Juiz-forano tira nota máxima na redação

Luis Arthur se dedica ao quarto livro somente este ano
A estante repleta de clássicos da literatura fantástica, como J.R.R. Tolkien e George R.R. Martin, e ainda de best-sellers, como as obras de Dan Brown, demonstra o apreço pela leitura. O espaço disponibilizado para os livros no quarto do juiz-forano Luis Arthur Haddad, 19 anos, é um reflexo da paixão que desenvolveu desde criança. “Já estou lendo meu quarto livro este ano.” A consequência disto foi a obtenção da nota máxima (mil) no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014, proeza realizada apenas por 250 candidatos em um universo de 6,19 milhões que prestaram a prova. O resultado do exame foi divulgado na última terça-feira pelo Ministério da Educação (MEC).
Durante todo o ano passado, Arthur se dedicou integralmente aos estudos. Além das aulas pela manhã e atividades extra-turno da escola, ele costumava estudar cerca de sete horas em casa, e ainda fazia um cursinho de redação particular. Para o estudante, além da constante leitura, o resultado é fruto da prática da escrita. “Fazia duas redações por semana e lia bastante. Como era ano de vestibular, me dediquei mais às apostilas, mas estava sempre acompanhando os jornais.”
O tema da redação de 2014 foi “Publicidade infantil em questão no Brasil” e, para conduzir a escrita, Arthur optou por utilizar referências históricas. “Achei interessante mencionar a história dos meninos de Esparta, que, desde novos (a partir dos 7 anos), eram obrigados a se preparar como guerreiros. Hoje em dia, a infância é vista de uma forma completamente diferente, e existe toda uma preocupação com o que é veiculado na mídia, além da influência que isto causa nos jovens”, explica.
Arthur, que estudou a vida inteira no Colégio Santa Catarina, conta que repetiu de ano na sétima série, algo importante para desenvolver outra paixão: a matemática. Ele pretende se candidatar a uma vaga para o Curso de Engenharia Elétrica da UFJF. “Minha nota no Enem foi boa, acho que dá para passar no curso.” Entretanto, ele também aguarda o resultado do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism), que será divulgado em fevereiro, para optar por qual nota poderá lhe render uma cadeira na universidade.
Para a supervisora do ensino médio do colégio, Mariângela Guedes, é primordial o trabalho de estímulo à leitura com o aluno desde as séries primárias. “Oferecemos oficinas, bibliotecas infantis e redações com frequência. Trabalhamos temas como atualidades, textos literários, jornalísticos, sempre adequando àquela faixa etária.”
JF sem incentivo à escrita
Nesta edição do Enem, um dado chamou a atenção de educadores: do total de inscritos, 529 mil zeraram a redação. Sobre esta questão, a professora de redação do ensino médio Cláudia Vitoretti acredita que Juiz de Fora possua uma situação particular. O fato de o Pism nunca ter exigido redação, bem como o vestibular da UFJF ter extinguido a matéria, pode ter contribuído na redução do interesse por este conteúdo. “Percebi que, nos últimos dez anos, houve um desinteresse pela redação. Quando instituíram o Enem como obrigatório, os alunos correram atrás do prejuízo. Mas escrever não é algo que se aprende da noite para o dia. O bom da mudança é que está os incentivando a escrever.”
Já a professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da UFJF, Ilka Schapper, questiona a oferta da literatura atual para os jovens, buscando entender a dificuldade no desenvolvimento de textos. “Eles estão usando mais a internet, o que é bom e não deixa de ser um ganho cultural. Temos adolescentes altamente engajados, criativos, pessoas cada vez mais jovens que desenvolvem aparatos tecnológicos, criando aplicativos, por exemplo. Mas devemos pensar: qual o espaço para a leitura e escrita de livros que temos hoje? Devemos nos questionar o que está disponibilizado e o que a criança tem acesso. Elas estão lendo sim, mas normalmente procurando aquilo que é ofertado, e menos os grandes clássicos, como Dom Quixote, por exemplo, e as grandes narrativas.”
Dicas
Para Cláudia, apenas a leitura não resolve. É necessário prática e repetição. A dica para desenvolver uma boa redação está pautada em quatro quesitos básicos: “Ler sempre, sejam livros clássicos, leituras prazerosas ou notícias; praticar a escrita, repetir e aprimorar com frequência semanal; ter conhecimento em teoria argumentativa; e dedicar-se à prática.”