Domingo é dia de ‘sim’ para 173 casais em Juiz de Fora
Na segunda edição pós-pandemia, é a primeira vez que imigrantes participam da iniciativa
O grande dia do sim é esperado por muitos casais, e 173 vão consumar seus votos neste domingo (28) no Parque Municipal. Esta é a segunda edição do “Bem Casados” no pós-pandemia, e o número de casais contemplados é uma homenagem ao aniversário de Juiz de Fora, comemorado no dia 31 deste mês. Como previsto no edital lançado em fevereiro, inicialmente ocorreram as admissões dos casais atendendo aos requisitos exigidos e, no segundo momento, organizou-se a oficialização no cartório. A festividade faz parte da terceira e última etapa do projeto, celebrada neste domingo.
Cada casal contará com um bolo, decorado por confeiteiras da cidade, além de uma mesa para dez convidados. Os doces típicos, como o bem-casado, foram produzidos por 15 jovens do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora. A comemoração contará, ainda, com mais de dois mil brigadeiros. As noivas tiveram direito ao tradicional dia delas. Além disso, lojas especializadas em moda para casamentos realizaram doações, sendo 30 vestidos de noiva, 22 sapatos, 29 trajes para as damas, 30 véus e 23 acessórios para cabelo.
Para Fabiana Rabelo, assessora da Secretaria Especial de Direitos Humanos, a regularização da situação civil e matrimonial é uma potente ferramenta para viabilizar o acesso a direitos primordiais. “O casamento comunitário, ao permitir que aqueles em situação de vulnerabilidade econômica efetivem sua união civil gratuitamente, serve como recurso garantidor de segurança social e jurídica, podendo, assim, existir o exercício pleno da cidadania.”
Casais imigrantes estreiam no projeto
O casamento comunitário estima o afeto dentre as mais diversas pessoas. Desta vez, o ineditismo está com a participação de casais de imigrantes latino-americanos. No ano passado, a edição realizou, pela primeira vez, a união de casais do mesmo sexo.
Raquel Oliveira, 34 anos, e Karina Reis, 38, se conheceram na festa de uma amiga em comum em 2018, trocaram celulares e estão juntas desde então. Prontas para dizerem o tão esperado “sim”, para elas, o casamento tem sentido ainda mais especial, uma vez que irá auxiliar no reconhecimento jurídico da filha, Maria Laura, de 2 anos. “Tivemos a nossa filha por inseminação, e o processo para registro com o nome das duas mães ainda é bem complicado. A certidão de casamento vai ajudar muito.”
A representatividade dentro do projeto também é importante na promoção de respeito e equidade com pessoas LGBTQIA+. “Nós já percebemos que não somos as únicas mulheres a se casarem. Isso é muito legal e importante. Estamos nos sentindo incluídas e consideradas, mostrando que não existe nenhuma diferença”, comenta Raquel. Para Fabiana Rabelo, o trabalho da Secretaria de Direitos Humanos visa a ser um sólido aparato de assistência a fim de garantir que a lei seja cumprida. “Fornecer o registro é diminuir a discriminação.”
Sonhar com casamento é sonhar com acessibilidade
Silvana Gomes tem 48 anos e Washington Oliveira, 44. Os dois se conheceram no trabalho há 20 anos. O sonho do casamento civil, tão distante, vinha sendo germinado, bateu na trave, até que se tornou realidade. “Nós já buscávamos o projeto há um bom tempo. Ano passado fiquei sabendo, mas chegamos lá e todas as vagas já tinham sido preenchidas. Nesse ano, quando eu vi a data das inscrições, eu e ele saímos de casa às 4h da manhã pra chegar na fila. Hoje posso dizer que somos a senha número 1 para o casamento no domingo.” A situação de legalidade perante o Estado é um dos fatores que mais influenciam a decisão. “A gente precisa dar sequência na vida, como tentar comprar um imóvel e, muitas vezes, pela nossa união não ser reconhecida, é bem mais difícil.”
“Nunca passou pela minha cabeça que fosse possível eu me casar um dia”, comenta Simone Moreno, 49, sem esconder a emoção, ao lado de Paulo Roberto, 48. O casal foi apresentado um ao outro em um churrasco e, se o coração de Simone se amaciou, foi graças à persistência de Paulo, que não se resignou mediante a inicial – e intensa – relutância da noiva. Este episódio ocorreu há onze anos e hoje eles aguardam ansiosos o momento de percorrer o tapete vermelho no Parque Municipal.
Estar anos e anos em uma relação é enfrentar plurais adversidades, incluindo os entraves burocráticos de união entre pares. O pagamento dos emolumentos cartoriais, por exemplo, ainda é uma barreira que impede muitos casais de realizarem esse desejo. Também foi assim para Thamara da Silva, 28, e Denner Soares, de 27. Eles se conheceram na adolescência e ficaram separados por um intervalo de cinco anos, mas há três se reconectaram e tiveram uma filha.
Para Thamara, a pertinência do projeto reside em seu papel social de facilitador de acesso e realizador de sonhos. “A iniciativa é muito importante. Só o Denner consegue trabalhar fixamente e, com isso, a acessibilidade para um casamento pago é bem mais difícil. A organização desse jeito ajuda as pessoas que querem realizar a união.” Legitimar o casamento, para o casal, também é realizar um desejo perante a Igreja: “Tomamos a decisão de casar para entrar nos conformes da nossa religião.”