No mĆŖs de dezembro, com a celebraĆ§Ć£o do Natal e proximidade de mais um fim de ano, somos fortemente estimulados pela mĆdia, de um modo geral, a consumir, gastar o nosso dinheiro. SĆ£o compras e mais compras. “Ć sĆ³ uma lembrancinha, nĆ£o repara, nĆ£o.” Ć o que mais escuto nas relaƧƵes familiares e de amizades, atingindo o mĆ”ximo nos “amigos ocultos”. AlĆ©m do estĆmulo ao consumo, esse perĆodo do ano tambĆ©m nos convoca – Ć© a impressĆ£o que eu tenho – a promover um balanƧo geral da nossa vida. AlĆ©m das empresas comerciais, que habitualmente promovem uma retrospectiva financeira, despesas e receitas, um movimento parecido acontece com as pessoas, com a gente: quais foram as perdas e os ganhos conquistados ao longo do ano?
Eu penso que Ć© muito importante ter, caro leitor e leitora, nĆ£o sĆ³ nesse momento, quando o ano estĆ” acabando, mas em todos os meses, na verdade, em todos os dias, uma revisĆ£o geral da nossa vida. Do levantar da cama atĆ© o adormecer. Como foi o meu dia de hoje? Estou me aproximando ou me afastando cada vez mais do que eu desejo ser para mim? Ou antes mesmo de levantar essas perguntas, apresentar outras: qual Ć© o nosso lugar no mundo? Como podemos ser bem lembrados? O que Ć© ter propĆ³sito de vida?
Eu desejo afirmar que o trabalho social e pĆŗblico desenvolvido com parte da populaĆ§Ć£o idosa da cidade abriu meus olhos e mente para o necessĆ”rio e contemporĆ¢neo ativismo polĆtico da longevidade, ao lado de tantos outros e outras profissionais da geriatria e da gerontologia na luta cotidiana para sensibilizar juiz de fora na educaĆ§Ć£o para o seu envelhecimento, principalmente, se considerarmos, o grande nĆŗmero de pessoas idosas que vivem na cidade. SĆ£o mais de 100 mil pessoas.
Ter um propĆ³sito de vida, respondendo ao tĆtulo dessa coluna, entre outras abordagens, Ć© devolver em atenĆ§Ć£o, respeito, amor e polĆticas pĆŗblicas tudo aquilo que as pessoas idosas, nossos ancestrais, fizeram por nĆ³s, por nossa famĆlia, por nossa cidade e pelo nosso paĆs. Com seus sacrifĆcios, falta de grana, renĆŗncias diversas, negligĆŖncias pessoais e cuidados primĆ”rios de vida. Sem elas nĆ£o existirĆamos. TĆ” na hora de devolver. O tempo Ć© agora de a gente construir e deixar para as pessoas idosas de hoje e para as geraƧƵes futuras um legado que consolide a existĆŖncia social e coletiva de uma solidariedade intergeracional. Uma cidade para todas as idades!
Eu nĆ£o me canso de falar isso por aqui, nĆ£o me canso de escrever nas colunas, que Ć© preciso construir o nosso futuro, a nossa velhice, desde cedo. As nossas e nossos representantes precisam ter uma visĆ£o de futuro para alĆ©m do tempo de seus mandatos. Precisamos fazer um planejamento de vida para alĆ©m do que nossa visĆ£o fĆsica alcanƧa. Ć imprescindĆvel cuidar da nossa saĆŗde fĆsica, mental, financeira, emocional, espiritual.
E para isso acontecer Ć© fundamental ter a participaĆ§Ć£o de todo mundo, do poder pĆŗblico, da comunidade e das prĆ³prias pessoas idosas no exercĆcio polĆtico de sua organizaĆ§Ć£o para que a cidade cumpra efetivamente o Estatuto da Pessoa Idosa, que, no prĆ³ximo ano, completa 20 anos de sua presenƧa no paĆs e pouco ou quase nada mudou para melhor a vida da populaĆ§Ć£o idosa. Pelo contrĆ”rio, nesse tempo, a vida piorou: estamos mais velhos e mais pobres.
Penso que o nosso maior desafio Ć© fazer o futuro – o meu e o de todo mundo – numa sociedade tĆ£o imediatista e tĆ£o curta. E para essa mudanƧa acontecer e na qual eu acredito, as pessoas idosas nĆ£o podem ficar de fora.