Empresas de Juiz de Fora apostam em educação ambiental
Atividades envolvem conscientização sobre reciclagem e distribuição de materiais de coleta seletiva para catadores, além de gincanas com escolas públicas e privadas da cidade
Cada vez mais, empresas têm implementado práticas sustentáveis entre os princípios de desenvolvimento, em parte movidas pela preocupação socioambiental, às vezes como medida compensatória ou em outros casos por demanda dos consumidores. Tais medidas podem ser operacionais, econômicas ou sociais, voltadas para o público interno ou que envolvam a comunidade. Uma dessas atividades é a educação ambiental, fundamental para reduzir distâncias entre sociedade e natureza, pensando em modos de vida mais sustentáveis. Em Juiz de Fora, empresas estão apostando em projetos voltados para a educação ambiental com o compromisso de conscientizar a população e incentivar mudanças de hábitos.
Segundo a lei n° 9.795, de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, o termo se refere aos processos individuais ou coletivos que constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. A consultora ambiental Angélica Villar observa que a adoção da prática, no atual cenário econômico, não se trata apenas de uma estratégia de competitividade e sucesso organizacional, mas sim de sobrevivência.
“O desenvolvimento sustentável é um dos benefícios proporcionados pelas empresas, quando são desenvolvidas as atividades de educação ambiental. Esses projetos incentivam a cultura de coleta seletiva na cidade, além de ações de economia de água, energia e controle de queimadas. A partir dos treinamentos, os indivíduos impactados se tornam multiplicadores da informação e das práticas sustentáveis, atingindo não somente a comunidade no entorno, mas também toda a cidade”, aponta a especialista.
E-ambiental: ABC da sustentabilidade nas escolas
Unir o ambiental com o social é um dos propósitos da E-ambiental, empresa especializada na tecnologia reversa de resíduos que atua há mais de seis anos na Zona da Mata Mineira, sendo a única a oferecer o serviço de reciclagem de eletrônicos em Juiz de Fora. Já tem três anos que a empresa realiza um trabalho de educação ambiental em escolas públicas e privadas da cidade.
As atividades nas instituições de ensino funcionam como gincanas. Nelas, os colégios disputam entre si, e quem coletar o maior número de lixo eletrônico ganha uma sala de computador ou um valor em dinheiro. O computador é reciclado pela empresa, que monta aparelhos novos com peças que não estavam obsoletas. Segundo o proprietário da E-ambiental, Thiago Cunha, 95% dos materiais que chegam ao galpão não têm como serem usados com a finalidade para a qual foram criados, no entanto, podem dar vida a novos materiais através da reciclagem.
Na primeira gincana, os alunos abraçaram a ideia, se engajaram e conseguiram arrecadar mais de dez toneladas de lixo eletrônico. Além da brincadeira, a equipe da E-ambiental também oferece palestras de conscientização sobre a importância da reciclagem para as crianças. “Acredito que a educação ambiental começa junto com as crianças. Se plantarmos uma semente nelas, o nosso futuro será melhor.”
Latinha de Coca
A ideia de levar a educação ambiental para os alunos surgiu quando Thiago lembrou da época em que a Coca-Cola lançou uma campanha incentivando a reciclagem da latinha de alumínio. As escolas aderiram, e isso impactou o país, que hoje é o que mais recicla esse tipo de material no mundo, com cerca de 95% de coleta, embora tenha baixos índices de reciclagem em relação a outros resíduos. “Muitas vezes, a família não sabe o que fazer com um pilha, lâmpada, bateria ou celular, por exemplo, e os professores incentivam as crianças a repassarem essas informações e coletarem de casa. Isso mostra para os pais e para o colégio a importância de incentivar a nova geração”, afirma Thiago.
Para além do trabalho com escolas, a E-ambiental também incentiva a ressocialização de detentos no sistema prisional de Juiz de Fora há quatro anos. O grupo de detentos é contratado para fazer a triagem dos itens que chegam à empresa e, como contrapartida, recebe um terço do salário mínimo e, a cada três dias trabalhados, um é reduzido na pena. Mais de 400 pessoas já foram impactadas com o projeto, sendo alguns contratados ao final do processo.
“O índice de ressocialização no país é muito baixo, faltam políticas públicas e incentivos governamentais. Quando começamos, pouquíssimas empresas em Juiz de Fora empregavam detentos, existia um preconceito muito grande e ainda tem. Mas, depois que começamos, várias outras empresas viram que deu certo, dar uma oportunidade para mudar a vida deles, e esse movimento cresceu”, acredita Thiago.
Reciclagem, economia circular e educação
Há 60 anos, a Paraibuna Embalagens atua na produção de papéis, chapas e caixas de papelão através da reciclagem. Anualmente, são reciclados cerca de 200 mil toneladas de resíduos. Mas para além da sustentabilidade no reaproveitamento de materiais, a empresa promove dois projetos voltados para a educação ambiental da população. O primeiro, que recebeu o nome de Plantar e Colher, é direcionado aos catadores de recicláveis. A ideia é criar uma rede de atendimento e apoio a esses trabalhadores para conscientizar sobre coleta seletiva e economia circular.
O projeto oferece aos catadores carrinhos e kits de cestos para coleta de material, que possibilitam a separação dos resíduos de forma consciente, além de oficinas de artesanato. A coordenadora de Meio Ambiente da Paraibuna Embalagens, Fernanda Rocha, também destaca que, após a triagem interna, outros materiais que aparecem junto com papel, como plásticos e alumínio, retornam aos catadores, aumentando sua fonte de renda.
“Através do suporte oferecido aos catadores, demonstramos nosso compromisso na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, além de fomentar a cadeia de reciclagem. Também reforçamos a importância da economia circular, agregando valor ao produto final”, comenta Fernanda.
Visitas e oficinas
Outra ação promovida pela empresa, mas voltada para toda a comunidade, é o projeto EmbalandO Bem. Entre as atividades desenvolvidas estão oficinas gratuitas de artesanato com o reaproveitamento de materiais; visitação de alunos das escolas da cidade para entender o processo de reciclagem do papel; e o programa de educação ambiental nas escolas públicas, que promove trocas de informações sobre reciclagem e coleta seletiva com os alunos, com atividades como: oficina de papel reciclado e orientações de como separar os resíduos sólidos através da parceria com o catador.
“As ações visam fomentar a responsabilidade ambiental através das crianças, que se tornam defensoras da natureza e contribuem para disseminar as boas práticas da reciclagem, fortalecendo o entendimento do papel de cada um. Além de contribuir para que os alunos alcançados sejam multiplicadores do conhecimento em suas famílias. Através desse programa de educação nas escolas, estimulamos a visão por um futuro diferente, em que as pessoas tenham consciência maior ao consumir, fazendo escolhas mais inteligentes”, ressalta a coordenadora.