UFJF ainda tenta vender trenó de montanha
Adquirido há quase dez anos para o Jardim Botânico, equipamento nunca foi utilizado e se tornou problema para a Universidade
A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) volta a tentar vender o trenó de montanha completo comprado há cerca de dez anos. O equipamento foi adquirido para ser instalado no Jardim Botânico da instituição, mas o projeto acabou abortado por falta de condições técnicas e ambientais. No momento, o trenó está disponível em um leilão realizado exclusivamente on-line, que será encerrado no dia 9 de fevereiro. Segundo a descrição constante do site APA Leilões, o trenó da montanha nunca foi usado. O preço inicial estipulado para o equipamento é de R$ 1.605.184,19 e os lances estão abertos.
Esta não é a primeira vez que a UFJF tenta se desfazer do trenó de montanha comprado em 2013, mas nunca usado. Pelo menos dois outros leilões foram abertos, em dezembro de 2021 e em junho de 2022. Nas duas ocasiões, o preço inicial do equipamento também foi definido em R$ 1.605.184,19, mas nenhum possível interessado apresentou proposta com o valor mínimo.
Os leilões são consequências da decisão da UFJF, que abortou a intenção de instalar um trenó de montanha no Jardim Botânico. Segundo a Universidade, o equipamento foi adquirido em 1º de setembro de 2013, por 284.818,19 euros. Na cotação da época, o custo foi de cerca de R$ 889 mil. Em valores atualizados pela inflação acumulada na última década, este valor se aproximaria de R$ 2 milhões.
Os custos com o projeto para a instalação do trenó da montanha podem ser maiores, conforme relatório final da comissão de sindicância investigativa instaurada pela UFJF em novembro de 2017 para apurar e analisar dados orçamentários e financeiros relativos ao contrato de número 192/2012, firmado pela UFJF para a instalação de equipamentos de lazer no Jardim Botânico.
Terceira tentativa
O relatório final da sindicância aponta que, além dos custos de aquisição do equipamento, existiram gastos com o projeto executivo e com a importação. O mesmo documento aponta que, em setembro de 2013, as despesas com o trenó de montanha chegavam a R$ 2.171.360,25. Corrigido pela inflação, com base no IPCA, índice calculado pelo IBGE, este valor correspondia a R$ 4.836.192,95 no final de 2021.
O relatório final da comissão de sindicância aponta que três ordens de compra compõem as despesas com o trenó de montanha: a OC 002/2013, no valor de 257.195,30 euros, referentes à compra do equipamento (valor que difere, para menos, do informado pela UFJF); a OC 003/201, de 257.195,30 euros, referentes ao projeto executivo; e a OC 006/2013, de 207.199,39 euros, referente a despesas de importação do trenó de montanha.
Em nota encaminhada à reportagem, a UFJF informou que “faz a terceira tentativa de alienação do equipamento denominado de Trenó de Montanha”. “A realização do leilão é de responsabilidade de leiloeiros oficiais contratados pela UFJF, porém é preciso ressaltar que as comissões pelo possível arremate do equipamento serão de responsabilidade do arrematador. O valor de R$ 1.605.184,19, como lance inicial, foi definido por equipe técnica da Universidade e aprovado nas instâncias da UFJF. O equipamento em questão encontra-se em depósito da própria universidade”, diz a nota.
Há um ano, UFJF classificou o projeto como ‘equivocado’
Há quase um ano, em reportagem publicada em fevereiro, a instituição afirmou que o total de gastos constantes no documento “não se referem a equipamentos, mas a estudos e desenhos de montagem do equipamento, levando-se em consideração a topografia e a flora do local”. “Não há condições técnicas nem ambientais para sua instalação. Foi equivocado o projeto e, por colocar em risco ambiental a flora e a fauna do Jardim, o Consu autorizou o fim do projeto, com o desfazimento (venda) dos equipamentos adquiridos”, pontuou a instituição à época.
Na ocasião, a UFJF afirmou ainda que as discussões sobre a instalação dos chamados “equipamentos de lazer” do Jardim Botânico têm sido tratadas há vários anos. Assim, algumas decisões já foram tomadas e aprovadas pelo Conselho Superior (Consu). “É o caso do chamado ‘trenó de montanha’, cujo desfazimento foi aprovado pela Resolução nº 54.2020, de 30 de outubro de 2020”, disse a universidade.
Para autorizar a alienação, a resolução cita avaliação realizada pelo Conselho Técnico do Jardim Botânico da UFJF. De acordo com o dispositivo, a análise considerou que “o equipamento é dispensável para as atividades e planos de Educação Ambiental vislumbradas pelo Jardim Botânico”. Ainda foi apontado que parecer da equipe técnica formada por especialistas do Jardim Botânico “indicou que os impactos ambientais seriam negativos, prejudicando a fauna e flora do local (que é uma unidade de conservação e de pesquisa) com sérios riscos de acidentes”, reforçou a UFJF naquela oportunidade.
Teleférico
O projeto inicial do Jardim Botânico também previa a instalação de um teleférico. As cabines do equipamento chegaram a ser adquiridas pela UFJF, mas nunca chegaram ao país, permanecendo, há cerca de oito anos, armazenadas na Suíça. Em relação ao equipamento de lazer, há um ano, a UFJF disse que os estudos de viabilidade técnica estão em fase de elaboração, e, só depois da conclusão deste relatório, o assunto será analisado pelo Consu, que tem o poder de decisão e de encaminhamento. Agora a Universidade voltou a reforçar que, “sobre o teleférico, as questões ainda se encontram em demandas judiciais”.