhas, hortas, frutas finas, plantas aromáticas e, claro, vinhedos orgânicos e cultivados em pé franco.
O primeiro hectare de vinhas, plantado com chardonnay e sauvignon blanc, surgiu em 2014. O vinho resultante, lançado em 2017, impressionou positivamente a crítica especializada. Impulsionada pelo feedback positivo, a família aprofundou seus conhecimentos técnicos e, com mais confiança, expandiu as variedades plantadas, incluindo semillón, marsanne, cabernet franc, pinot noir e malbec.
A sanidade e o grau de maturação excepcionais alcançados pelas uvas eram tão notáveis que os incentivou a dar um passo além. Encomendaram estudos criteriosos, que foram conduzidos na região, de 2018 a 2020, viabilizando a conquista da Indicação Geográfica (IG) para Trevelín.
A localização da vinícola, a uma latitude de 43,10°S, a segunda mais baixa da província, é um fator fundamental para a excepcional acidez natural de seus vinhos, responsável pelo frescor que sentimos em boca. Os varietais de sauvignon blanc, chardonnay e sémillon destacam-se também pela precisão da fruta, elegância e mineralidade.
O Sémillon, lançado pela primeira vez em 2022, é particularmente notável e eu me encantei por ele. A vinificação ocorre em barricas francesas tostadas com pedra vulcânica, totalmente orgânicas, proporcionando complexidade e estrutura, sem a interferência dos sabores da madeira. É um vinho gastronômico, elegante, mineral e com grande potencial de envelhecimento, que certamente atrairá entusiastas de vinhos brancos de guarda em todo o mundo.
Dentre os tintos, há um varietal de pinot noir belíssimo e um Cabernet Franc. Este último, produzido por maceração carbônica, é uma explosão de fruta e frescor. Detalhe: é a cabernet franc mais austral do mundo. A produção atual da vinícola é de cerca de 7.000 garrafas, exportadas para restaurantes e lojas de vinhos em todo o mundo. Investimentos futuros visam alcançar 20.000 garrafas, anualmente.
Viñas de Nant Y Fall
Nant Y Fall, uma fazenda a 12 km de Trevelín, na Rota 259, famosa por suas paisagens deslumbrantes e proximidade com áreas naturais protegidas, agora também se destaca por seus “vinhos autênticos”. A família Rodriguez, liderada pelo patriarca Sergio, mudou-se para a região em busca de tranquilidade e acabou transformando o local em um ponto de referência para turistas.
O empresário, descendente de viticultores italianos do Friuli, teve a ideia de plantar mudas de pinot noir em 2010, uma jogada, à época, ousada, mas que provou ser um sucesso. Hoje, Nant Y Fall é líder na produção de vinhos em Trevelín e os investimentos para ampliação das instalações estão a pleno vapor.
Emanuel Rodriguez, filho de Sergio, e atual responsável pela elaboração dos produtos, enfatiza a genuinidade e pureza dos vinhos de Trevelín, que refletem fielmente o terroir local. Atualmente, eles cultivam pinot noir, gerwürztraminer, riesling e chardonnay. Tive a oportunidade de provar alguns deles.
O Riesling, ainda no tanque, chamou minha atenção. Ele será mantido em contato com as borras de leveduras, durante 1 ano, antes do seu lançamento. As notas de panificação, fruta tropical e querosene estão incríveis, além de ótimo volume e do frescor em boca.
O rosé de Pinot Noir, feito pelo método de prensa, é fresco, volumoso e elegante. Ao passo que os três Pinot Noirs da casa, Prim, Secont e Tierç (Primeiro, Segundo e Terceiro, em friulano), são deliciosos, apresentando características próprias, principalmente por conta do tempo de barrica (Prim é o único 100% sem barrica).
Fomos brindados com uma prova de seu Gewürztraminer 2023, que estava nos seus 10 dias pós fermentação. Ficou por 12 horas em maceração com as cascas, à baixa temperatura, para a potencialização de aromas. Ainda com borras e sem malolática, o vinho estava sensacional.
Os vinhos de Nant Y Fall são, em sua maioria, comercializados apenas por lá. A intenção é incluir o mercado externo, num futuro próximo.
Contra Corriente
A bodega Contra Corriente deve seu nome e filosofia à resiliência das trutas que, todos os anos, nadam contra a corrente, em busca do lugar ideal para depositar seus ovos. Seus fundadores, os amigos Rance Rathie e Travis Smith, naturais de Montana, nos EUA, estabeleceram-se na Patagônia Argentina, inicialmente como operadores de pesca esportiva, sua especialidade. Em 2013, decidiram “desafiar a correnteza” em outro ramo, investindo, então, na aquisição de vinhedos em Trevelín.
A propriedade conta com 4 hectares de vinha, plantados em solos que variam de aluviais a argilo-glaciais, com diferentes exposições à luz solar. As castas produzidas são pinot noir, chardonnay, gewürztraminer e riesling. Para a elaboração dos vinhos, dispõem de equipamentos modernos, barricas francesas e capacidade para produção de até 15.000l.
Impulsionada pelo potencial do clima frio da Patagônia para a produção de vinhos premium, a enóloga Sofia Elena, natural de Buenos Aires e uma especialista em pinot noir, se juntou ao projeto, em 2018.
Sofia nos conduziu por uma degustação de todas as safras de gewürztraminer (2018 a 2021), chardonnay (2017 a 2021) e pinot noir (2018 a 2021) produzidos na bodega. De maneira geral, pode-se perceber uma consistência no estilo e uma evolução na qualidade dos vinhos, num curto período de 5 anos. Aromaticamente, são elegantes e sutis; em boca, apresentam intensidade, tensão, persistência e o impressionante frescor característico da região.
Contra Corriente produz menos de 10.000 garrafas de vinho por ano. Os rótulos podem ser encontrados em alguns hotéis de luxo, restaurantes e wine bars da Argentina ou podem ser adquiridos diretamente na vinícola.
Finalmente, no nosso último dia em Chubut, nos dirigimos para o noroeste da província, rumo a El Hoyo e Lago Puelo.
Bodega Chacra Adamow
Iniciamos o dia com uma visita à Bodega Chacra Adamow, em Lago Puelo. Fomos recebidos por Pedro e Carina Hoya, os proprietários, que nos contaram que não possuíam experiência prévia na produção de vinhos quando adquiriram a propriedade, em 2008.
Em um terreno com uma inclinação de 50°, plantaram 5.500 plantas de pinot noir, em 2009, e sauvignon blanc, em 2010, totalizando 8.500 plantas até o momento. Apesar de não contarem ainda com a certificação orgânica, trabalham 100% de forma sustentável, seguindo a filosofia da mínima intervenção.
Apesar do início turbulento e desafiador e vencidos os desafios naturais impostos pela área virgem e extrema para a viticultura, os vinhos da Adamow tornaram-se uma realidade.
A privilegiada região permite a produção de vinhos mais frutados e precisos, com menos teor alcoólico e acidez marcante. O sauvignon blanc apresenta um perfil mais “verde”, com aromas cítricos, vegetais, aspargos e grama cortada. O pinot noir é frutado, delicado e fresco, com notas de frutas vermelhas e toque mineral.
A vinícola ainda não oferece hospedagem, mas os visitantes podem desfrutar de degustações e passeios pelos vinhedos. Devido à produção limitada, os vinhos da Bodega Chacra Adamow são vendidos apenas na vinícola e em Buenos Aires.
Bodega Ayestarán-Allard
Darío González Maldonado, engenheiro agrônomo e enólogo, tem uma longa trajetória em Chubut, onde trabalhou, por 19 anos, com Don Bernardo Weinert, o brasileiro pioneiro da vitivinicultura na Patagônia. Em 2016, ele se tornou diretor de enologia da Bodega Ayestarán-Allard, uma vinícola boutique focada na produção de vinhos premium, em El Hoyo.
Na bodega, são cultivadas variedades como chardonnay, sauvignon blanc, merlot, gewürztraminer, pinot noir e riesling. Em 2017, lançaram a linha Oriundo, que, de pronto, conquistou reconhecimento em concursos e degustações, na Argentina e no exterior.
O sucesso de Darío está enraizado na sua compreensão do terroir. Ele produz um notável “merlot de clima frio” em El Hoyo, onde os verões frescos e as amplitudes térmicas permitem uma maturação completa das uvas. Os solos argilosos e permeáveis acumulam água da chuva, eliminando a necessidade de irrigação artificial.
O Oriundo Merlot Gran Reserva 2020, que desgutamos, tem uma personalidade encantadora. De cor intensa, um rubi vivo, apresenta 15% de álcool, equilibrado por uma acidez marcante. Preciso no paladar, apresenta aromas de frutas negras, especiarias, tabaco, chocolate, além de uma deliciosa e fresca nota mineral. Imagine o impacto deste vinho numa pessoa proveniente de um país especialista em merlots. Foi uma grata surpresa e este foi um dos poucos rótulos que trouxe comigo para o Brasil.
Outro vinho singular é o Expreso Patagonico Orange de Chardonnay 2018, vinificado em contato com as cascas, sem adição de sulfitos ou estabilizantes microbiológicos, e envelhecido em barrica francesa, para maior complexidade e textura. É um vinho gastronômico e elegante, sem caráter oxidativo agressivo.
Apesar da popularidade da Pinot Noir dentre os produtores da Patagônia, Darío Maldonado não é um grande fã da casta. Assim sendo, ele a aborda de maneira não tradicional, submetendo o mosto a uma maceração pré-fermentativa de 48h, seguida de prensagem, no terceiro dia consecutivo. A fermentação ocorre nos moldes de um rosé, a uma temperatura de 20°C, aproximadamente. Na taça, o vinho é vermelhão e transparente, tipo um clarete. Muito frutado e fresco, o estilo disruptivo é único e original na região.
Fique de olho também no próximo lançamento da bodega: um espumante brut nature 100% riesling, batizado de “Paladar Negro”. Ele estará disponível no mercado a partir de outubro e será vendido por U$70 a garrafa. Provei e aprovei.
Mammarelli Wines
Os proprietários da Mammarelli Wines resgataram a tradição de suas raízes italianas e assumiram o desafio de produzir vinhos, primeiramente na Cordilheira Patagônica e, mais recentemente, na província de Mendoza.
Deram início ao projeto na década de 80, com a produção de frutas finas, como cereja e framboesa, e lúpulo, no vale do rio Epuyén. Em 2016, movidos por sua paixão e pela herança italiana, decidiram apostar na vitivinicultura, implantando um vinhedo de pinot noir e, num segundo momento, chardonnay.
Atualmente, incluíram experimentos com a torrontés, que apresenta uma acidez obviamente maior do que as cultivadas em outras regiões do país. Tentador o cenário para a elaboração de um espumante da casta, concorda? Pois é exatamente isso o que fazem e por método tradicional.
Além de varietais de chardonnay e pinot noir, por possuírem um braço do empreendimento em Mendoza, confeccionam um varietal de malbec e dois blends de castas e terroirs.
Os vinhos da Mammarelli são muito interessantes e contam, atualmente, com o talento da jovem enóloga Jenny Palacios, de apenas 22 anos, para a sua elaboração.
Patagonian Wines
Na nossa última parada em Chubut, fechamos, poeticamente, o ciclo. Explico.
A Patagonian Wines é a bodega pioneira da região. Seu fundador foi Don Bernardo Weinert, o brasileiro radicado na Argentina que iniciou a produção vitivinícola da Patagônia. O primeiro vinhedo, da variedade merlot, a preferida do enólogo, foi plantado em 1998.
A bodega está situada a 10 km ao sul do paralelo 42, a 300m acima do nível do mar e a 17Km da fronteira com o Chile. Possui 12,5 hectares, dos quais 10,5 são cultivados com merlot, pinot noir, chardonnay, riesling e gewürztraminer.
A enóloga Elza Guevara, há 20 anos no posto, chamou a atenção para o papel desempenhado pelas mudanças climáticas nas práticas agrícolas na região. Devido ao sensível aumento das temperaturas, nos últimos anos, castas tintas de ciclo mais longo, como a merlot, têm se adaptado muito bem.
Um detalhe interessante chama a atenção na bodega: além do uso do carvalho francês, incorporado em 2021, eles também fazem experiências com barris de acácia. Uma outra aquisição recente foi um foudre de 2.500l, que será usado, a partir deste ano, para o amadurecimento do vinho proveniente do vinhedo histórico da província, o embrião do trabalho de Weinert.
A Patagonian Wines tem uma produção de 80.000 garrafas por ano. O portfólio inclui as linhas Piedra Parada (sem madeira), Faldeo Del Epuyén (com passagem por madeira) e Cordillera (linha premium, com uso de carvalho e acácia). Também oferecem espumantes na linha Más Allá, cujo destaque é um rosé de merlot por método tradicional.
Foram três dias intensos e incríveis, amigo leitor. E depois de conhecer de perto esses arrojados visionários da viticultura, comecei a me perguntar o que o futuro reserva para esta região. Eis as minhas conclusões.
São pouco mais de 10 anos de investimentos e experimentos, baseados, sobretudo, em tentativa e erro. E este é apenas o início da jornada. Todo o potencial da região ainda está para ser descoberto e explorado.
Eu, pessoalmente, acredito que possam implantar novas castas, principalmente brancas e tintas mais “friorentas”. Lembrando sempre que a região se firmará, cada vez mais, como uma grande produtora de vinhos brancos de alta gama, distintos, únicos e longevos (a acidez natural vai se encarregar desta tarefa).
Aposto, firmemente, no aumento da produção de espumantes, inclusive como uma alternativa economicamente viável para driblar os desafios impostos pelo aquecimento global, que não está poupando região alguma.
Outro tópico importante é o enoturismo. Apesar da Patagônia ser um dos destinos preferidos para os amantes de aventura e turismo ecológico, será cada vez maior a presença de pessoas que amam unir viagens, vinhos e gastronomia. E este é um aspecto que ainda evoluirá bastante, principalmente com investimentos em infraestrutura e serviços.
Em suma, fui testemunha de uma história que começou a ser escrita agora. Estes são os primeiros rabiscos do primeiro capítulo da saga dos pioneiros viticultores de Chubut. Agrada-me a ideia de ser a primeira pessoa a contá-la para você.
Anote aí: num futuro muito próximo, os vinhos de Chubut estarão entre os mais cobiçados e celebrados do mundo.
Saúde e até breve!