Cidade Alta tem situação crítica


Por EDUARDO VALENTE E CAMILA CAETANO

30/09/2014 às 06h00- Atualizada 30/09/2014 às 09h31

Represa de São Pedro está com apenas 1% de sua capacidade

Represa de São Pedro está com apenas 1% de sua capacidade

Alex, que mora às margens da Represa João Penido desde que nasceu, diz que nunca viu a água ficar tão longe do quintal de sua casa

Alex, que mora às margens da Represa João Penido desde que nasceu, diz que nunca viu a água ficar tão longe do quintal de sua casa

A falta de chuvas continua resultando em prejuízos para as represas que abastecem Juiz de Fora. O caso mais grave está na de São Pedro, que ontem atingiu o patamar de 1% da capacidade de armazenamento. Esse manancial atende parte da Cidade Alta, o que significa 8% dos moradores do município. Mas a situação também preocupa em João Penido, que é a maior represa em funcionamento na cidade e atende cerca de metade da população local. De acordo com a Cesama, ela opera com 33% de água armazenada, 2% menor do que o registrado há uma semana. Já o Ribeirão Espírito Santo, conhecido como ETA- CDI, que é um manancial de passagem, permanece com a vazão baixa. Estes quadros já resultam em prejuízos e, ao longo de todo o fim de semana, moradores de condomínios e bairros da Cidade Alta sofreram com a falta d’água.

No condomínio Alto dos Pinheiros, uma moradora, que preferiu não se identificar, relatou que o problema ocorreu a partir do início da tarde de domingo. “Só consegui falar com a Cesama no domingo à noite, e a atendente admitiu que é desabastecimento.” De acordo com ela, a água retornou apenas às 3h30 da madrugada de ontem. Já na Rua Euclides Pezarine, no São Pedro, faltou água até a manhã de ontem. Na Avenida Senhor dos Passos, os moradores ficaram sem água na sexta-feira e no sábado, e ontem o abastecimento voltou a ser interrompido. De acordo com a dona de casa Elenice Krolman Mendes, 48, o retorno foi suficiente para encher a caixa. “O problema é que ela voltou muito suja.” A situação também ficou delicada no Residencial Colinas do São Pedro e nos bairros Caiçaras e Borboleta.

O diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, explica que o desabastecimento ocorre porque a água transportada dos outros mananciais para a Cidade Alta não está sendo suficiente para suprir a demanda que a Represa de São Pedro atendia. “As equipes estão trabalhando para tentar otimizar o sistema, mas, enquanto isso, poderemos ter falhas pontuais. Trabalhamos com a possibilidade de ter a pior situação possível, que é ficar sem a represa e sem chuvas.” Marcelo informou que atualmente saem 60 litros por segundo de água de São Pedro, o que representa a vazão dos córregos que ainda deságuam nela. “Água armazenada mesmo, já não temos.”

Caminhões-pipas

Outra medida anunciada para minimizar os transtornos entra em operação a partir de hoje. A estratégia é utilizar caminhões-pipas para transportar água de João Penido para a estação de tratamento do São Pedro. Esse trabalho deve começar na manhã de hoje e permanecer por tempo indeterminado. A ideia é que, desta forma, a água chegue a todos os moradores, sem privilegiar uma rua ou um bairro. No entanto, a companhia esclarece que, para atender todas as casas, inclusive aquelas em áreas mais altas, são feitas constantes manobras na rede, e, nesta atividade, pode ocorrer falta de abastecimento pontual em algumas moradias. “O importante é que toda a cidade economize água, principalmente naquela região do São Pedro. O consumo está muito acima do normal, por causa das altas temperaturas e baixa umidade, então é importante que se faça o uso racional do recurso.”

Marcelo explicou ainda que o transporte de água da parte baixa para a alta de Juiz de Fora será aperfeiçoado a partir do próximo ano. Isso porque até janeiro deverá ser inaugurada a subadutora do Bairro São Pedro, cujos trabalhos já estão concentrados na rede de distribuição. Além disso, a cidade terá ainda um reservatório de água no Caiçaras e uma unidade elevatória no Carlos Chagas.

Mato e terra no lugar de água na João Penido

Na Represa de João Penido, o quadro impressiona. O local onde fica a régua do manancial está completamente seco, e a água só é vista há cerca de dois metros de distância. Também chama a atenção a grande área de areia em volta do manancial. Em um sítio no entorno, o auxiliar de serviços Alex da Silva de Paula, 33 anos, se diz surpreendido. “Moro aqui desde que nasci e nunca vi a água ficar tão longe do quintal da minha casa”, mostrou ele ontem à reportagem, pisando na terra e na grama seca onde antes só se chegava a nado.

Conforme o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, não é possível afirmar que a quantidade de água armazenada é a menor da história, mas ele também não descartou a veracidade do depoimento do morador. “É difícil confirmar porque na represa ocorre um processo gradativo ao longo dos anos, em que as margens ficam mais rasas. Em termos de cota, o volume máximo suportado por ela pode ser diferente de anos anteriores. Este ano estamos com um terço da capacidade, mas ainda tem o volume morto”, disse, admitindo que esta reserva é pequena e tecnicamente difícil de captar.

Mas o percentual de João Penido não preocupa tanto quanto o de São Pedro. Isso porque existe a possibilidade de Chapéu D’Uvas, dez vezes maior, começar a operar nesse domingo, se os testes operacionais da semana forem satisfatórios. A entrada do novo manancial não deverá resolver os problemas da Cidade Alta neste primeiro momento, mas garante o abastecimento no restante da cidade. “Se estivesse pronta desde janeiro, já estaríamos poupando João Penido e São Pedro. Mas só vamos conseguir este benefício ao longo do ano.”

 

Baixa quantidade de chuvas

Dados da Estação Automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que no mês de setembro choveu apenas 3% do esperado pela média histórica. De acordo com meteorologista Ruibran dos Reis, do Instituto Climatempo, as precipitações deverão permanecer aquém do esperado nos meses de outubro e novembro. Já dezembro deverá ser acima da média. “São duas as explicações para isso. A primeira está no aquecimento global e a variabilidade climática. A outra está na formação do El Niño que se organizou no litoral Sudeste. Ele impede a aproximação das chuvas que atingem o Sul do país.”

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