Especialistas alertam para incidência de vírus respiratório que afeta crianças

Maio marca início de sazonalidade do VSR, que pode levar a casos graves em menores de 2 anos


Por Tribuna

26/05/2023 às 07h59

Com a queda da temperatura e a baixa umidade do ar, a proliferação de vírus causadores de doenças respiratórias tende a aumentar. O mês de maio marca o início do período de sazonalidade do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que, apesar de acometer pessoas de todas as idades, tende a apresentar quadros mais graves em crianças menores de 2 anos. Apesar de não haver uma vacina específica para este vírus, especialistas alertam para a importância da imunização contra outras doenças, como gripe e Covid-19, para reduzir o desenvolvimento de outros problemas respiratórios.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Juiz de Fora teve 26 pessoas internadas em 2023 por conta de infecção causada pelo VSR. Deste número, 11 foram em março. Também este ano foi registrado um óbito causado pelo vírus na cidade. O balanço refere-se até o dia 11 deste mês.

Já em 2022, foram 95 casos em todo o ano, sendo que, até maio, o número de internações chegou a 50. No ano passado, o pico da doença ocorreu em junho, quando ocorreram 21 internações pelo VSR na cidade (ver gráfico). Não houve registros de óbitos pela doença em 2022. Como destacado pela SES-MG, os dados são parciais, assim, estão sujeitos a alteração e revisão.

Conforme o pediatra e infectologista Mário Novaes, a incidência da doença pode variar por conta de fatores como temperatura e umidade do ar. “O pico maior, pelo menos no ano passado, foi em junho. Nós estamos em maio e já há um número de casos mais elevado, com internação.”

virus respiratorio FELIPE COURI
Rosimar Cirino faz questão de manter a vacinação da pequena Beatriz, 1 ano e 5 meses, em dia (Foto: Felipe Couri)

Testagem só em caso de internação

Como só há testagem em casos de internação, é possível que haja subnotificação dos casos de VSR. Além disso, não é possível diferenciar a doença entre outras respiratórias apenas pelos sintomas. Isso só é feito a partir dos exames laboratoriais. “Em muitas dessas infecções, a criança tem poucos meses de idade. Às vezes, ela tem uma sintomatologia menor e é tratada como uma gripe comum ou como outra doença respiratória.”

Apesar de não haver uma vacina contra a VSR, o infectologista destaca a importância de se imunizar contra as demais doenças, como gripe e até mesmo Covid-19, para auxiliar no diagnóstico e no tratamento. Conforme Novaes, a cobertura vacinal dessas infecções está abaixo do esperado em todo o país, o que mantém os vírus circulando e ainda pode levar ao surgimento de outras variantes. “Se a criança for vacinada contra a gripe e for vacinada adequadamente contra a Covid-19, de acordo com a idade, já são duas coisas que eu posso ‘tirar do meu diagnóstico’ e focar na VSR, porque o tratamento é completamente diferente para as três doenças.”

Crianças que nasceram com menos de 28 semanas de idade gestacional ou que tenham Cardiopatia Congênita ou Doença Pulmonar Crônica da prematuridade descompensadas são altamente vulneráveis e correm risco de desenvolver quadros graves em caso de infecção por VSR. Nestes casos, o Ministério da Saúde recomenda uma prevenção feita com o anticorpo monoclonal Palivizumabe, que é aplicado mensalmente durante cinco meses no período da sazonalidade.

Sintomas

Os sintomas mais comuns de infecção por VSR são febre baixa, dor de garganta, dor de cabeça e secreção nasal. Em casos mais graves, podem ocorrer febre alta, tosse persistente, dificuldade para respirar, chiado no peito, lábios e unhas arroxeados. Nestes casos, a recomendação do Ministério da Saúde é que os pacientes procurem uma Unidade Básica de Saúde para o primeiro atendimento.

Casos em Minas Gerais

Em todo o estado de Minas Gerais, foram 1.005 internações por VSR em 2023 até o dia 11 de maio. O número representa mais da metade do que foi registrado no ano todo de 2022, quando houve 1.874 casos. O pico de infecções com resultado positivo no estado ocorreu em maio, com 249 internações.

Em relação aos óbitos, Minas confirmou 25 durante 2022. Já em 2023, 12 pessoas morreram por infecção pelo VSR no estado.

Boletim da Fiocruz alerta para aumento de casos

O último boletim do InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) trouxe um alerta para o aumento das internações de crianças por VSR no Brasil. Nas quatro semanas que antecederam a divulgação do documento, no último dia 3, o vírus foi responsável por 48,6% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com resultado laboratorial positivo. A doença ultrapassou, inclusive, as infecções por Covid-19, que representaram 29,5% dos casos de SRAG.

“Entre a população adulta, embora o Sars-CoV-2 mantenha-se predominante, já se observa sinal de redução do impacto desse vírus. Em contrapartida, é possível observar aumento recente nos casos associados aos vírus influenza A e B em diversos estados. Já nos pequenos (crianças até 2 anos), o vírus sincicial respiratório segue gerando um volume muito grande de internações em todo o país, superando inclusive os casos notificados de SRAG por Covid-19 que afeta todas as idades”, avalia o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, por meio da Fiocruz.

Como destacado pelo pesquisador, pais ou responsáveis pelas crianças devem ficar atentos aos sintomas. Caso elas fiquem com o peito chiando ou apresentem dificuldade em respirar, é importante levá-las para atendimento médico para evitar o desenvolvimento de quadros mais graves. Além disso, o uso de máscaras para evitar contaminação e transmissão, além de manter a vacinação para outras doenças em dia, também é recomendado.

“Embora para o VSR ainda não tenhamos vacina disponível, levar as crianças para tomarem as vacinas contra a gripe e contra a Covid-19 reduz a chance de elas terem problemas respiratórios por esses outros vírus que também são perigosos. Isso diminui a própria exposição das nossas crianças ao sincicial nos hospitais e postos de saúde”, aponta.

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